Prólogo

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Calábria, sul da Itália.
 
O clima ameno não incomodava tanto a mulher quanto seus pensamentos depressivos, seus olhos opacos pela tristeza já tão conhecida, enquanto observavam a lâmina entre seus dedos e o pequeno fio vermelho que escorria de seu dedo indicador. Havia depositado demasiada força ao posicionar a lâmina, ocasionando  um corte ardente em seu dedo, que não a incomodou como deveria.
 
Aspirou mais um bocado de ar tentando tomar coragem, queria pôr um fim definitivo em todos os pensamentos destrutivos, em toda aquela solidão e tristeza. Não aguentava mais vagar por cada cômodo daquela casa, ver o vazio enorme que era aquele lugar sem vida, tendo somente ela.
 
Ela tocou sua pele com a ponta da lâmina, pressionando o suficiente para criar a ruptura de sua pele e deslizou alguns centímetros em sentido ao seu cotovelo, causando um corte superficial. Queria ter um gostinho da dor que teria em minutos. Suportável, agradável. Nada era nada comparado com a dor interna que nunca passava; com o vazio, que nunca era preenchido; a tristeza, que nunca chegava ao seu fim; os questionamentos, que nunca recebiam respostas; e a solidão, que não demonstrava ser passageira.
 
Simplesmente não compreendia.
 
A garota levou a lâmina novamente à altura do pulso, posicionando-se para realizar o corte na vertical, torcendo para atingir alguma artéria, respirou fundo uma outra vez, enchendo o peito de coragem, e afundou a lâmina até a ruptura de sua pele. Sua atenção estava toda voltada para seu pulso, para o fio vermelho que escorria do corte recém-criado, que nem mesmo ouviu os passos suaves se aproximando.
 
— Licença? — A voz angelical atingiu os ouvidos da garota. — Oi, com licença... E-Eu não acho a minha mamãe.
 
A mulher franziu a testa ao ouvir a voz doce, rapidamente escondeu a lâmina para que a menina não visse e se virou buscando a dona da voz. Seus olhos se focaram na pequena garotinha de medianos fios dourados, o rosto doce e infantil, os olhos azuis como o céu e os lábios rosados. Sorriu ao ver como a pequena estava agasalhada, principalmente das botas vermelhas combinando com o sobretudo vermelho sangria.
 
— Moça?
 
— Oh, sim, desculpe... Onde a viu pela última vez?
 
— Em casa. — Murmura tímida, a garota sorriu. — Nós saímos para passear, mas eu me perdi.
 
— Certo, irei te acompanhar e procurar por sua mãe.
 
A mais velha suspirou pesadamente antes de passar pela garota, fez um rápido caminho até o quarto no andar superior da pequena casa, vestiu roupas confortáveis e quentes, e aproveitou para guardar a lâmina. Deixaria para finalizar seu serviço ao anoitecer. Ao descer, encontrou a pequena garota sentada no sofá de sua sala, os pés balançando enquanto aguarda e um bico torto, adorável, estava presente em seu rosto.
 
— Sabe onde fica sua casa? — Questionou, chamando a atenção da menina, recebeu um aceno negativo. — O telefone da sua mãe?
 
— Não...
 
— De qual direção veio? Preciso de algum ponto de partida.
 
— O que é ponto de partida? — Questionou, saindo com a garotinha.
 
— É uma base, algo que preciso saber para começar a procurar por sua mãe.
 
— Ah... Eu vim... Hum... — Ela observou ambos os lados antes de apontar para esquerda. — Dali, eu vim dali!
 
— Certeza?
 
— Sim. A minha casa tem muitas árvores, eu vim dali!
 
A morena suspirou antes de estender a mão para a menina segurar, com paciência caminhou em sentido à esquerda, torcendo para encontrar a mãe da garota. Seus olhos, vez ou outra, voltavam para a garota, que estava sempre sorrindo. Elas caminharam por dez minutos até encontrarem as vinhas. A mulher ficou surpresa ao descobrir que a pequena tinha saído de uma das vinícolas mais conhecidas de Calábria.
 
Continuaram andando no silêncio estranhamente confortável, a mais velha vagou por cada videira ansiando encontrar a saída daquele labirinto, um sorriso pequeno moldou seus lábios ao ouvir a pequena comentar sobre o cheiro das uvas.
 
— Mamma! — A voz angelical saiu algumas oitavas mais alta, a observou correr em direção a uma mulher loira e bem vestida. — Mamma!
 
— Bambina! — Sorriu minimamente ao ver a mulher receber a filha com tanto amor. — Por Rao, eu estava preocupada com você. Por onde esteve? A Mamma já avisou para não se afastar tanto, você ainda não conhece as vinhas.
 
— Scusa mamma. — Pediu entristecida. — Mas a moça bonita me ajudou.
 
A loira ergueu o olhar para só então notar a presença da mulher desconhecida. Estava tão preocupada com a filha que não tinha notado a mulher e sua beleza. Os longos fios negros moldam o rosto, os olhos esverdeados, os lábios rosados e a pele leitosa, que aparentava ser sedosa. Macia.
 
— E como se chama a moça que lhe ajudou, bambina?
 
— Hum, eu não sei... — A loira riu ao receber a resposta da filha, com calma se aproximou da mulher carregando a filha.
 
— Sou Lena, moro a uns dez minutos daqui.
 
— Olá, Lena, me chamo Kara. — A loira maior se apresentou. — Obrigada por ter ajudado minha filha.
 
— Magina, não foi nada.
 
— Eu sou a Allegra, minha mamãe diz que sou a alegria dela. — Lena sorriu sinceramente.
 
— Você tem um lindo nome, Allegra... Eu preciso ir, vim somente devolver essa mocinha.
 
— Oh, por favor, fique para tomar o café da tarde conosco. Como um agradecimento meu por ter ajudado minha filha.
 
— Não quero incomodar.
 
— Não irá, fique.
 
— Fiquei, tia Lena, assim posso te mostrar meu laço novo. Mamãe o comprou para que eu o usasse no Natal. Por favorzinho...
 
Lena suspirou, rendida ao pedido adorável da pequena, seu olhar analisou cada pequeno detalhe da face adorável de Allegra e afirmou, ouvindo em seguida a comemoração da pequena.

Storia d'amore - Karlena Supercorp Onde histórias criam vida. Descubra agora