12 - Linhas.

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Saíram pelos portões da Mansão Malfoy caminhando lentamente em direção ao centro do bairro, Scorpius olhou para trás observando a majestosa construção se distanciando. Ele poderia dizer que naquela noite fazia facilmente -12 graus, ou era a sensação que ele tinha. Seu rosto ardia contra o vento gelado, seus braços e pernas estavam rígidos.

Caminhavam pelas ruas vazias de Wiltshire às 03:40 da madrugada. A única coisa que se ouvia era o barulho dos seus passos na rua. Scorpius começava a se arrepender de ter aceitado ser arrastado até ali a essa hora. Rosel levava as coisas muito ao pé da letra. Mas ele suspeitava que se não fosse agora, ela nunca mais faria isso.

Eles chegaram ao cemitério e Scorpius abriu o portão, dando passagem para que Rose decidisse o ritmo que iriam avançar.

Aproximaram-se do túmulo de Logan.

Rose ficou observando a lápide branca tempo o suficiente para Scorpius observar o céu no horizonte começar a mudar de cor. Aproximou-se dela e entrelaçou suas mãos, dando apoio para o que ela quisesse fazer.

— Eu acho estranho isso, falar pra um pedra - ela sussurrou.

— No seu tempo Rose.

Dando alguns passos para trás e com as mãos no bolso Scorpius encolheu os ombros tentando se esquentar.

— Oi Logan

Depois de um tempo quieta Rose riu e se virou para Scorpius.

— Isso é ridículo Scorpius.

Ele se limitou a encarar ela e não dizer nada. Esse era um passo que ela precisava dar sozinha, ele não podia forçá-la ou influenciar sua decisão.

Diante do silêncio dele Rose se virou novamente para a lápide e agachou pousando a mão na pedra gelada.

— Oi Logan

Ela tentou novamente em um fio de voz.

— Li sua carta - ela pegou o pergaminho e colocou sobre a pedra - essa que você escreveu enquanto eu dormia. Engraçado você dizer que queria me surpreender, porque você realmente conseguiu me paralisar. Seu desejo foi realizado - ela riu sem humor.

Scorpius novamente estava se sentindo desconfortável.

— Eu não consigo esquecer as últimas palavras que você me falou aquele dia. Não consigo tirar elas da minha cabeça Amor - ela respirou fundo e olhou para cima, observando o céu - Eu não consigo fugir da dor que queima meu peito. Quando eu deito pra dormir e o sono não vem, eu lembro da sua risada no telefone. Eu estava com sono e desliguei tão rápido, se eu soubesse... se eu soubesse, teria aproveitado mais. Como você pode me deixar assim?

Os ombros dela mexiam conforme o choro intensificava. Scorpius quis abraçá-la mas não queria se intrometer neste momento.

— Já faz um ano - ela soluçou - Um ano sem o seu abraço, sem o seu sorriso, sem o calor dos seus braços, sem os seus beijos. Faz um ano que eu não vejo mais o seu rosto. Um ano que um patrono chegou e apagou meu mundo.

A dor dela era palpável no seu tom de voz.

— Eu ainda Tenho dificuldade em acreditar que você se foi. Ainda olho pro fim do corredor e espero te encontrar me olhando, pego meu celular e espero receber uma mensagem sua me contando que tudo não passou de uma péssima piada sua. Eu achei que iríamos envelhecer juntos.

Rose parou a apertou o peito com os braços.

— Tem sido um ano inteiro de pura dor sem você Logan. Foi tudo tão rápido, em um dia eu desliguei o telefone dizendo que te amava e você dizendo que me amava muito mais. No outro... você tinha ido.

Rose não conseguiu falar mais, chorava compulsivamente agachada na frente da lápide. Scorpius se aproximou e pousou uma mão em seu ombro.

— Eu te amo, te amei com tudo o que eu tinha. E eu gostaria de ter encontrado essa carta antes, pra te dizer que você não precisava se esforçar muito para me surpreender, eu amava seus bilhetes, seus carinhos, as massagens enquanto eu estudava. Você me surpreendia todos os dias com cada demonstração do seu cuidado comigo. Eu te amo Logan.

Levantando devagar e sentindo o joelho doer por ter passado tanto tempo agachada, Rose pegou na mão de Scorpius, que notou o quão trêmula ela estava. Tremendo ela afundou o rosto no peito dele que envolveu seu corpo em um abraço protetor.

Com todo o cuidado Scorpius guiou ela pelo terreno até alcançarem a rua, onde Rose se inclinou e vomitou todo o jantar. Ela protestou e tentou afastá-lo quando ele se aproximou e segurou seus cabelos, mas ele não se afastou. Vendo ela colocar toda a angústia para fora, percebeu que ele próprio chorava.

Scorpius levou Rose até a Mansão, o silêncio dela era gritante.

Subiram as escadas até seu quarto, onde ela deitou na cama e fechou os olhos já inchados. Scorpius mandou uma carta para Ronald informando onde estavam. Passou na cozinha e pediu a Willa que preparasse uma bandeja com café e pães para o café. Quando voltou ao quarto encontrou Rose dormindo profundamente, cuidadosamente ele cobriu ela com um cobertor e se sentou ao seu lado na cama.

Não conseguiu dormir e ficou observou o céu rosado pela janela.

Lembrava de Logan ter dito uma vez que tudo na vida era questão de limites. Nós criamos fronteiras entre nós e o resto do mundo, barreiras que supostamente deveriam nos proteger da dor.

É tudo uma questão de linhas.

Definir os nossos limites e torcer pra ninguém cruza-los. Mas uma hora a gente tem que tomar uma decisão, as linhas não mantém as pessoas no lado de fora, elas só prendem a gente no lado de dentro. A vida é confusa mesmo, é assim que somos feitos e formados.

Podemos viver a vida desenhando linhas ou cruzando elas. Mas o que fazer quando existem linhas perigosas demais para se cruzar? Se arriscar e ver se a vista do lado de lá vale a pena?

A única coisa que Scorpius desejava era que Logan pudesse lhe dizer se valia a pena.

Se valia a pena continuar permitindo que ela entrasse em seus limites e fizesse do lado de dentro um lugar mais feliz, mas igualmente perigoso.

Porque depois que cruzasse essa linha, não tinha como voltar atrás.

E tudo, sempre, era uma questão de linhas. 

A Unexpected LifeOnde histórias criam vida. Descubra agora