Verdades

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Falar sobre Guilherme para sua médica foi mais difícil e ao mesmo tempo libertador do que Flávia pensava

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Falar sobre Guilherme para sua médica foi mais difícil e ao mesmo tempo libertador do que Flávia pensava. Parecia que tirar aquela relação do segredo, não precisar esconder e falar sobre ela com alguém que não fosse Vanda a tornava mais real, mais concreta, mais forte. Mas muito mais do que isso, ver a imagem de seus dois pequeninos, ouvir seus coraçõezinhos e saber que eles eram filhos de Guilherme a fez ter ainda mais forças para prosseguir com o processo de divórcio. Ela tinha plena consciência de que não seria fácil, mas estava mais do que disposta a enfrentar aquilo.

Não era justo com ela, com seus filhos e nem com Guilherme postergar cada vez mais aquele fim. Porém, antes de ter a conversa decisiva com Marcelo, ela precisava da força e do apoio de certo garoto para encarar a gestação. Antes de qualquer coisa, ela precisava contar para Guilherme o que lhes aguardava... afinal, eles iriam ser pais em breve.

Pais. Ela e um homem que não era Marcelo. Ela e o meio cunhado, pais de dois bebezinhos sorrateiros que chegaram sem aviso e que já haviam virado a vida de Flávia de cabeça para baixo, mostrando que, na verdade, de cabeça para baixo era a forma certa de viver e que por anos ela havia vivido às avessas.

As lágrimas foram impossíveis de serem controladas assim que a psicóloga colocou os pés em casa após ter saído do consultório de sua médica. Ela não podia mesmo continuar ali, não enquanto não contasse para Guilherme que ela estava à espera de seus filhos e que terminasse, por fim, seu casamento farsante com Marcelo. Flávia agradeceu mentalmente por ter pedido estadia por alguns dias para sua mãe, pelo menos enquanto Guilherme não voltava de viagem e enquanto os papéis do divórcio não ficavam prontos. Ela não tinha condições físicas e psicológicas de passar por mais estresse e sua médica havia sido incisiva sobre a necessidade de fazer repouso e acalmar seus ânimos.

Flávia se sentia aliviada, apesar de tudo. Aliviada, ansiosa, nervosa... e feliz. Morrendo de medo, assustada e confusa, mas acima de tudo feliz. Ela não sabia o que tinha feito de bom para estar merecendo aquilo e chegava a ser assustador pensar que tudo estava dando certo demais.

Após checar com Paula se poderia antecipar a ida para sua casa, Flávia arrumou uma mala com coisas o suficiente para dez dias e simplesmente deixou todo o resto para trás. Seguindo em direção a casa que um dia já tinha chamado de lar e que serviria de refúgio para ela e seus bebês. Deixou uma mensagem curta para Marcelo, dizendo que iria para casa de Paula por uns tempos, mas que não era para ele procurá-la.

Coincidentemente, aquele tinha sido um dia que Paula havia optado por trabalhar de casa e assim que Flávia estacionou na garagem da casa mãe, ela já a esperava preocupada, mas feliz pela decisão da filha. As duas costumavam ser carne e unha e não conseguiam passar mais de quinze dias sem seus típicos programas de mãe e filha, mas por algum motivo que Paula ainda desconhecia, Flávia havia se afastado repentinamente, voltando a procurá-la apenas recentemente.

A psicóloga estava se sentindo exausta com aquela manhã conturbada de descobertas e só naquele momento ela conseguia ver que todo o cansaço que estava sentido era em decorrência a sua gravidez e não pelo estresse que estava passando, como ela achava até poucas horas atrás. Por mais que sentisse que precisava de algumas horas sozinha, ela também sabia que sua mãe estava mais do que preocupada e que precisava de explicações. Mas acima de tudo, Flávia estava mais do que nunca necessitada de colo de mãe e sequer resistiu quando Paula insistiu para que ela descansasse em seu antigo quarto, principalmente porque sabia que tinha que seguir à risca o repouso orientado por Betina.

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