três

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Ayla

Sexta-feira, 13 de Outubro, Rio de Janeiro.

Nada como uma semana com feriado, a gente podia ter emendado? Poderia, mas meu digníssimo tio tinha tido diversas reuniões hoje, mas quando deu 16 horas o bonito foi embora, e a gente ficou trabalhando, arrasou gato.

Tinha terminado de ler os processos e arquivado, me deixando sem ter nada a fazer na última hora, eu poderia até ir embora mas não acho justo com a Filipa, Renan e com o primo dela que tenho o problema de esquecer o nome.

Sai da minha sala vendo a Filipa com fone bluetooth no ouvido, foi lentamente na direção dela, parando atrás dela.

— BONITO NÉ — falei, assustando ela que deu um pulo gigante, tirando o fone do ouvido.

Filipa: Pelo amor de Deus Ayla, vai me matar garota — ela falou negando, respirando ofegante.

— Desculpa, mas te vi concentrada que não podia perder a oportunidade de te assustar, terminou aí? — sentei na ponta da mesa dela.

Filipa: Eu devia ter infartado pra você ficar com a consciência pesada, tô terminando os agendamentos das reuniões da semana do senhor Wesley, vai embora amiga — ela sorriu pra mim, me fazendo negar.

— Eu vou quando vocês forem, qual a diferença entre nós? Eu em, vou comer um Danone lá em cima, já venho, quer? — ela me olhou negando.

Filipa: Não amiga — ela estava totalmente para baixo, o Henrique tinha discutido com ela, dizendo que pra ele estava bacana só ficar, mas que não tinha cabeça pra namorar, um grande otário.

Entrei no elevador enquanto mexia no celular apertando o botão do décimo segundo, em questão de segundos a porta do elevador abriu, me fazendo sentir o vento da sacada onde tomávamos sol às vezes, caminhei vendo a porta de vidro aberta.

— Filipa e sua mania de deixar a porta aberta — murmurei comigo mesma, indo pra perto da porta de vidro, assim que pisei na sacada tomei um susto, vendo o primo dela sentado com o uniforme semi aberto dando só a visão da regata branca, ele ergueu o olhar rápido pra mim — Aí desculpa, não sabia que você estava aqui, pensei que não tinha ninguém — falei sem graça.

Kayque: Desculpa eu por ter deixado a porta aberta, é que eu tinha passado pano deixei aberto pra secar enquanto eu almoçava, mas eu já terminei — ele fechou a marmita rápido, me fazendo negar.

— Pode comer em paz, eu só vim pegar um Danone, não precisa parar de comer — sorri pra ele vendo a regata branca com uma correntinha fina prata.

Kayque: Já terminei mermo, tenho duas salas pra limpar ainda — ele levantou do banco me fazendo observar seu corpo rapidamente.

— Logo mais sextaremos em paz — falei disfarçando enquanto ia em sentido a geladeira.

Kayque: Tenho um trampo pra fazer ainda — ele falou passando por mim, me fazendo negar por dentro pra não olhar.

— Você é o Julius? Dois empregos? — falei brincando, enquanto sacodia o Danone.

Kayque: Não pô, tem festa das crianças lá na Cidade de Deus e eu ajudo desde sempre, aí hoje é mó correria pra montar os brinquedos pras crias — sorri ouvindo dele falar.

— Nossa que legal, é projeto social? — perguntei interessada, eu gostava dessas coisas.

Kayque: Então — ele coçou a nuca — Até que é mais não tudo — logo entendi que provavelmente o tráfico contribuía.

— É do tráfico né? — falei levando a garrafinha do danone na boca.

Kayque: Sei não ó — semicerrei os olhos pra ele, enquanto o via subir o macacão.

— Eu não sou polícia não, mas eu acho muito legal essas ações, embora eu nunca tenha ido eu fico contente com essas ações — ele me encarava fechando o macacão calmamente.

Kayque: Tá convidada pô, festa das crianças na Cidade de Deus, a Filipa é a tia da pipoca te contou não? — ele falou com ar de riso.

— Não — ri vendo ele balançar a cabeça — Que fantástico gente, eu posso contribuir com algo? — olhei ele que me olhou pensando.

Kayque: Vai pra brincar as crianças curte as tia de brincar, só não pode ir de salto — ele falou olhando meu salto.

— Se eu pudesse nem usava salto, nada como um bom tênis — falei rindo.

Kayque: Ih k.o, sai dessa que tu tem cara dessas modeletes que tem vários saltos — ele falou pegando o balde e o esfregão, me fazendo rir.

— Que modelete menino, eu tenho vários tênis, e poucos saltos, olha como você tá errado — ri vendo ele negar.

Kayque: Tudo lorota, tu é bonequinha — ele falou rindo.

— Eu vou levar como elogio e não crítica, mas o convite de ir brincar tá de pé? — falei jogando o Danone no lixo.

Kayque: Tá pô, mas tu sabe brincar? Só não pode quebrar em — ele falou num tom de brincadeira.

— Eu já fui criança cara, e eu sei brincar — falei vendo ele sair da área de lazer nossa, entrando para dentro do prédio.

Kayque: Pago pra vê pô, depois pede as coordenadas pra Filipa, licença que tenho duas salas pra limpar ainda — vi ele me encarar.

— Você vai ver então — falei indo atrás dele que esperava o elevador.

Kayque: Tu mede quanto? — ele falou olhando pra frente.

Olhei pro rosto dele de lado, sem entender a pergunta.

— 1.58 porque? — entrei no elevador que abriu a porta.

Kayque: Até da pra ir no pula pula com essa altura de criança — gargalhei cruzando os braços.

— Nossa cara que absurdo, só porque você tem dois metros a culpa não é minha não — olhei pra ele um pouco afastado de mim.

Kayque: Na real mermo 1.90, e esse 1.58 é com salto? — fechei a cara pra ele.

— Que imoral você né? Mas tudo bem, 1.58 com salto — falei vendo ele rir negando.

Kayque: Sabia pô, vou descer aqui mas agora é certeza tu pode ir no pula pula — franzi o cenho vendo ele sair do elevador rindo.

A porta fechou e eu fiquei rindo com a audácia dele de dizer que eu podia ir no pula pula, ia aproveitar para fazer uma surpresa pra minha amiga que nunca tinha me chamado pra ir lá.

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