Kalmia

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— Onde é a saída? Tem ônibus por aqui?

A garota perguntou a única pessoa que viu na rua.

— O ponto é na rua debaixo.

Ada era um verdadeiro vulcão de emoções. Seu temperamento explosivo era parte de quem ela era, e seria precipitado condená-la. Pela intensidade dos sentimentos, era totalmente entregue.

Nunca soube amar pela metade. Para seus sobrinhos, irmãos e amigos, não era um problema, pois para todos no casarão, ela era tudo: vibrante, calorosa, sempre disposta a cuidar e lutar por eles.

No entanto, o temperamento também vinha com confusões. Ada tinha um gênio forte, e o preço de sua intensidade era, às vezes, alto demais. Esse já era o terceiro emprego que perdia por não conseguir conter as palavras e controlar os impulsos.

Quando chegou no ponto de ônibus, ainda enfurecida, chutou os bancos e xingou a si mesma:

— Que boca Ada, que boca, viu. Não sabe ficar de bico fechado?! — Gritou para si mesma ouvir. — O que vou fazer agora?

Continuaria brigando, mas Sofia insistia em ligar. 

— Oi, Sôsô. — Atendeu a ligação um pouco mais calma. 

— É difícil atender o celular, Ada?

A melhor amiga era calma, ponderada, e talvez por isso se davam tão bem, todavia naquele momento, até ela parecia impaciente.

— Desculpa, esse trabalho é bem cansativo. — Mentiu. Não contaria que perdeu o emprego. Todos em casa contavam com o dinheiro. — Conseguiu resolver com Nico?

— Mais ou menos. — Ada reconheceu o suspiro cansado. — Tinha um trocado na conta, mas precisei pedir emprestado e a moto agora está no nome da Sra. Calixto. Achei mais seguro. 

— Fez o certo. — Respirou fundo concentrando-se nos seus sentimentos. — Que vontade de matar esse garoto. 

Nico era mais velho, porém, às vezes se comportava como um adolescente.

— Nem pense nisso, temos muitas bocas para alimentar. — Brincou esperando ouvir a risada dela. — Ele é encrenqueiro, mas ajuda com as contas.

— Vou continuar aqui, te vejo mais tarde.

Desligou o celular e se sentou no banco, ainda com a cabeça a mil. Como gostaria de voltar no tempo. Queria estar segundo uma vassoura e não sentada esperando o ônibus.

Dizem que a vida ensina com o tempo que, com o passar dos anos, o amadurecimento e o crescimento vêm. Entretanto, Ada não teve esse privilégio. Precisou aprender na marra. Se não gritasse, não seria ouvida, se não exigisse respeito, ninguém daria por simples bondade. Teve que mudar para não ser devorada. Atacar para não ser uma presa fácil para a realidade que a cercava.

— Ei, menina! — Uma voz ofegante interrompeu seus pensamentos. — Você anda muito rápido. 

— Fabrício? — Estranhou a presença do jardineiro com quem trocou poucas palavras. — O que faz aqui?

— Você é a garota mais louca que já conheci. — Sentou ao lado dela.  

— Veio até aqui só para me insultar? — Olhou indignada para o homem que ainda estava com as mãos sujas de terra. — Isso, chuta o cachorro morto. 

Fabrício apenas riu a observando com um brilho no olhar.

— Você é como a Kalmia. 

— Como é? Sou o quê?

Voltando a postura agressiva, o olhou pronta para brigar. 

— Kalmia. É uma flor. É linda e extremamente perigosa. 

Os AlonsosOnde histórias criam vida. Descubra agora