ALEXIA FOX
—Acho que eu vou vomitar.—disse sentindo meu estômago revirar pela trigésima vez.
Eu odiava viajar de avião, mas viajar em um navio, havia entrado para a pior experiência da minha vida. A sensação do barco mexendo pra lá e pra cá repetidas vezes, dava uma náusea insuportável! Eu já havia reclamado umas quarenta vezes, tomado quatro remédios de enjôo e vomitado umas cinco. Me sentía pior que mulher grávida.
—De avião não teríamos que escutar ela resmungando.—Theo disse impaciente.—Eu teria dopado ela e pronto, ia acordar só quando chegássemos.
—Vai pro inferno Theodoro!—alterei o tom de voz, já estressada.
—Eita, chamou pelo nome completo...—Jonas disse rindo.—Será que ainda seremos os cinco até o final dessa viagem, ou vamos nos tornar os quatro?
—Ela não mataria vocês, não inventem.—Kyle disse se aproximando de mim pra me dar um pouco de água.
—Quem te contou essa mentira?—Gabe perguntou rindo alto.
—Vocês são amigos, ué.—Kyle disse confuso.—Amigos não matam outros.
—Amigos por conveniência.—Jonas corrigiu.
Kyle ficou em silêncio, nos observando. Provavelmente pensando em como isso dava certo pra gente, sendo que não tínhamos afeto um pelo outro. A vida deles de fato não importava muito, era apenas algo que começou a existir, então se deixasse de existir não faria diferença.
—A Alexia só não mataria o Cai.—Jonas disse suspirando.—Ela já me deixou em coma três vezes, se quer saber.
—Por que não o Cai?—Kyle perguntou curioso, enfiando o nariz novamente onde não era chamado.
—Cailean pra você, abutre.—Cai o corrigiu enquanto jogava algum jogo de celular qualquer para passar o tempo.
—Eles tem algo a mais, então o Cai não.—Gabe disse se levantando e saindo, indo para mais longe de nós.—Mas nós com certeza sim!—gritou antes de sumir para dentro do navio.
—Vocês já ficaram?—Kyle perguntou me encarando sério.
Naquele momento que os olhos de Kyle bateram nos meus, meu coração acelerou. Como se eu estivesse fazendo algo mais errado que assassinato. Sua boca entreaberta de repente ficou atraente, e o ponto de interrogação estava nítido em sua testa. Prendi a respiração, porém não disse nada.
Pela primeira vez Kyle White havia feito meu coração acelerar.
—Não.—Cai respondeu sem nos encarar.
Não disse nada, apenas senti o clima tenso se dissipar, dando um lugar a um sorriso acolhedor e sincero de Kyle, que me olhava como se eu fosse uma pedra preciosa prestes a se quebrar.
—Quer uma bala?—Kyle perguntou me olhando preocupado, enquanto eu estava pendurada na beira do barco com medo de vomitar de novo.
—Ela é alérgica a corantes.—Cai falou se levantando e saindo de perto, provavelmente irritado pela simples existência dele.
Kyle suspirou e abaixou a cabeça, parecia frustrado por Cai sempre saber mais e ter mais intimidade comigo.
—Cuide de você mesmo.—disse o empurrando.
Ele me encarou alguns segundos e sorriu fraco. Era bonito... Seu sorriso.
—Cuidar de você é prioridade.—ele falou fazendo um joinha com os dedos.
—Se continuar com essa viadagem, sobreviver no oceano será sua próxima prioridade, me ouviu?
—Sim, senhora.
As vezes parecia que eu estava conversando com um cachorrinho, que só concordava com tudo que eu dizia. Puta que pariu!
—Para de ser assim, pelo amor de Deus!—falei impaciente.—Ou te jogarei no mar!
—E você acredita em Deus?
—Kyle!
—Desculpe, irei te deixar sozinha, qualquer coisa grita.
Kyle saiu entrando na cabine do capitão do navio. Enfim estava sozinha em silêncio. Me sentei e fechei os olhos, precisava relaxar desde o dia que o maldito White chegou. As vezes eu queria entender como foi que tudo acabou assim, mas prefiro acreditar que tudo tem um motivo, e que em breve eu descobriria. Me aproximar de Kyle era um jogo extremamente arriscado, deixar com que ele olhasse mais de perto o meu círculo social era uma jogada que precisava ser feita com toda a paciência possível, ou tudo acabaria em morte.
