Inseguranças

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– Por mim nós já teríamos conversado há bastante tempo, mas você fica fugindo... – ele respondeu sem ao menos se esforçar para deixar o sarcasmo de lado.

– Eu precisei de um tempo e espaço para clarear minha mente e organizar algumas coisas... – ela explicou e então seguiu para a cama, sentindo que poderia desfalecer caso não se sentasse em algum lugar. – Eu sei que você já imagina sobre o que quero falar então serei direta para poupar tempo e não nos desgastarmos mais. Nós tentamos Marcelo, tentamos fazer dar certo por muito tempo, mais tempo do que se é humanamente aceitável. Eu tentei, você tentou, mas eu não consigo mais seguir com isso. Esse último ano foi difícil para nós, esses últimos meses então nem se fala... Nós nos desgastamos, brigamos e nos desrespeitamos milhares de vezes e de diversas formas diferentes e chegou a um nível que isso está simplesmente insustentável. Por isso, eu pedi para que a minha advogada arrumasse apenas uma prévia, e certamente lhe darei um tempo pra ler, fazer suas observações e questionamentos. Aqui nesses envelopes tem tudo que você e seu advogado vão precisar, então eu estou oficialmente entrando com o pedido de divórcio.

– Não sei porque você perdeu tanta saliva fazendo esse discursinho de merda. Já vou adiantar que é para você não perder mais o seu tempo, Flávia: eu não vou assinar esses papéis. – Marcelo decretou com desdém.

– Por que eu não estou surpresa?! – ela falou com um riso sem o mínimo de humor. – Não sei se ficou claro Marcelo, mas isso não é uma negociação ou algo assim. Eu quero o divórcio e você vai me dar isso, é simples assim.

– E eu estou dizendo que não vou lhe dar. Pelo amor de Deus, Flávia, você está se mostrando uma garota mimada e covarde que no primeiro desafio foge para a casa do papai e da mamãe! Eu já lhe disse: não importa quanto tempo vamos levar para ajeitar as coisas, mas não iremos nos divorciar. Não existe divórcio na minha família, você sabe disso e teve a comprovação em Angra.

– Eu não me importo com o que você pensa sobre mim e nem com o fato de sua família ainda estar vivendo nos anos 1800. O fato é que eu, Flávia Terrare Santana, estou entrando com o pedido de divórcio para você, Marcelo Pereira, no século XXI.

– Você é muito debochada! Sinceramente... – ele revirou os olhos.

Se ela era debochada, Flávia sequer tinha uma definição para o que ele era, já que o homem em sua frente ultrapassava os limites do deboche.

– Está vendo? Você só vê coisas ruins em mim, não tem mais motivos para estarmos juntos, Marcelo.

– Mas será que você não percebe que eu só não consigo ver algo bom em ti quando você está sendo tão irritante ou quando não sabe o que quer? Ou quando eu tento me aproximar e você apenas me afasta? Não venha colocar tudo nas minhas costas, Flávia. Eu também estou me esforçando para essa relação dar certo e só estou fazendo isso porque eu te amo muito.

– Você não me ama, Marcelo. Eu sei que não me ama, já te ouvi falar isso em claro e bom tom. Isso que você sente não é amor, é posse! – Flávia contra argumentou. – Eu não sou um objeto para você expor e andar de um lado para o outro. E, se é tão difícil assim, você assumir que não me ama mais, já que você é covarde e só diz isso pelas minhas costas, para se pagar de fodão para os amigos, eu digo: eu não te amo mais, Marcelo. Eu não quero continuar nessa relação porque eu não te amo há muito tempo.

As sobrancelhas grossas do homem arquearam, não com espanto pela fala de sua mulher, mas sim pela capacidade de não amá-lo mais. Aquilo era um afronto ao seu ego. Marcelo não queria e não podia dar aquele divórcio para Flávia, ele não queria ser divorciado e largar mão daquele casamento, que para ele era perfeito. Não queria entrar para as estatísticas e nem os olhares de pena ao saberem que ele era separado.

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