dois

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Kayque

Segunda-feira, 09 de Outubro, Rio de Janeiro.

O pior bagulho é ficar sem trampo, final de ano chegando e tu sem um puto no bolso pô.

Tinha sido mandado embora da mecânica que eu trabalhava, o seu Luiz faleceu e a mulher dele não sabia como cuidar da mecânica, mó dó.

Engraçado que a primeira oportunidade os cara te chama pro desacerto, sai fora, prefiro ficar sem grana do que roubando pai ou mãe de família, estou só esperando a grana cair que vou comprar um fardo de água e desço pra praia pô, sem tempo ruim pra trampo.

Joguei a camisa no ombro descendo da laje e ouvi a voz da minha avó falando no celular altão mané.

Neusa: Ou shiu tu mermo, fala com a Filipa aqui que não tô entendendo nada — ela estendeu o celular dela mais quebrado que a cara das talarica do morro, peguei o celular e a maluca da Filipa seguia falando.

— Fala marmita do Henrique — falei gastando ela.

Neusa: Respeita tua prima Kayque e não fala desse moleque dentro da minha casa — fiz careta rindo.

— Calmô dona Neusa, vai infartar aí pô — falei vendo ela pegar o pano de prato pra me bater.

Sai da cozinha porque minha avó parecia criança, sem maturidade nenhuma, me pentelhava mermo.

A Filipa me explicou que tinha surgido uma vaga no escritório que ela trabalhava lá, que era de faxineiro e eu ligava? ligava nada, trabalho digno com carteira assinada, quero mais nada pô, mas que eu tinha que ir hoje fazer a entrevista.

Tomei um banho e me arrumei tranquilão, mó viagem até o escritório em que a Filipa trabalha pô, quase duas horas da CDD, depois de mó rolê cheguei e era um prédio bonitão, por isso ela saía de manhã parecendo uma patricinha, pessoal engravatado pra cima e pra baixo, um cria me falou que era no 9 andar, e assim que parou no andar dela, já vi ela mexendo no computador.

— E ai cria — falei na mesa dela lá, que tirou os olhos do computador.

Filipa: Até parece que é gente arrumado assim — ela falou debochando enquanto batia a caneta no papel.

— Tu é mais palhaça que o bozo, é contigo a entrevista? Já me contrata aí, sou gente boa — passei a mão no meu currículo dentro do saquinho.

Filipa: Eu te arrumei essa entrevista porque sou legal, mas você nem sabe pegar na vassoura Kayque — ela negou passando a mão no rosto.

— Tudo se aprende Filipa, confia no pai — ela semicerrou os olhos.

Filipa: Você não me fala isso pra Ayla, aliás vai logo antes que eu me arrependa, bate naquela porta ali — ela apontou uma porta preta.

— Jaé jaé — cocei a nuca porque toda entrevista é tenso, principalmente quando eu falo que moro na Cidade de Deus.

Bati na porta e na segunda batida ouvi uma voz feminina mandando eu entrar, passei a mão na porta que abria de lado e avistei uma mina atrás da mesa com um cabelo cacheadão.

xxx: Boa tarde, hoje eu não estou atendendo, se o senhor quiser pode agendar um horário amanhã — olhei pra trás e a Filipa me olhava de longe.

— É pra entrevista — falei olhando ela erguer o olhar pra mim — Boa tarde.

xxx: Aí me desculpa, pode entrar, fica a vontade — ela levantou e mermão que mina gata da cabeça aos pés, gata pra porra.

Ela sorriu me estendendo a mão.

xxx: Ayla Fagundes e você é o ...? — peguei na mão dela dando um leve aperto.

— Kayque Pedroso — ela sorriu pra mim e ficou me olhando.

Ayla: Pode sentar Kayque, você é o primo da Filipa né? — ela falou fechando a porta enquanto eu me sentava de frente a mesa dela.

— Isso — falei segurando o currículo.

Ayla: Eu vou te apresentar a vaga mesmo que a Filipa tenha te apresentado, tudo bem? — balancei a cabeça que sim — Então é uma vaga de faxineiro, mesmo que você olhou esse prédio gigante, nossos andares são apenas o nono, décimo, décimo primeiro e décimo segundo conhecido como último andar, você só terá que organizar esses quatro andares, será de segunda a sexta-feira das sete às dezessete, porém é carteira assinada, vale refeição, mas temos uma cozinha aqui caso você queira trazer marmita, vale transporte, salário de dois mil e seiscentos e uma cesta básica, você acha que está dentro do que você está procurando? — colfoi morena sai de um trampo que nem registrado eu era, isso aqui é mó paraíso, pensei como mermo.

— Tá sim, tranquilo — coloquei meu currículo na mesa e ela pegou com seus dedos cheios de anel, papo que um daqueles anéis é meu futuro salário, fácil.

Ayla: Eu vou pegar seu currículo só por ter seus dados mas eu confio na Filipa — ela sorriu pra mim. — Você pode começar amanhã?

— Se precisar eu começo até hoje sem tempo ruim — falei segurando a empolgação.

Ayla: Não imagina, você tá todo arrumado, amanhã pode ser, aí você me trás seus documentos, carteira de trabalho, comprovante de residência e eu já assino sua carteira tudo bem? — ela pegou meu currículo guardando na mesa dela lá.

— De boa patroa — ela ergueu o olhar pra mim, negando.

Ayla: Patroa não, pode me chamar de Ayla mesmo — ela riu fraco.

— Do jeito que a senhora achar melhor — ela franziu a testa.

Ayla: Senhora? Ai você magoou — ri abaixando a cabeça, se eu te chamar do que eu tô achando tu me deixa tem o emprego pô.

— Melhor Ayla mermo né? — cocei a nuca — Eu preciso tirar o piercing? — apontei pra sobrancelha.

Ayla: Só se for te incomodar para trabalhar, porque a mim não incomoda — ela sorriu de canto de boca, ih qual foi morena.

— Ja... é então tá bom, muito obrigada e amanhã eu bro... eu tô aqui cedinho don...opa Ayla — ela deu risada balançando a cabeça.

Ayla: Sem dona, sem patroa, sem senhora, por favor — balancei a cabeça me levantando — Eu abro — ela levantou passando na minha frente e mermão que corpo bonitão.

— Valeu pela oportunidade Ayla, agora rolou — ri passando por ela que estava na porta, mó perfume de burguesa.

Ayla: Tá vendo, até amanhã e seja bem vindo ao time Fagundes Advocacia — ela jogou o cabelo me fazendo sentir o cheiro bonzão.

Ela fechou a porta sorrindo enquanto eu caminhei pra mesa da Filipa que me olhava ansiosa.

Filipa: E ai ? — ela falou baixo.

— Pai tá contratado pô, esquece — gesticulei — Valeu prima tu é pica pô — ela sorriu grandão.

A Filipa foi criada como minha irmã embora a gente só era primo, mas a considerava minha irmã mermo.

Filipa: Valeu nada, quero mimos — ela deu risada fazendo toque comigo.

Troquei algumas palavras com ela ainda, peguei meu uniforme e voltei pra CDD felizão pô, vou conquistar meus bagulho tudo e minha moto principalmente.

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