Capítulo 13

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ALEXIA FOX

  12 anos de idade.

—Não, Theo, eu não gosto desse filme!—disse brava.—Outro!

—Não, esse!—retrucou bravo.

—Jonas!—chamei pelo único que poderia ficar a meu favor.

—Sim?—ele perguntou aparecendo da cozinha.

—Manda o Theo colocar Peter pan!—disse fazendo beiço.

—Theo.—Jonas disse suspirando.

—Você é um pau mandado de mulher.—Theo resmungou saindo da sala.

—Pronto.—Jonas disse piscando pra mim e voltando para a cozinha.

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JONAS •BÔNUS •

   Alexia conseguia ser modesta quando queria. Eu a amava. Ela era como sol em dias chuvosos. Ela era a razão pela qual eu nunca aceitava garotas, e pela qual eu nunca ficava com ninguém. Ela era o meu puro e genuíno bloqueio emocional.

—Está ótimo, ansioso para o seu aniversário?—ela perguntou-me olhando dos pés à cabeça, analisando a roupa que eu estava usando.

—Não muito.

—Então se anime, eu estarei lá, cantarei parabéns mais alto que todo mundo!

   Alexia tinha seus demônios, era realmente uma assassina a sangue frio, mas às vezes ela era carinhosa sem ao menos perceber, porém nunca a contei sobre esses fatos, ou a assustaria. Emoções eram um assunto complicado para alguém que nunca soube amar nada.

—Contanto que esteja presente, eu aguento toda essa chatice.—disse sorrindo e apertando seu nariz.—Obrigada Ale.

  Amar Alexia era como pular de um precipício sem paraquedas, como entrar em um tiroteio sem colete a prova de balas. Mas estava ok pra mim. Estava tudo bem a amar a distância e em segredo. Eu nunca gostei de matar pessoas. Eu gostava dela. E faria de tudo para estar ao seu lado, mesmo que não fosse como eu sonhei.

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ALEXIA FOX

  Não existia mais os cinco. Agora, existia apenas três de nós. Gabe e Theo se mantiveram em silêncio ao meu lado, e Cailean sumiu desde então.

  A noite estava nublada, e o velório de Jonas seria às oito da manhã. Seus pais estavam inconsoláveis. Os meus pais voltaram rapidamente de viajem quando receberam a notícia, as famílias eram grandes amigas. Kyle me deu espaço e não mandou mensagem, o que foi um alívio. 

  Eu estava no quarto de Jonas, em sua casa. Sentada na cama, olhando tudo ao redor. Ele amava revistinhas, animes e basquete, era visível, seu quarto estava repleto de posters e quadros. Sua cama arrumada e com o perfume amadeirado refrescante. Ele tinha um gosto único.

  Abri seu guarda roupa e o seu cheiro logo me invadiu, e as lágrimas voltaram a cair, mas dessa vez com certa paciência. Andei até sua cômoda, e lá havia o colar que ele mais gostava, um pingente de arma bem pequeno brilhava em puro prata. Peguei o colar e me sentei na cama, abraçando seu travesseiro, inalando seu perfume que em breve não se faria mais presente.

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  Acordei com o despertador. Encarei o teto por quinze minutos e levantei. Tomei um banho rápido, coloquei o vestido preto que minha mãe havia mandado e amarrei o cabelo. Pendurei o colar de Jonas no pescoço e coloquei um salto nos pés. Desci as escadas e avistei todos na sala, me esperando. Meus pais, os pais de Jonas, os pais dos meninos e Kyle. Todos em silêncio, pareciam estar perdidos em seus próprios pensamentos. Ninguém falou nada, apenas se levantaram e foram todos para os carros.

  Kyle foi no carro de Theo com Gabe, e eu fui com meus pais. Minha mãe estava de óculos, escondendo as olheiras de quem chorou durante a noite, e meu pai mal conseguia esconder a tristeza, Jonas era como um filho pra ele, provavelmente seu luto não passaria tão cedo.

  Assim que chegamos no cemitério, avistamos o caixão já posicionado ao lado do túmulo. Me aproximei aos poucos e olhei o quão profunda aquela cova era. Um homem se aproximou e abriu o caixão, deixando o rosto de Jonas a mostra.

  A mãe dele, a tia Anne, logo caiu no chão aos prantos, sendo apoiada por seu marido. Me aproximei dele e novamente as lágrimas caíram.

—Oi.—disse tentando controlar a respiração.

  Theo e Gabe se aproximaram e seguraram minhas mãos, passando algum tipo de positividade. Mas era totalmente impossível.

O padre chegou e nos sentamos nas cadeiras para uma breve missa. Havia alguns familiares e conhecidos, poucas pessoas, Jonas sempre foi reservado e nunca namorou, então não teve muitas pessoas.

—Bom dia a todos.—o padre disse abrindo a bíblia.—Em dias como esse, sempre nos perguntamos o por que Deus nos tira pessoas tão boas. Jonas não era somente um amigo querido, era um filho exemplar e atencioso com seus pais e com a igreja, sempre fazendo trabalho voluntário no orfanato e no abrigo de animais, era um homem de princípios. Hoje nos despedimos dele, não com dor, mas com a certeza de que algum dia o reencontraremos no paraíso.—disse finalizando.—Gostaria de chamar Alexia, para dar as palavras finais e se despedir do seu grande amigo e irmão.

  Meus pés andaram até o padre quase que no automático. Eu estava no automático. Era tudo programado. Não havia pesar algum.

—Jonas não era somente um amigo.—falei segurando o choro.—Ele era o irmão que a vida me permitiu ter e escolher. Jonas sempre cuidou de mim como sua irmã caçula que não sabia se proteger, mesmo que eu fosse mais forte e corajosa, ele sempre se colocava na frente para que nada chegasse até mim. Eu nunca soube direito o que se passava na cabeça dele, e me arrependo de não ter conversado mais com ele sobre tudo, se ele amava alguém, se havia algo que ele queria com afinco, eu nunca o perguntei. Hoje, eu me despeço da maior parte da minha vida, do melhor amigo e irmão. Jonas, você foi, e sempre será a minha maior fonte de força e inspiração. Tenho certeza que todos aqui presentes, compartilham do mesmo sentimento que eu. Você provavelmente deve estar em algum campo de girassóis, aproveitando a vista sem a gente, certo? Seja paciente, em breve vamos nos encontrar. Eu amo você.

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   Na minha pobre cabeça, saber que a Alexia nunca vai saber que o Jonas a amava, e que só tinha começado a matar para ter algo em comum com ela, e que ele nunca pôde se confessar, simplesmente acaba comigo.

Como autora, estou destruída, e com saudade do Jonas.

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