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HEIDI

O que chamavam de "A Casa" era uma mansão escondida do mundo, dentro de um terreno repleto de árvores altas e fechadas que impediam que curiosos se aventurassem a espionar, além de fortemente segura. Eu e Rafael, na limousine que a Sra. Clô utilizava quando se deixava representar em grandes eventos, percorremos a distância imensa entre o primeiro portão e o segundo em silêncio.

Ele só falou de fato, quando nossos convites foram validados pela segunda portaria, onde, logo após esta, podíamos avistar a mansão de estilo colonial, bem conservada e iluminada com todo requinte para recepcionar seus convidados.

— Lembre-se, mantenha o máximo de silêncio que conseguir. Responda apenas às pessoas interessadas no seu contrato. Os homens, os que aqui estão em busca da garota ideal, só devem ter contato com você após a negociação. Enquanto isso, finja beber, seja misteriosa e ao mesmo tempo, gentil. Eu ficarei ao seu lado o tempo todo, não permitirei que ninguém ultrapasse o limite.

Concordei sem nada dizer. As poucas horas que passaríamos ali seriam definitivas e cada célula do meu corpo concentrava toda a sua energia nisso.

— Não fale dos seus filhos. Eu sei que é importante e que em algum momento será descoberto, mas não antes das negociações. Você é Jade, uma garota que sonhava em ser modelo e sobre a qual nossas atenções recaíram.

Concordei outra vez em silêncio.

O carro parou diante da casa, recepcionistas nos receberam com toda a cordialidade possível. Do lado de fora poucas pessoas faziam o mesmo que nós, deixavam seus carros e adentravam a casa sem nenhum tipo de conversa. Muitos homens, algumas mulheres, nenhuma do meu porte.

Rafael posicionou a mão na base da minha coluna sem de fato me tocar. Eu o respeitava. Ele era filho da Sra. Clô, poderia tomar todo o tipo de liberdade, se divertir no processo, no entanto, o que fazia era tratar cada detalhe da maneira mais profissional possível, sem avanços, sem cobranças ou imposições. Ele também dedicava toda a sua atenção ao seu objetivo, conseguir o melhor preço possível para mim.

Assim que entramos, uma onda de nostalgia me dominou. Garotas equilibravam-se nos tecidos acrobáticos e faziam um lindo trabalho no centro do salão onde todos se reuniam. No chão, acrobatas, cuspidores de fogo, mágicos, faziam um espetáculo. Por um segundo me permiti ser outra vez a Jade que dançava no céu, a garota sem um destino correto, com a única certeza de que não tinha coração, mas teria duas crianças para cuidar.

— Pegue — ele me entregou uma taça de champanhe. Fingi o primeiro gole, como me ensinaram a fazer na escola de acompanhantes da Sra. Clô. — Vamos circular.

Outra vez com a mão na base da minha coluna, ele me conduziu pelo salão. Eu usava um vestido justo ao corpo, porém, a segunda pele repleta de pedraria impedia que a peça se tornasse vulgar ou oferecida demais, além de sinalizar todos os movimentos do meu corpo. Caminhei como me ensinaram, observei catalogando cada detalhe, contudo, sem demonstrar o que fazia. Uma boa garota não demonstrava tal interesse.

Muitos homens me olhavam quando cumprimentavam Rafael, no entanto, nada diziam. Não era a hora. Eu sabia que ele precisava me exibir, fazer com que as pessoas certas me notassem, que os homens certos me desejassem, antes que buscássemos os nossos objetivos. E foi o que fizemos no primeiro momento.

Assistimos ao espetáculo, eu fingi beber, Rafael conversou com algumas pessoas enquanto eu cumpria com a minha parte, me mantinha séria, distante e enigmática. Outras garotas desfilavam pelo local com a mesma finalidade, algumas já conhecidas, com seus acompanhantes, outras em busca de um, até que notei a mulher ao fundo, cercada por mais três pessoas, os olhos fixos em mim.

JEAN KUHN - A REDENÇÃOOnde histórias criam vida. Descubra agora