HEIDI
— Você está louca? — Minha mãe rosnou.
Eu sabia que ela não gritou ou me bateu porque os bebês dormiam ao lado, em suas cadeirinhas. Escolhi aquele momento para contar sobre o que faria exatamente porque sabia que ela não poderia dar um escândalo.
— Eu te criei dentro de uma casa de criminosos, com mulheres sendo machucadas todos os dias, com tráfico de mulheres, drogas e armas, e ainda assim te protegi disso tudo. Pra quê? Pra você me dizer que vai ser puta?
— Dama de companhia — eu expliquei com calma. — Acha mesmo que depois de tudo o que passei essa é a decisão que eu tomo sorrindo?
— Essa não é a solução — ela demandou com raiva. — A menina está bem. O governo uma hora ou outra libera a medicação e nós podemos continuar com todos os planos.
— E quais são os planos? O pouco que conseguimos juntar com meu trabalho, as rifas e a vaquinha on-line? Mãe, não conseguiremos seis milhões assim.
— E você acha que conseguirá virando vagabunda de rico? Em São Paulo? Tem ideia do que está me dizendo, Heidi?
— É a forma mais rápida — eu repeti. — Eu vou para aquela agência — afirmei, porque disse a minha mãe que seria uma agência, sem custos iniciais, e que através dessa, eu conseguiria um homem rico disposto a me sustentar com o que existia de melhor. — Continuaremos com o que fazemos, mãe. Só que eu poderei depositar mais dinheiro na poupança.
— Eu não concordo.
— E como vamos fazer quando Ayla não conseguir mais respirar sozinha? O remédio não desfaz o mal causado, ele apenas impede que progrida. Não podemos esperar que a solução caia do céu.
— E a solução está na sua prostituição — acusou.
— Sim. Porque eu seria puta de rua se fosse necessário. Se isso me ajudasse a ter a medicação da minha filha o quanto antes, droga!
Ela me deu um tapa no rosto que ardeu mais em minha alma do que no corpo. As lágrimas desceram ainda que eu lutasse contra elas de todas as formas possíveis.
— O que você está me pedindo é que eu mantenha a minha dignidade enquanto assisto minha filha morrer — eu disse em dor. — Você faria isso se fosse por mim? Não. Porque você preferiu a proteção de homens que maltratavam mulheres para conseguir me criar e me proteger. Você fez o seu sacrifício por mim, agora eu faço o meu pelos meus filhos, mãe.
Ela levantou do sofá e se afastou. Eu sabia que Dona Bertha também chorava. Aquela não era uma decisão simples e fácil. Não era algo que conversaríamos sem dramas e sem sofrimentos. Ainda assim, era o que tínhamos. E mesmo que minha mãe não se conformasse, ela entendia que seria a maneira mais rápida.
— Você disse que eles vão te ensinar — ela reiniciou a conversa. — Não é chegar lá e conseguir o contrato. Isso pode demorar mais tempo do que temos.
— Eu vou me dedicar, mãe. Aprendo rápido. Não consegui me manter no circo por oito meses fazendo algo que jamais me imaginei fazendo? Eu consigo. Vou conseguir a aprovação, o contrato e o dinheiro. Por favor, esteja comigo nisso. Eu terei que ir embora e as crianças...
— Eu cuido delas. Manterei os cuidados. Farei como combinamos — ela assegurou sem me olhar.
Demoraria para minha mãe me encarar outra vez. Ela precisava digerir aquela decisão e eu, enfrentar.
— Obrigada, mãe.
Naquela noite, eu não dormi. Fiz minha mala. Poucas coisas para levar, afinal de contas, eu voltaria a ser Jade, mudaria de vida, de comportamento e de jeito. A vida me reconstruiria, desta vez, por um objetivo maior. Coloquei meus filhos na cama comigo e os observei como se precisasse gravá-los na memória.
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JEAN KUHN - A REDENÇÃO
RomanceNo livro Noah Moretti - O CEO que me protegeu os leitores conheceram o personagem Jean Kuhn. Agora terão a oportunidade de adentrar no perigoso, instigante, apaixonante e quente universo desse homem tão bruto quanto cheio de segredos. Vocês estão pr...