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JEAN TRÊS MESES DEPOIS

— Quase todos os membros confirmados já estão alojados, senhor.

Flávia, a responsável pelas garotas que mantínhamos na ilha, e a minha pessoa de confiança desde que reorganizei a bagunça deixada por meu irmão, avisou, às minhas costas, de algum lugar em meu escritório. Soltei a fumaça retida nos pulmões, os olhos fixos no deck iluminado por tochas, por onde os últimos membros chegavam.

— Peça a Álvaro que venha até aqui — eu disse sem olhá-la e bebi o restante do meu uísque.

— Sim senhor.

A porta fechou, o que indicava que eu estava sozinho. Não havia dúvidas quanto a isso. Ninguém ousaria entrar em meu escritório, ou em qualquer outro lugar onde eu estivesse, sem a minha permissão.

Olhei outra vez a paisagem. Meus homens se espalhavam, quase imperceptíveis, por todo o local, garantindo a segurança. Dois helicópteros e drones guardavam o céu sobre nós e no mar, lanchas fiscalizavam cada ângulo. Ninguém se aproximava sem autorização. Outros homens ficavam à mostra. Era necessário para que todos entendessem que, ainda que trabalhássemos com prostituição, as regras mudaram.

Joel agia como lhe foi ensinado, e como meu pai continuava a fazer na Alemanha. Tráfico de mulheres, exploração sexual, tudo de mais bizarro que o nosso mundo permitia que homens como nós fizessem. Quando eu assumi, minhas regras passaram a valer. Por isso, antes mesmo de tirarmos Joel da jogada, e eu ainda tinha pesadelos com isso, limpamos aqueles que não colaborariam.

Modifiquei nosso modus operandi e passaram a me intitular de "rei das putas". Que assim fosse. Comigo nenhuma mulher se prostituía contra a sua vontade. Por isso, em todos os nossos "clubes" estavam as melhores. Eram bem cuidadas, tratadas e isso fazia com que seguissem as regras com fidelidade, o que também, para a alegria de todos os meus associados e do meu pai, alavancou nossos ganhos.

No entanto, aquele local, denominado apenas de "A Ilha", era a nossa mina de ouro. Comprei a ilha com o intuito de fazer algo mais privado, reservado, exclusivo, quase anônimo. Os membros, selecionados de forma criteriosa, eram as figuras mais importantes não apenas do Brasil, mas de quase todo o mundo. Ganhamos fama rápido e o dinheiro jorrou como se houvesse ali uma torneira aberta.

"A Ilha" era de fato uma ilha, pequena, cercada por pedras, separada do continente o suficiente para que não houvesse forma de identificarem quem frequentava e o que faziam. Negócios importantes foram fechados ali. As melhores drogas, as mais inacreditáveis fantasias e as mulheres mais espetaculares faziam parte do nosso cardápio.

Construí um castelo medieval com tudo o que a ideia nos permitia ter e, talvez, esse seja o nosso ponto mais interessante. Por fora uma fortaleza, por dentro, o que havia de mais luxuoso e confortável para que os membros se encorajassem a deixar grandes quantias em nossas contas, além de presentes inestimáveis para as nossas meninas.

Naquela noite em especial, teríamos o nosso primeiro baile anual. Comemoraríamos um ano de casa e sucesso com todo o tipo de atrações para fazer com que nossos membros se deslumbrassem. O salão principal acolheria os homens e nossas garotas. As exclusivas sabiam exatamente como proceder, as livres fariam as suas escolhas.

Ali nada era forçado, contudo, cada garota que aceitava fazer parte do nosso métier, entendia que sacrifícios significavam, ali dentro, dinheiro. Por isso quase nunca precisei mediar desacordos.

— Mandou me chamar?

Álvaro falou. Eu não o ouvi bater, mas, como meu primo e melhor amigo, eu sabia que era pouco provável que ele tivesse agido como todos os outros.

JEAN KUHN - A REDENÇÃOOnde histórias criam vida. Descubra agora