quatorze

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Ayla

O expediente acabou e assim que tranquei minha sala, dei de cara com o Kayque e a Filipa rindo de algo, sorri de lado e apertei o elevador.

— Bom final de semana e até segunda gente — falei vendo eles me olharem, e o Kayque dar um passo pra frente mas logo a Filipa o puxar para trás.

Entrei no elevador e ele me encarava de uma forma de que queria falar comigo mas no fim se deixou por vencer pela insistência da prima.

Meu coração estava apertado angustiado e solitário, e eu jurei que não ia mais atrás dele, mas hoje só um abraço dele me faria ficar menos pior, entrei no meu carro e fiquei olhando para frente durante um tempo, me fazendo sentir um misto de sensações mas eu precisava dele.

Liguei o carro e depois de dois anos sem nenhum mísero contato eu estava indo lá, depois de duas horas, senti meu coração acelerado ao ver tudo aquilo que hoje ele era, meu carro passou pela vistoria e liberaram minha entrada estranhamente achei que iriam barrar, e depois de dois anos aqui estou eu, pisando no Complexo da Maré.

— Pode liberar a patricinha e leva ela pro chefe — um menino de 14 anos no máximo disse assim que tranquei o carro e apertei as chaves nas mãos.

Um menino loirinho foi na frente com duas armas na mão e uma atravessada no corpo, me fazendo respirar pesada.

— É aqui tia, pode entrar ele tá sozinho — o menino falou me fazendo balançar a cabeça.

Dois anos dois anos dois anos dois anos, era só isso que soava na minha cabeça, assim que empurrei a porra ele estava parado sentado olhando a porta, batendo os dedos na mesa.

Paramos e ficamos se encarando um longo tempo, até minhas lágrimas aparecerem, me fazendo abaixar a cabeça.

— Entra — a voz dele ecoou aquela sala, me fazendo suspirar fundo, os passos dele me fez erguer o rosto e o ver parado na minha frente, tão sério, tão homem, tão lindo.

— Achei que você não iria pisar mais aqui — segurei o choro e ele me olhou no fundo dos olhos, logo envolveu a mão no meu cabelo me puxando para um abraço que me fez desmoronar, o abraço dele sempre curou o que ele não havia ferido.

— Tá doendo Renan, doendo de verdade — envolvi meus braços no corpo dele, hoje o cheiro dele era diferente, forte e intenso.

— Ele te machucou? — ele perguntou baixinho me fazendo balançar a cabeça enquanto chorava em seu peito.

— Eu acreditei de novo Renan, e me magoei de novo, não aguento mais isso — ele me apertou em seu corpo enquanto eu chorava baixinho mas molhava sua roupa.

Ficamos assim por longos minutos, até meu choro cessar, mas seu carinho no meio do meu cabelo persistia lá me dando todo conforto e proteção do mundo, ele estava sentado na mesa de ferro que tinha lá enquanto eu estava no meio da suas pernas.

— Você sabe de tudo né? — perguntei enquanto olhei o rosto dele, que me olhava atento.

— Sei, eu nunca te deixei só, mas te dei o espaço que queria — ele falou me olhando, sorri de lado após um longo suspiro.

— Você tá bonitona quase formada né, maior orgulho namoral — ele falou me fazendo abraçar ele novamente dessa vez ficando dentro do abraço.

— Você nunca ia atrás de mim? — falei baixinho sentindo as pontas do dedo dele nas minhas costas.

— Eu sempre estive atrás de você Ayla, nunca te deixei por mais que você achasse, até mesmo na Cidade de Deus, bonequinha — ele falou me fazendo ter a certeza que sabia sim de tudo.

— Achei que você tinha aberto mão de mim como disse a dois anos atrás que faria — falei ouvindo sua risada falsa.

— Eu não consigo por mais que eu quisesse muito, eu podia não tá lá mas algum deles estavam, e você é uma advogada muito da bobinha precisa tá mais ligada, você é vigiada sempre — ele disse fazendo eu afastar meu rosto e o encarar.

— Como assim sempre? Renan — falei olhando os olhos dele escuros em mim.

— A gente parou de se falar mas eu não ia deixar de cuidar de você, por muitas vezes eu quis ir atrás de você mas sabia que não era o certo a fazer e te respeitei — ele falou sério.

— E eu esperei sempre você ir e você não foi, eu precisei cair e vim atrás de você né? É sempre assim — falei soltando o corpo dele, fazendo ele me puxar de volta.

— A 10 anos Ayla você falou que eu havia escolhido meu lado e eu te deixei claro que nunca ia te deixar e você disse que eu já havia deixado, eu estava com você quando você pisou no escritório do seu tio pela primeira vez, quando você achou que aquele cuzão do playboy Guilherme era o cara certo pra você, quando seu tio abriu o escritório em São Paulo, eu nunca te deixei, isso nunca vai entrar na sua cabeça — ele falou me olhando sério.

— A gente não sabe conversar sem brigar nunca Renan? — falei o olhando.

— Nunca, porque a gente é isso aí mermo, vai abrir mão do garoto lá assim ? — ele falou me fazendo suspirar.

— Eu nunca vou segurar algo que vá me machucar, você sabe disso, eu sempre vou deixar ir — falei envolvendo meus braços na cintura dele novamente.

— Você é covarde Ayla, você quer que as pessoas lutem por você mas você não luta pelas pessoas, as pessoas lá de fora não são eu Ayla, você abriu mão de mim mas eu não abri mão de você, a maior prova é essa aqui — ele falou me fazendo sentir a dor de 10 anos atrás.

— Ele mentiu Renan, e eu não gosto de mentiras você sabe disso — falei e ele negou.

— Ele se calou isso não quer dizer que mentiu Ayla, você vai perder um cara que te faz bem pô, de novo — ele falou me fazendo olhar pra ele.

— Eu nunca te perdi ou perdi ? — falei olhando pra ele.

— Você sabe que não Ayla, mas ele não tem nada que te cause problemas por isso vai lá deixa de ser cabeça dura — ele falou olhando nos meus olhos.

— Mas Renan, a situação tá estranha sabe? Um sentimento doloroso, um vazio, um medo — falei me apertando nele.

— Se der ruim eu tô aqui, eu sempre vou está aqui pra você, cachinhos — ele falou isso baixinho, me fazendo sorrir dentro do abraço.

— A cachinhos sente sua falta — falei o que segurei por muito tempo.

— E eu a sua cachinhos pra caralho — ele falou beijando minha cabeça.

— Posso ficar hoje? — perguntei baixinho.

— Você sabe que sim, vamo pra minha casa aqui não é lugar pra você — ele falou me apertando nele.

Tem coisas que nem todas as palavras do mundo era capaz de explicar, e essa era uma delas.

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