– Guilherme? – ela sussurrou ao entrar pela cozinha, que estava iluminada apenas pelas luzes que entravam pela janela. Ainda que ele estivesse de costas, olhando para a agitação do mar enquanto bebia algo em uma xícara grande, ela não precisava de luz ou que ele estivesse de frente para que o reconhecesse. Flávia conhecia aquele corpo com detalhes depois de ter o explorado com tanta minúcia tantas e tantas vezes.
A sua voz ecoando baixinho pela cozinha o paralisar, estando tão surpreso quanto ela com sua presença no cômodo.
– Olá... – Guilherme falou, virando-se de frente para recepcionar a mulher. O que, de longe, não havia sido uma boa ideia.
Flávia usava nada mais além de uma camisola curta de seda rosa claro, com rendas delicadas no decote e na barra. Parecendo abraçar o corpo da mulher e deslizar em sua pele a cada movimento que fazia. Seus cabelos estavam em uma bagunça proposital, em sinal de que ela havia acabado mesmo de se levantar e, puta merda, ela tinha aquele olhar sedutor, curioso e excitado ao mesmo tempo, que não estava por ali durante o jantar.
Essa Flávia parecia diferente e mais atrevida, mais parecida com a sua Flávia, por quem havia se apaixonado, e isso o fizera sorrir. Um daqueles sorrisos que criava uma covinha sutil em sua bochecha coberta por uma barba de alguns dias, mas que não passava de um repuxar de lábios.
– Não está conseguindo dormir também? – ele perguntou, encostando-se no balcão da ilha da cozinha, cruzando os braços enquanto segurava a xícara em uma das mãos. O movimento não passou despercebido pela mulher, que suspirou fundo um tanto desnorteada pela forma com que o peitoral desnudo do homem ficava sob a luz fraca vinda da rua e como seus bíceps ficaram mais evidentes com o movimento de cruzar os braços.
– Não... Marcelo entrou bêbado no quarto, fedendo a conhaque e charuto e se deitou na cama com roupa, sapatos e tudo! – Flávia respondeu revirando os olhos, fazendo Guilherme rir com desgosto após bebericar o conteúdo de sua xícara. – Precisei vir até aqui para fazer um chá antes que colocasse para fora o jantar.
– Eu fiz chá de hortelã, mas me empolguei na quantidade, se quiser, sobrou bastante na chaleira.
– Ah isso soa bem, vou aceitar seu chá! – ela sorriu, virando-se para buscar dentro dos armários uma xícara como a de Guilherme, para em seguida se servir do líquido que cheirava muitíssimo bem. E então retornar para onde estava, na verdade, com alguns centímetros de diferença; de frente e mais perto do homem que amava, encostada ao balcão de gavetas. – Eu não esperava encontrá-lo por aqui...
- Pois é, eu não costumo mesmo assaltar a cozinha no meio da madrugada...
– Não, eu digo aqui neste final de semana... – ela respondeu, tomando o primeiro gole do chá, que a atingira como um afago gostoso em seu peito.
– Ah sim... Bem, eu também não sabia que estaria aqui nesse final de semana, mas decidi vir de última hora.
– É mesmo? E o que o fez mudar de ideia? – Flávia perguntou curiosa.
– Não sei exatamente. Talvez a perspectiva de que poderia ser diferente dessa vez, o fato de eu ser um grande idiota, o fato que Daniel ter insistido que eu chamasse Soares para me fazer companhia... – Guilherme refletiu, bebendo mais um pouco do chá. – A grande possibilidade de ver você...
O peito dela inflou com a confissão, a fazendo encará-lo por alguns segundos sem saber o que falar, se afogando na profundidade da conexão de seus olhares que diziam muito apesar do silêncio verbal entre eles.
– Sei que vai soar egoísta eu falar isso, mas fico feliz que tenha vindo. Apesar de Daniel ter sido um enorme filho da puta durante o jantar inteiro...
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Imbranato
FanfictionImbranato | au flagui Em que Flávia é uma psicóloga renomada, mas que vive em um casamento fracassado de sete anos com Marcelo. ou Em que Guilherme é um psiquiatra de prestígio, mas que foi renegado por ser filho bastardo de Daniel e meio irmão de...