Capítulo 20

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ALEXIA FOX

   Abri os olhos e a claridade fez a minha cabeça doer instantaneamente. Salas brancas com boa iluminação fazem a visão de qualquer pessoa que acorda de um desmaio doer. Olhei ao redor e não tinha ninguém, havia um acesso no meu braço e os aparelhos ficavam fazendo um barulho irritante de bip,bip,bip.

   Me sentei na cama e respirei fundo. Tudo havia sido um pesadelo? Eu não estava grávida? Me levantei e andei até a porta, com as pernas ainda fracas. Abri a porta e olhei o corredor, e vi Gabe, Theo e Kyle a uma certa distância conversando. Tentei ler a linguagem labial e entender o que estavam conversando, mas os olhos de Kyle foram mais rápidos e me viram, fazendo com que os meninos olhassem para trás.

—Alexia?—Kyle chamou.

   Eu sei que cada um reage de uma forma, e as vezes não conseguimos agir com sanidade, mas o que eu fiz foi a cena mais caótica e aleatória que já aconteceu.

   Eu simplesmente comecei a correr pelo hospital desesperadamente, com os meninos atrás de mim a todo vapor.

—Por que você está correndo sua maluca?—ouvi Gabe gritar.

   Corri mais rápido e consegui despistar os idiotas, peguei um jaleco que estava dobrado no balcão e vesti, entrei em uma sala e fechei a porta, fechei os olhos focando em apenas respirar com calma, tentando diminuir a frequência cardíaca.

—Você é a novata?

Olhei pra trás e prendi a respiração.

Pediatria. Merda.

—Sou sim.—disse sorrindo em nervoso.

—Certo, você vai estar comigo hoje, fiquei responsável pelos recém nascidos, então é apenas ficar observando eles e os fazer dormir ou dar leite caso chorem, em algum momento eles são levados para os pais, mas enquanto isso é com a gente, entendeu?

—Sim.—respondi forçando um sorriso.

—Essa ala é bem importante, porque são filhos de mães que morreram no parto,  então quando eu disse pais, é realmente só os pais, ou algum familiar.—disse naturalmente.

—Eles já perderam as mães?

   Olhei ao redor e tinha em torno de vinte bebês, todos dormindo serenamente, como se os problemas do mundo lá fora não os afetasse em nada. Saber que já perderam o ser que os deu a luz... meio que mexeu comigo, devo confessar. É realmente muito triste.

—Sim. É de partir o coração, mas não temos como ajudar, isso é tudo que podemoa fazer por hora, até que os familiares aceitem a perda e venham buscá-los.

—Já aconteceu de não aparecer ninguém?—perguntei me aproximando de um dos bebês e segurando seu dedinho.

—Sempre.—respondeu suspirando.—As vezes nem queriam os filhos, então devem considerar uma benção a morte da mãe, e vão embora escondidos.

—E os abandonam?

—Sim.—seu tom de voz era triste, mas parecia já estar acostumada.—Acontece com bastante frequência, eles são mandados para orfanatos, e com sorte adotados.

—E se não tiverem sorte?

—Aos dezoito vão para as ruas.

    Ruas? Eles são mandados embora?

—Vou pegar mantinhas novas, já volto.—disse se retirando.

    As coisas não são fáceis nem mesmo para os bebês, já abandonados desde antes de nascerem. Levei a mão até a minha barriga e respirei fundo, será que eu era um ser tão perverso assim? Sei que ainda não tinha um bebê formado, mas eu seria tão ruim quanto as pessoas que abandonam bebês nos hospitais?

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