SL. Alonso

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Quando Pedro se mudou para o Rio de Janeiro, ele não tinha ideia de que um dia estaria entre os “Altos níveis da cadeia alimentar.” Na verdade, sua primeira lição na cidade foi que, para sobreviver, você tinha sorte se ao menos pudesse ser uma planta – invisível, ignorada, mas viva.

Ainda se lembrava. O falecido sogro conseguiu um emprego para ele em um restaurante no Leblon. Foi limpando o chão que conheceu muitos ricos e descobriu que existia um mundo maior do que aquele que Raquel lhe apresentou. E foi de lá que ele vislumbrou algo maior.  Dali foi para o Banco Central e estabilizou a família na desejada classe média. Pensou ser suficiente, mas quando outra vez percebeu a oportunidade de crescer, não resistiu. 

Com a ajuda de empréstimos bancários e dos contatos que acumulava entre a elite carioca, Pedro fundou o SL Alonso, um hospital que começou pequeno, mas que logo cresceu de forma extraordinária. O ousado empreendimento cresceu exponencialmente e se tornou um dos maiores prédios hospitalares, que abrangia preciosos metros quadrados na Gávea. Não era mais um hospital, o lugar enriqueceu bolsos e se tornou ambiente para um 1% da população.

— Bom dia, Sofi e Nico?

Enquanto Pedro enfrentava sua própria batalha no império, Daniel, namorado de Mabel, foi acionado para estar no terceiro andar hospitalar e viu rapidamente os vizinhos. Imaginava encontrar Sofia, mas não o motoboy com ar convencido. 

— Dani, pensei que você só trabalhasse à tarde.

Sem nada urgente para fazer, Sofia se preocupou com as unhas e com a conversa do irmão. 

— Eles tinham uma vaga e decidi aceitar. Não fala para Mabel, pode ser?

A namorada o queria longe das empresas do pai, por isso implorou. 

— Daniel, não conta a ninguém, mas com essa cara, consegue o que quiser. — A piada fez as bochechas dele corarem. — Não se preocupe, não vou contar a ninguém. Por que te ligaram? O hospital está vazio hoje.

— Sim, percebi isso. Por quê?

— O reitor da universidade está aqui. — Nico respondeu, mostrando o noticiário. — Só esperando morrer. 

— Nico!

Foi repreendido, porém, os que estavam por perto riram.

— Aquele que foi atacado?

A fofoca é e sempre será a centelha de qualquer conversa.

— Sim, está na sala cirúrgica.

— Claro que iam trazer o filho do empresário para cá.

Resmungou.

— Ele não é o primeiro. — Pedro falou como quem não quer nada. — Mês passado, a afilhada daquele arquiteto foi assassinada, encontraram morto o sobrinho do chefe da imobiliária da Barra e, semana passada, o único herdeiro dos Lombades. 

— E daí? Pessoas falecem o tempo todo. 

— Não metade do PIB brasileiro. — Nico conseguiu atrair a atenção dos que estavam à sua volta. — Essas famílias são ricas há três gerações ou mais e sabe o mais interessante? Nenhum deles tinha filhos. 

— O Mauricio é um Luxemburgo. 

Daniel deu seu pitaco. Sem nada para fazer, fofocar era a melhor das alternativas.

— Era motorista dele. O ricaço também não tinha herdeiros, por isso tratou o garoto como filho.

— Como sabe tanto Nico?

Daniel fez uma pergunta oportuna. Sempre viu o vizinho como um menino imaturo que brigava por qualquer motivo. 

— Se chama ser à toa. — Sofia interrompeu. — Bom, a bomba está com eles, podemos seguir nossas vidas normalmente.

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