Decepções

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Ela precisou de alguns minutos para conseguir reunir coragem para começar a ouvir os áudios do marido. Flávia caminhou inquieta de um lado para o outro, mordiscando ansiosa a unha do polegar enquanto segurava o celular com a outra mão.

Não era possível que ele havia descoberto sobre Guilherme, não tinha chances reais disso acontecer quando Marcelo sequer desconfiava do affair da esposa com o meio irmão. Definitivamente não tinha como ser sobre isso.

Com um surto de curiosidade e coragem, ela colocou para ouvir o primeiro áudio que começou com um barulho alto de trânsito e de aglomeração ao fundo.

"Flávia, meu amor, por favor, me perdoe!"

A voz do marido estava carregada e sua fala enrolada não lhe deixava dúvidas de que ele estava bêbado.

Muito bêbado.

"Bebê, eu estou me sentindo tão mas tão culpado... foi tudo culpa do Roni, tudo!"

Como um bom bêbado com culpa no cartório e com um celular funcional, Marcelo chorava descontroladamente no áudio.

" – Ok, não foi tudo em si, mas o que aconteceu nesta noite sim foi culpa dele...

– Cala boca Marcelo, eu não fiz nada!"

Reclamou Roni ao fundo, fazendo Flávia revirar os olhos ao ouvir a voz do amigo do marido.

"Eu juro que não aconteceu nada além disso. Mas eu... eu estava com tanta raiva que não pensei. Deixei que ela me levasse para o quarto e...

– Olha Flávia, Marcelo recebeu um boquete caprichado como há tempos não recebia... Não, um não, dois! E é isso aí, eu paguei a mulher para ele e agora ele está aqui chorando, sentado no meio fio, abraçado em uma garrafa de Macallan 12. Se ele vomitar no meu carro, a culpa será sua. Se eu precisar levá-lo para a emergência, a culpa também vai ser sua. Quem mandou ser uma fresca?!"

Marcelo começou a explicar o que havia acontecido, mas não foi capaz de prosseguir pelo choro que se intensificou ainda mais, fazendo Roni assumir as rédeas do celular e concluir o que o amigo falava.

O peito de Flávia se contorceu de tanta raiva. Tanta mas tanta raiva que ela sentia que poderia matar Roni, não por ter levado seu marido para uma mulher desconhecida, mas sim pelas suas palavras. Quem era ele para falar aquilo sobre ela?

"Eu amo você, eu juro que amo você. Não tinha percebido isso até agora, você precisa me perdoar, bebê!"

Um riso debochado, em meio às lágrimas de ódio, escapou da mulher. Marcelo poderia fazer e dizer qualquer coisa que nada apagaria de sua memória o que ele havia dito para Roni no telefone.

Ele não a amava de verdade e se amasse, não teria dito tais coisas sobre ela para o seu melhor amigo.

"Eu sou um idiota!"

Bem, disso ela não podia discordar.

Entre o último áudio e o próximo, havia algumas tentativas dele digitar o nome de Flávia e algo que ela presumia ser "me perdoe, eu amo você". Mas não tinha como ter certeza devido aos erros de digitação.

"Bom... se você não quiser me perdoar... Problema é seu! O nosso casamento... ele... ele já era!"

Cerca de vinte minutos haviam se passado entre as mensagens de texto e o áudio, e a voz de Marcelo estava ainda mais enrolada e confusa, mas não havia mais indícios de que ele chorava.

"Não, espere, mentira... Não leve a sério o que eu disse..."

"Tarde demais, querido. Tarde demais." Ela pensou.

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