• DEVIL'S CLAW •

Capítulo 23

ALEXIA FOX

  Eu provavelmente estava delirando ou algo do tipo, por que não fazia o menor sentido tudo isso que estava acontecendo.

—Onde Kyle está?— perguntei ignorando sua declaração.

—Depois de tudo que eu falei, sua única preocupação é ele?—Jonas questionou.

—Jonas, você enlouqueceu! Olhe pra si mesmo, você não é assim!— falei com raiva.

  Eu podia sentir meus olhos ardendo, enquanto eu tentava segurar o choro, mas nada conseguia manter meu coração na defensiva nesse momento. Crescer com alguém e depois ver essa pessoa se virar contra você, é algo que fazia meu peito doer.

—Como é ter três homens atrás de você? Deve estar com o ego nas alturas.— disse rindo e se aproximando.—Minha briga com Cailean é antiga, mas o Kyle...— ele fez uma pausa e respirou fundo.—Esse verme mudou o jogo completamente.

—Não se aproxime.—disse com firmeza.

—Ele chegou e tirou tudo que eu sempre quis. Você, uma família.

—Essa criança não é do Kyle!— disse séria.

—Essa criança é minha.

  Olhei pra trás e vi o Cai. Ele estava com uma arma em suas mãos, mirando em Jonas. Sua feição de poucos amigos dizia muito nesse momento, memórias afetivas do passado não o impediriam de assassinar ele a sangue frio.

—Sua?— Jonas perguntou me encarando com raiva.

—Minha criança, meu sangue.— Cai disse pausadamente.

—Você tem um mal gosto terrível, sabia?— Jonas disse me encarando.—Chega ser deprimente olhar pra você agora.

  Seu semblante era de nojo e raiva, algo que nunca havia visto em Jonas. Ele estava cego pelo ódio, estava perdido.

—Como se você fosse uma boa opção.— Cai disse rindo.— Me poupe!

—Mas ela ainda escolheu o Kyle, não é?— Jonas disse rindo baixo.—Mas chega de brincadeira, eu não estou com um bom humor hoje.

  Dito isso, vários homens armados apareceram, mirando suas armas na nossa direção. Dei um passo pra trás e senti as mãos de Cailean na minha cintura.

—Vai ficar tudo bem.— sussurrou em meu ouvindo.—Vocês vão ficar bem.

—O que? Vamos todos fi...

  Antes que eu pudesse terminar de falar, meu corpo foi jogado para trás e a porta foi fechada. Der repente uma sensação de deja-vu tomou conta de mim. Senti alguém me puxar com força, me impedindo de abrir a porta assim que os barulhos de tiro começaram.

—Temos que ir! — a voz de Kyle ressoou em meu ouvido.—Não podemos esperar mais!

  Os tiros não paravam, e meu coração se apertava cada vez mais.

—Eu não vou deixar ele pra trás!— disse empurrando Kyle que se mantinha empenhado em em segurar.

—Peço que me perdoe, mas estou cumprindo uma ordem dele nesse momento.

  Kyle me pegou no colo e começou a correr comigo daquele lugar. Conforme ele se afastava, tudo ficava em câmera lenta, como se esse momento fosse aquela lembrança que passaria nos meus olhos no dia da minha morte. Os barulhos dos tiros der repente cessaram, e pelo corredor só podia-se ouvir meu choro abafado e o silêncio agonizante.

   Kyle parou de correr e me colocou no chão, mas minhas pernas fraquejaram e eu caí.

—Alexia!— disse me segurando.

Eu não conseguia ouvir nada, apenas o som dos tiros que ainda ecoavam não minha cabeça.

—O carro está na entrada. Não parem até chegarem no aeroporto!— Gabe disse ao se aproximar com Theo, completamente ensangüentados.

—O que vocês pensam que estão fazendo?— perguntei ainda incrédula.—QUE MERDA VOCÊS ESTÃO FAZENDO?

—Salvando sua vida.—Theo disse suspirando.—Esse hospital está repleto de homens armados, todos a nossa procura, estamos em desvantagem e precisamos ganhar tempo.

—Não.— disse rindo sem acreditar no que estava ouvindo.

—Estamos seguindo o plano.—Gabe disse sério.

—Plano de quem?

—Cailean.—Kyle respondeu sem me olhar.

—ALEXIA!— ouvi a voz de Jonas ecoar pelo corredor.

— Rápido, estamos ficando sem tempo.— Gabe disse entregando uma arma pra Kyle que a pegou depressa.— Vamos atrasar eles o máximo que conseguirmos.

—Isso é suicídio!— disse chorando.

  Gabe e Theo me olharam de forma triste, e se aproximaram, me abraçando. Eu podia sentir que isso era uma despedida, eu não ia veria mais.

—Não, não... por favor!— disse em um choro baixo, engasgando nas próprias palavras.

—Você precisa viver uma boa vida Ale.— Gabe disse baixinho.—Precisa ser feliz.

—Conto com você.—Theo disse me olhando com um sorriso doce, depositando um beijo em minha testa.

  Kyle segurou minha mão e me puxou, correndo comigo para mais longe. Deixando as únicas pessoas que me mantinham sã, para trás. Uma grande parte do meu coração. Minha essência vital.

   Tiros e mais tiros. Os barulhos estridentes sinalizando mais e mais mortes.

  Sabe aqueles momentos em que tudo fica em silêncio, e parece que o mundo para? Eu estava vendo tudo em câmera lenta.

  Assim que olhei para trás, vi Jonas aparecendo no corredor e mirando a arma em nossa direção.

  Vi Kyle cair ao levar um tiro na perna.

  Vi ele gritar algo. Mas não conseguia ouvir.

Comecei a correr e assim que olhei para trás, Kyle me olhava com um sorriso triste e satisfeito.

  Vi ele sussurrar um: Eu te amo, antes de levar um tiro na cabeça.

  Algo alterou a química do meu cérebro naquele momento, algo em mim morreu. Eu podia jurar que não havia um pingo de compaixão no meu corpo. Nenhuma lembrança me faria voltar atrás, nenhuma memória doce me convenceria do que eu estava pra fazer.

Ele disse que recuperaria tudo que eu tirei dele.

  Mas antes disso, eu me vingaria por tudo que ele arrancou de mim.

  Eu o mostraria, o que é ser uma assassina a sangue frio.