Capítulo 6

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ALEXIA FOX

  8 ANOS

—Filha?

  Ouvi mamãe me chamar, mas mantive silêncio. Eu estava no meu quarto encarando minhas mãos manchadas de sangue. O medo tomava conta de cada pedaço de mim. Medo do que meus pais achariam e do que fariam quando vissem toda aquela bagunça. Eu estava pensando em coisas ruins, mas por que eu estava pensando nessas coisas?

—Alexia Fox, apareça ou o bicho papão irá te encontrar primeiro que a mamãe.

  Mamãe estava errada, não havia bicho papão, e ele não iria me pegar. O bicho papão estava dentro de mim. Eu era o monstro. Eu que estava pensando em matar meus outros animais, meus pais, avós e até meu primo Jacob. Isso é errado. Minhas mãos tremiam, mas não de arrependimento. Elas tremiam em busca de mais. Mais sangue.

ATUALMENTE

  Depois que mamãe me encontrou com o meu coelhinho de estimação morto no closet, eu passei a me encontrar com um terapeuta toda semana. Ouvia mamãe e papai gritarem um com o outro todos os dias e esconderam todas as facas da cozinha. No início eu pensei que isso era temporário e que eu melhoraria, que provavelmente era só uma fase que as meninas tinham, como menstruação, mas eu não mudei, e os pensamentos não cessaram. Mas eu precisava estar bem para os meus pais, ou então nunca teria uma vida.

  Eu nasci um monstro, nasci defeituosa, e meus pais sabiam. Meu terapeuta disse que estava tudo bem desde que eu não matasse mais nenhum animal...ou alguém. O Dr.Anderson aumentou a dose dos meus remédios, e incentivou meus pais a me educarem dentro de casa com profissionais qualificados, mas eu odiei toda essa ideia, então quando completei treze anos, eu matei o meu terapeuta e o enterrei no jardim de casa. Até hoje ele segue desaparecido, e eu não precisei voltar para o terapeuta. Tive que fingir diversas vezes amar o mundo e as pessoas para meus pais confiarem em mim.

Hoje tudo isso passou e eu sigo minha vida. Meus pais curaram as feridas dessa época, e eu pude respirar em paz. Mas agora, aqui estava eu, de frente para o meu pior pesadelo atualmente.

Kyle White.

  Ele me encarava com aqueles olhos com segundas intenções que eu jamais me esqueceria. Seu braço sangrava por ter levado um tiro a poucos segundos atrás, mas um sorriso divertido era persistente em seus lábios.

—Quem deixou que ele entrasse?

  A pergunta que eu fiz foi feita em alto e bom som, tanto para os meninos quanto para os nossos homens. Todos estavam congelados e se encarando.

—Eu, chefe.—um deles disse se aproximando.—Me perdoe, eu não sabia que...

Um tiro foi ouvido e seu corpo já estava no chão agonizando em dor.

—Não quero que suponham nada, ou morrerão.—disse séria.

—Você não precisava ter feito isso, Alexia!—Kyle disse encarando o morto.—Eu que o convenci!

—E ele morreu por causa sua.—disse rápido.—Viva com isso.

—Você não precisa fazer isso, ele cometeu um erro pequeno, eu que o convenci...—Kyle disse se aproximando.

—Eles parecem dois namorados discutindo a relação...—Jonas sussurrou.

—Pessoas morrem o tempo todo, tente se acostumar com isso.—disse me levantando e indo até Kyle que não se moveu.—Eu sou assim, então não perca o seu maldito tempo com algo que você claramente nunca vai alcançar, seu inútil de merda.

—Você não está falando sério.—Kyle disse rindo abafado.

Kyle se aproximou. Estava a poucos centímetros de mim.

—White, eu acho melhor você...—Cailean começou a dizer.

—Porra.—Kyle disse rindo encostando a testa no meu ombro assim que enterrei uma faca pequena em sua barriga.

  Puxei seu cabelo o fazendo me encarar. Haviam lágrimas em seus olhos. Patético.

—Vê agora? Pare de imaginar coisas.

—Se eu sobreviver, você aceita sair comigo?—ele perguntou enquanto seu corpo tremia.

—O que?

—Caso eu sobreviva a isso...—começou novamente.—Você aceita ir a um encontro comigo?

—Doidinho da cabeça.—Jonas disse rindo e saindo da sala.

—Você não vai sobreviver.—disse rindo.—Soltem ele longe daqui, deixe que apodreça.

—Se eu sobreviver...

—Se sobreviver, eu saio com você.—disse rindo.—Mas você não vai.

  Vi Kyle sorrir fraco e suspirar.

—Que alívio, achei que iria embora novamente com o seu não.—ele disse parecendo aliviado.—É revigorante saber que você está começando a ceder.

—Não seja tolo. Eu irei destruir você.

—Eu aceito de bom grado toda a sua ira, minha princesa.—ele disse me olhando nos olhos.—Seja como um ciclone e me leve para longe com você, aceito tudo que propor.

—Eu vou fazer você queimar, White.

—Dançaria no fogo, se me pedisse.

—Eu não preciso de você.

—Claro que não precisa de mim.—ele disse rindo.—Você é incomparável Alexia. É como um deus furioso. Ninguém te para e ninguém se aproxima o suficiente para apreciar sua beleza. É verdade, você não precisa de mim, mas eu ainda sim, faria você entrar onde quisesse, sair quando bem entendesse. Você quer súditos aos seus pés? Eu lhe dou. Você quer dinheiro? Eu te dou. Você quer fama? Basta pedir. Quer carros e casas de luxo? Você terá. Quer que eu compre a porra do shopping? Eu só preciso fazer um pix.—disse aproximando a mão do meu rosto.—Eu te dou esse mundo inteiro, jogo ele aos seus pés, e ainda te ajudo a queimar tudo. Seja minha, e eu passo por cima de qualquer coisa pela sua felicidade.

  Eu o encarava sem nenhuma reação. Kyle White havia se declarado? Mas por que?

  Ficamos nos encarando enquanto seu dedão ensanguentado acariciava minha bochecha. Eu não tive qualquer reação, e apenas fiquei ali, sentindo o toque quente de sua mão. Eu não desviava o olhar, porém sabia que todos nos olhavam com afinco.

—Você é louco.

—Você pode até estar certa, mas sabe que eu não estou mentindo. Sei que não é burra e enxergaria mentiras de longe.—ele disse se aproximando mais.—Você nasceu pra ser minha, Alexia.

—Eu não nasci pra ser de ninguém.

—Não Alexia. Esta enganada.

—Enganada?—perguntei rindo.—Quer morrer?

—Sim, enganada. Você nasceu pra ser exclusivamente minha. E eu vou fazer esse mundo de cabeça pra baixo, até ter você.

—Você está lutando um jogo que já está perdido.—avisei.

—Sempre fui bom com jogos, estou confiante.

  Kyle White estava testando toda a minha paciência. E eu até poderia matar ele, mas por que eu não conseguia?

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