Bodas

36 3 0
                                    

Guilherme sempre ouviu que um dia ele iria encontrar uma mulher que o faria esquecer de todas as outras, uma que tomaria sua cabeça e desceria para o coração de uma forma tão intensa que ele não iria mais conseguir tirá-la de seus pensamentos. Ele, como bom descrente das questões de amor e do coração, ria bem humorado das provocações como se tivesse nascido imune a esse mal... Porém, naquele instante, a vida dava em sua cara a mesma risada debochada a cada suspiro melancólico que ele soltava e todas as vezes que abria a pasta segura com as fotos dos dois.

Em sua defesa, não tinha como não ter se apaixonado por Flávia, que até mesmo em seus defeitos conseguia ser incrível.

Como ele seria capaz de esquecer uma mulher como ela? Era humanamente impossível superá-la e Guilherme estava sentindo na pele tudo aquilo.

Um mês havia se passado desde a última vez em que eles haviam se visto e o único contato que tiveram foi por meio de algumas mensagens aleatórias.  Dela principalmente. Falando que sentia muito por tê-lo magoado daquela forma e que não conseguia parar de pensar nele.

A cada mensagem dela era como uma faca sendo fincada no peito de Guilherme. Enquanto ela lhe escrevia, o babaca do seu meio irmão tinha o privilégio de dividir a cama, os dias e a vida com ela. Ele queria pedir para que ela parasse, parasse de escrever, de pensar nele, simplesmente parasse de ser a mulher por quem estava apaixonado... mas Guilherme não era forte o suficiente para isso e temia, na verdade, implorar para que ela parasse de ser casada com o imbecil do Marcelo e que se casasse com ele.

Várias foram as vezes em que o rapaz se pegava pensando em como ela estava, como estava saindo os planos de fazer seu casamento já fracassado dar certo ou se Marcelo milagrosamente havia mudado e ela tinha simplesmente superado a paixão que dizia sentir por ele.

Várias e várias vezes ele se pegava perguntando se ela conseguia olhar para sua cama sem lembrar-se de tudo que haviam feito ali, se conseguia tomar um simples banho sem que as lembranças dos dois lhe enchessem o pensamento e se conseguia fazer amor com o marido sem pensar nele. Porque ele não conseguia se desvencilhar de tudo que eles tinham vivido em um mês. Nem mesmo suas noites de solteiro em que voltava com uma desconhecida para casa eram as mesmas... nas duas vezes em que Guilherme tentou usar o famoso sexo casual para esquecer, pelo menos por algumas horas, de Flávia, ele acabou sendo muitíssimo fracassado. Na primeira tentativa, o nome da cunhada escapou de seus lábios enquanto tinha outra mulher o beijando e na segunda vez, os olhos intensos de Flávia apareceram em sua cabeça, o impedindo de prosseguir.

Ele estava tão fodido...

Por outro lado, a situação da pessoa que predominava os pensamentos do psiquiatra conseguia ser um tanto pior. Flávia chorava escondido quase todos os dias, no banho, antes de dormir, enquanto dirigia para casa. Ela odiava o que a sua vida havia se tornado, odiava ter que se deitar com Marcelo quando amava outro homem, odiava que seu casamento tivesse virado uma bela farsa e que isso conseguia interferir em absolutamente todos os aspectos de sua vida. Seu humor, ânimo, apetite, disposição e até mesmo em seu sono.

As mudanças foram tantas que não passaram despercebidas nem por Vandinha e nem por Marcelo. Mas enquanto sua melhor amiga sabia, talvez melhor do que ninguém o motivo do abatimento de Flávia, o seu até então marido tinha uma visão bastante egocêntrica e distorcida da situação. Em seu entendimento, a única justificativa cabível para tais mudanças, era que ela estava claramente deprimida devido ao que ele havia feito em sua viagem para São Paulo, já que ao seu ver, a esposa tinha se fechado logo após a fatídica pergunta.

Os jantares que ela preparava para eles já não aconteciam mais, uma vez que na maioria das vezes em que ele chegava em casa do hospital, ela já estava dormindo ou encolhida na cama assistindo a qualquer coisa na televisão sem ao menos prestar atenção. Ela já não o procurava mais na cama, não fazia mais suas visitas ao quarto de hóspedes, não o tocava, irritava-se com coisas ínfimas e, mesmo que ela tentasse se esconder, Marcelo percebia quando a esposa chorava. Flávia já não era mais a pessoa que ele conhecia, não tinha mais o brilho e nem vida no olhar. Era como se ela tivesse sido substituída ou como se tivesse entrado em um modo observação.

ImbranatoOnde histórias criam vida. Descubra agora