Na realidade, essa proximidade rápida, deixou algumas interrogações na minha própria cabeça. Claro que a família dele e os negócios que eles tinham era algo grande, e para isso eu precisaria agir com paciência, mas sempre que eu olhava pro otário do White, algo me incomodava. Misericórdia não podia ser, então o mínimo é que fosse atração sexual. Ele era bonito e seu corpo chamava a atenção, seus olhos eram doces, provavelmente ele viveu uma boa vida. Ele tinha olhos de quem não passou por muitas tribulações, cercado de amor. E eu estava prestes a arrancar tudo dele, tudo de bom que ele tinha ia sumir, e ele me odiaria.
E talvez fosse melhor assim. Kyle me odiar seria uma benção, ele me ver como a vilã que eu sou era necessário, precisava que ele me culpasse e me odiasse. Só assim ele poderia sobreviver a tudo quando chegasse ao fim.
Ser sincera comigo mesma era algo primordial na vida que eu levava, mas Kyle era uma auto-sinceridade que eu não conseguia ter, e eu precisaria lidar com isso da maneira que iria me favorecer. Ele queria algo que eu não poderia oferecer, via coisas em mim que não existiam, e em breve ele veria isso.
Assim que chegamos na ilha particular de Kyle, os meninos desceram do navio e me silêncio, apenas olhando ao redor, analisando tudo provavelmente.
—Que caras são essas? Não vou matar vocês.—Kyle disse em um tom de humor.
—Não podemos prometer o mesmo.—Cai disse suspirando.—Cheio de mosquito, ótimo.
Um pouco mais distante, um homem de cerca de 1,95 vinha andando na nossa direção. Ele era incrivelmente bonito. Os olhos azuis eram visíveis a longas distâncias, seu cabelo preto dava um destaque maior na pele branca, o fazendo tão bonito quanto uma atração turística.
—Esse é Tyle, meu melhor amigo e braço direito.—Kyle falou passando o braço no ombro do homem que me mandou encarava sério.
—Para uma das maiores assassinas do país, você é bem pequena.—ele disse estendendo a mão com um sorriso sarcástico no rosto.
—Tudo bem, eu tenho armas grandes, e ambições maiores ainda.—respondi retribuindo o aperto de mão.
—Algo tem que compensar.—Tyler disse me olhando mais atentamente.—Soube que torturou meu amigo.
—Quem? Eu? Jamais, parei com o essas coisas a algum tempo.—disse soltando sua mão e cruzando os braços.—Talvez seu amigo seja sadomasoquista, já o perguntou?
—Sado o que?—Kyle disse arregalando os olhos.
—Espero possamos nos dar bem.—Tyler disse colocando as mãos no bolso.
—Veremos.—sorri fraco.
Os meninos estavam logo atrás de mim, apenas observando. Eles sabiam a hora certa de fazer piadas e se intrometer. Apenas deram um aceno com a cabeça para Tyler que fez o mesmo, os analisando.
—Vamos para dentro, o dia será longo.—Tyler disse pegando a bolsa que estava na minha mão.—Os empregados irão descarregar suas malas, não precisam pegar nada.
Não disse nada, apenas encarei os meninos e acenti com a cabeça, dando a entender que eu estava de acordo. Cai me olhou contrariado, mas não contestou, apenas seguiu o que eu disse. Sem brigas.
O lugar era realmente lindo, a casa de dois andares com uma estrutura completamente de vidro era impecável. Transar em um lugar assim sem que ninguém visse seria impossível. O gramado era bem cuidado, e havia alguns coqueiros na entrada, fazendo tudo ficar mais rico.
—Bonito?—Kyle perguntou se aproximando, andando ao meu lado.
Era realmente lindo. E ficaria ainda mais lindo pegando fogo.
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• DEVIL'S CLAW •
RomanceAlexia tinha demônios demais para um corpo só. Ela era obstinada e uma assassina a sangue frio. Ela tinha muitas escolhas, mas nenhuma lhe informava o caminho certo a seguir. Amores, assassinatos e uma guerra de emoções mal compreendidas. Ela ter...