HEIDI
Lícia não me odiava. Na verdade, ela me via como uma cadela que circulava pela casa e que, quase todas as noites, esquentava a cama do irmão dela. No geral me ignorava, em especial depois que Matheus morreu e eu perdi minha função de babá. E isso depois de me punir por quase um mês por eu tê-los deixado escapar. Como se alguém fosse capaz de impedir Giullia.
Depois disso, e a mando de Jean, ela me deixou em paz. Contudo, a verdade era que nem mesmo Jean se importava comigo. Eu não passava de um corpo quente em sua cama. A pessoa com quem ele descarregava o desespero por perder a mulher que amava.
Engraçado contar isso depois de tanto tempo e relembrar que demorei um ano neste processo, até me rebelar, querer mais, exigir mais e ser enxotada da vida dele como se não houvesse valor no que vivemos. Então, eu fui embora.
Lícia deve ter festejado pelo irmão ter me enxotado. Aquela mulher não o queria com ninguém. Usava suas mentiras para mantê-lo controlado, assumir um poder que ela jamais poderia colocar as mãos. Ela enganava os idiotas com aquela história de que precisou escolher um irmão a outro e que salvou a vida de Jean e Giullia por amá-lo demais.
Eu enxergava Lícia como ela era. Uma interesseira. Armou a morte de Joel, pois com este ela nunca deixaria de ser apenas mais uma mulher dentro daquela casa. Com Jean ela tinha poder, decisão, liberdade. Foi ela quem me colocou como babá de Matheus. Era ela quem me dava ordens para manter os olhos atentos a Giullia.
Nova demais, eu me deixei levar. Apaixonei-me cedo pelo homem que me tratava como uma rainha na cama e depois me desprezava quando seu verdadeiro amor aparecia. Todos eles tiraram proveito de mim. Estava na hora de eu tirar proveito deles.
Lícia não mudou nada desde que deixei a casa. Mantinha aquele olhar soberbo, a postura de quem não se misturava, a arrogância que não enganava. Ela olhou na direção das garotas, aproximou-se apenas o necessário e as observou, avaliando cada detalhe e fazendo solicitações. Quando chegou a minha vez, um pequeno sorriso irônico era o que deixava claro que ela me reconheceu.
Sua inspeção continha aquele tom de quem perguntava "o que você faz aqui?". Eu cheguei a acreditar que ela me expulsaria no mesmo instante, porém algo a segurou. Com toda certeza fora o fato de ter sido Jean a me colocar para fora e não eu ter fugido do seu irmão, o que não me agradava nem um pouco.
Ainda assim, ela se afastou de mim sem nada dizer. Andou até o meio do quarto e se voltou para a gente.
— Eu estou aqui para garantir que encontraremos a melhor garota, mas quem decidirá não sou eu.
Suas palavras fizeram com que a garota da outra ponta se agitasse, no entanto, bastou um olhar gélido de Lícia em sua direção para que ela aquietasse.
— Flávia com certeza explicou como funciona a nossa seleção. São três dias. A pessoa responsável virá avaliá-las e escolherá uma por noite para... averiguar as habilidades. Não se preocupem, enquanto estiverem aqui serão bem tratadas e ao final dos três dias, receberão as diárias acordadas. A garota que ficar será transferida para o quarto que ocupará e conhecerá as normas da casa. Agora...
Ela ergueu uma mão na direção de um dos guardas, sem olhá-lo, e recebeu deste um saco de veludo.
— Coloquem isso — ordenou ao retirar do saco três máscaras idênticas em formato de borboleta no tom azul ciano, como os detalhes que continham nas nossas roupas.
Assim que o fizemos ela caminhou outra vez pelo quarto, analisou uma por uma e se demorou à minha frente com uma expressão estranha, o que me deixou angustiada.
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JEAN KUHN - A REDENÇÃO
RomantizmNo livro Noah Moretti - O CEO que me protegeu os leitores conheceram o personagem Jean Kuhn. Agora terão a oportunidade de adentrar no perigoso, instigante, apaixonante e quente universo desse homem tão bruto quanto cheio de segredos. Vocês estão pr...