14

106 23 1
                                    

HEIDI

Antes de embarcar conversei com minha mãe e avisei que estaria em Florianópolis para a seleção da melhor casa que atenderia ao nosso objetivo. Prometi que, caso não fosse selecionada, antes de retornar a São Paulo, os visitaria para saber como meus filhos estavam. Não havia nenhuma novidade a respeito do quadro de Ayla, só que ela iniciou o tratamento prescrito pelo Dr. Ezequiel e que essa medicação ajudaria a retardar o processo enquanto eu buscava o remédio definitivo.

O problema era que o remédio que buscávamos, e que era o mais caro do mundo, não desfazia danos da doença antes da sua ministração, apenas a impedia de avançar, logo, se Ayla não conseguisse retardar ao máximo a evolução da doença, tudo o que conseguiríamos era mantê-la no mesmo quadro para sempre. E isso me apavorava.

Por este motivo entrei no avião determinada a ser a escolhida. Aquelas garotas, por mais bonitas que fossem e por mais que demonstrassem terem recebido um excelente treinamento, não me venceriam. E elas sabiam que disputávamos uma mina de ouro, por isso, desde o momento em que nos encontramos no quarto, nada dissemos além do necessário.

E, de alguma forma eu sabia que elas, assim como eu, seriam capazes de tudo para eliminar a outra. Por isso, toda atenção valia. Escolhi uma roupa que poderia ser básica, mas que com os acessórios e com a maneira certa de combinar cada peça, faria com que prestassem atenção em mim. Utilizei as joias emprestadas da "escola", fiz uma maquiagem que destacava meus lábios, uma vez que meus olhos já possuíam um destaque natural, sem contar com o alongamento dos cílios e design das sobrancelhas.

Contudo, assim que entramos no aeroporto, Flávia embarcou e nos avisou que precisaríamos tomar um remédio que nos apagaria por horas. Em seguida nossos olhos seriam vendados e assim aconteceria até que estivéssemos no lugar que chamavam de "A Ilha". Ela explicou que estava lá para garantir a nossa integridade, que nada nos aconteceria e que a nossa segurança estava prevista em contrato.

Apesar de sentir medo, não demonstrei. Eles não tomaram meu celular, apenas explicaram que havia uma imensa necessidade de garantir aos membros da Ilha o segredo do local e de quem frequentava. Fui a primeira a aceitar, tomar o remédio e pouco tempo depois, quando abri os olhos, eu estava sentada em uma poltrona confortável, numa sala ricamente decorada, com o corpo dolorido como se eu tivesse dormido por horas infindáveis e um gosto amargo na boca.

— Ah, você acordou — a mulher falou de algum lugar longe de mim.

Olhei ao redor sem reconhecer o ambiente. A janela grande e aberta deixava entrar a brisa e eu podia ouvir o som suave de pequenas ondas se quebrando na areia. Era um som de paz, mas tal sentimento não existia em mim há anos.

— Você precisa de um banho — ela continuou.

Procurei pela voz e encontrei Flávia sentada em outra poltrona, distante do local onde eu estava. Em pontos diferentes, as outras duas garotas dormiam.

— Atrás daquela porta tem um banheiro. Sobre a cama, uma valise com o seu nome, nesta tem tudo o que você precisa. Antes de apresentá-la, faremos alguns exames, então preciso que seja breve.

— Exames? — questionei com a garganta seca e a voz arrastada.

— Iniciais. Apenas para termos certeza de que está tudo bem com você. Recebemos sua ficha e sabemos que você fez os exames há pouco tempo, ainda assim, nossas garotas são cuidadas pelos melhores especialistas.

— Eu entendo.

Levantei com cuidado, ainda tonta e estranhando o fato de ter fechado os olhos em um avião em São Paulo, ainda à noite, e ter acordado em algum lugar em Santa Catarina. Minha bolsa e meu celular não estavam em lugar algum.

JEAN KUHN - A REDENÇÃOOnde histórias criam vida. Descubra agora