Epílogo

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Era por volta das duas e quinze quando o primeiro resmungo mais alto me tirou do sono pesado que eu havia entrado após a mamada da meia noite. Eles realmente eram uns reloginhos.

– Quem será dessa vez? – Guilherme perguntou baixinho, sonolento.

Quem diria que duas criaturinhas tão pequenas conseguiriam ser capazes de mudar tão drasticamente os hábitos de dois adultos formados...  logo Guilherme, que costumava a viver tal qual uma coruja ficando acordado até tarde, enquanto eu  que não conseguia acompanhá-lo nem por trinta minutos de algum filme ou série, estávamos ali, com nossos horários e sono bagunçados por dois seres humanos que mal pesavam três quilos e meio.

– Esse resmungo é do Téo e pelo horário só pode ser ele... – eu respondi, juntando minhas forças para acordar antes que o choro do bebê se intensificasse. – E ele acordou bem na hora, meu peito já começou a vazar.

Enquanto eu levantava de um lado, Guilherme já havia se colocado em pé e ligava o abajur de canto do quarto para nos guiarmos melhor. Do bercinho de vime, o resmungar do meu filho passou a ficar mais irritado, me fazendo ir com mais pressa até onde os dois dormiam.

– Oi, meu amor, você já está com fome, é? – eu falei baixinho ao chegar ao berço, encontrando meu garotinho de cabelos ralos e escuros bastante acordado, prestes a começar a chorar de verdade. – Vem com a mamãe, meu pequeno.

– Não é que você acertou ao dizer que era ele? – Gui comentou, se aproximando de mim e de Téo, que já estava em meus braços com a boquinha aberta em busca do meu seio.

– Você não consegue identificar ainda o chorinho deles? – eu perguntei, dando um beijo demorado em seu pescoço, que era onde eu melhor alcançava.

Além do resmungar já bem característico de Téo, desde quando os dois estavam na minha barriga era possível perceber que ele era bem mais ativo do que ela durante a madrugada e constantemente Guilherme o sentia chutar suas costas enquanto dormíamos. Enquanto Laura tinha hábitos mais parecidos com os meus, claramente nossa pequena gostava muito de dormir e acordava muito mais cedo que o irmão.

– Infelizmente ainda não! – ele encolheu os ombros, dando um sorriso sonolento.

– O Téo começa só com uns resmungos baixinhos, mas a Laura já coloca a boca no trombone e chora alto desde o primeiro momento... – eu expliquei, ajeitando melhor meu menino nos braços. – Humm... tem alguém com fralda suja. Vou trocar ele antes de colocá-lo no peito.

– Enquanto isso, vou pegar água e a concha do outro peito... – ele me deu um beijo demorado na testa antes de beijar a cabecinha de Téo.

Nós havíamos criado um acampamento improvisado em nosso quarto para não deixá-los dormindo sozinhos no deles e para que não precisássemos nos deslocar durante a madrugada até outro cômodo. Além do berço de vime, tínhamos uma poltrona de amamentação e um trocador sobre a cômoda, onde segui para trocar Téo, mas não sem antes checar Laura, que seguia dormindo tranquilamente.

– Meu Deus, meu filho, o que sua mãe está te dando para comer, hein? – eu falei assustada ao abrir a fralda do bebê que completava apenas quinze dias de vida.

– Está tudo bem aí? – Guilherme perguntou, retornando para nosso quarto trazendo as coisas que havia ido pegar.

– Não muito, mas vai ficar. Vou precisar trocar a roupa desse rapazinho porque acabou vazando tudo. – eu expliquei, limpando o bebê que parecia não estar de acordo com os meus planos.

– Vou pegar então ali no quarto deles enquanto você tira essa! Aproveitar que ela ainda não está dando sinais de que vai acordar.

A reforma da nossa casa ainda não havia terminado e a chegada dos bebês nos fez adiar mais uma vez a mudança. Meu pai e o marido de Nedda tomavam conta das visitas semanais para que nem eu ou Guilherme precisássemos ir até lá, ao invés disso, eles faziam vídeo chamadas conosco sempre que precisássemos decidir algo ou que tivesse coisas novas para nos mostrar. Definitivamente, uma casa em obras era o último lugar para onde levaríamos nossos recém-nascidos e enquanto não nos mudávamos novamente, Deusa e Odete faziam a magia delas no apartamento de Guilherme.

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