— Oi.
Rose deixou sua bolsa escorregar para o chão e debruçou sobre a mesa. Scorpius continuou escrevendo concentrado em seu pergaminho e apenas acenou com a cabeça.
Irritada com a falta de atenção, sentou bufando e cruzou os braços sob o peito.
— Sabia que em algumas semanas você vai pegar o expresso pra casa e os passeios a Hogsmead estão acabando?
Scorpius levantou os olhos do pergaminho e encarou a amiga.
— Nós vamos pegar o expresso para casa - observou ela revirar os olhos.
— Enfim, achei que você quisesse me levar a Hogsmead - ela disse num tom ofendido.
— E desde quando você quer ir?
— Desde agora.
— Porque?
— Porque não?
Avaliando o rosto dela Scorpius jogou a pena em cima da mesa e apontou um dedo em seu rosto.
— O que você está aprontando?
— Porque eu estaria aprontando alguma coisa? - perguntou confusa.
— Porque depois de recusar várias vezes, agora do nada, você decide ir?
— Você me encheu o saco durante semanas, agora quero ir.
— Do nada?
— É, do nada.
— Ok.
Ficaram se encarando, até Scorpius desistir e voltar sua atenção para o pergaminho a sua frente.
— O que você está fazendo? - Rose se debruçou novamente na mesa tentando ler o que o menino escrevia - Achei que os prazos para entregar os trabalhos já tivessem expirado.
— Não é um trabalho - respondeu tirando o pergaminho da vista dela e se levantando - Eu tenho umas coisas pra resolver agora, nos encontramos no salão comunal?
— Sim.
Depois que ele saiu, Rose continuou sentada encarando o tampo da mesa. Pegou sua mochila e saiu da biblioteca em direção às masmorras.
{...}
Rose encarava seu malão, enrolada na toalha e molhando seu colchão. Amélia saiu do banheiro e parou no caminho com as mãos na cintura.
— Se continuar parada desse jeito suas roupas não vão magicamente se escolher. Anda Rose, levanta e se troca.
Preguiçosamente Rose escolheu uma calça jeans e seu casaco favorito, se arrumou e com a varinha secou seus cabelos.
Desceu as escadas do dormitório e observou Scorpius sentado no sofá, quando seus olhos encontraram os dela, levantou rapidamente e foi ao seu encontro. Estendeu a mão e entrelaçou seu braço no dela.
Andaram pelo castelo com Scorpius falando sobre a injustiça do último jogo de Quadribol, mas Rose não prestava muita atenção. Sua atenção estava em não perder o controle das pernas e desmaiar. Seu coração estava acelerado e suas mãos tremiam levemente. Scorpius já havia notado, mas não deu alarde a isso.
Quando alcançaram os portões Rose estancou no lugar e seu olhar ficou vago. Scorpius permaneceu ao seu lado e afagou levemente sua mão. Quando não houve movimento por parte dela, ele passou um braço pelos seus ombros e falou perto do seu ouvido.
— Vamos Rose, vai ser legal - eles se encararam - Não se esqueça que foi você que ficou me enchendo o saco durante semanas para vir à esse passeio entediante - ele disse com um falso tom irritado.
Com esse comentário Rose pareceu despertar dando um empurrão nele e seguindo caminho.
— Você abusa da minha paciência Malfoy - riram.
Sorrindo e observando a ruiva marchar à sua frente pela neve, Scor colocou as mãos no bolso da calça e a seguiu.
Chegando ao vilarejo Rose abraçou Scorpius pela cintura e apoiou a cabeça em seu ombro. Apertando o braço dela com uma mão Scorpius ficou alerta a qualquer mudança na menina.
Decidido a deixar ela o mais confortável possível, Scorpius preencheu o passeio com piadas ruins e comentários sarcásticos. Estava funcionando, por onde passavam os alunos olhavam Rose jogar a cabeça para trás, rindo verdadeiramente, como não fazia em muito tempo. Scorpius se sentia anestesiado com aquele som, fazia meses que não ouvia a amiga gargalhar e aquilo preencheu seu peito de calor.
Andaram por um tempo até Rose reclamar dos pés estarem doendo. Entraram no Três Vassouras e Scorpius sentiu a atmosfera envolta deles mudar.
Escolheu uma mesa mais ao fundo e puxou uma cadeira para ela se sentar. Scorpius estalou os dedos e duas canecas de cerveja amanteigada levitou até eles. Rose agarrou sua caneca com as duas mãos e ficou encarando o líquido, enquanto bebia Scorpius não desviou os olhos dela.
— Você está me deixando constrangida - sussurrou olhando rapidamente para ele.
— Porque? - perguntou franzindo as sobrancelhas.
— Seu olhar é muito intenso.
— Meu olhar é intenso?
— Sim.
Scorpius riu e desviou o olhar dela.
A aldeia estava particularmente cheia e embora não fosse o abrigo preferido dos namorados, o Três Vassouras estava lotado de casais fugindo do frio.
Rose observou a interação deles e depois de um momento direcionou a atenção ao rosto de Scorpius. Os olhos cinzas estavam focados nos padrões que desenhava com a varinha em cima da mesa. Ele pressionava a língua no lábio superior, sinal de que estava concentrado. Uma mexa do seu cabelo estava caída sobre a testa, fazendo uma sombra na cicatriz que ele tinha, resultado de um acidente jogando quadribol.
— Agora você está me deixando constrangido - se sobressaltou quando percebeu que ele lhe olhava.
— Desculpa.
— Não por isso, pode admirar o quanto quiser - piscou um olho pra ela, que lhe mostrou a língua - Então, como está sendo?
— Me pergunte no final do dia e eu te digo.
— Aguardarei, o que quer fazer agora?
— Doces - Sorriu travessa.
Scorpius deixou alguns galeões em cima da mesa e saíram do bar. Caminharam de braços dados até a Dedos de Mel, encontraram Alvo e Alice no caminho e foram conversando sobre amenidades. Durante o caminho Rose lançava olhares na direção do loiro, quando ele percebia sorria e fazia uma careta.
No fim do dia, Scorpius acompanhou Rose até a entrada das masmorras e a parou segurando seu braço.
— Então, como foi seu dia?
Rose olhou para seus olhos e sorriu.
— Não poderia ter sido melhor - olhou para a mão dele sobre a sua e apertou - Obrigada Scor.
— Não por isso Ross.
Entraram abraçados no Salão e se sentaram com Luke e Amélia, que desenrolaram a contar como estavam irritados pela Dedos de Mel não vender mel.
{...}
Às vezes nos acostumamos com algumas coisas e isso pode nos dar uma falsa sensação de segurança, o suficiente pra gente esquecer das pontas soltas, daquilo que não queremos encarar. O problema é que isso nos permite relaxar a atenção para pequenos detalhes, e é quando os problemas começam a surgir. Nos acostumamos com os olhares, nos acostumamos com os abraços, com o calor no peito, com o buraco no estômago, com as mãos trêmulas, com os olhos desviando para a boca. Mas as vezes, apesar de nos acostumarmos, a realidade dá um jeitinho de vir de fininho e dar um beliscão na nossa bunda. O mundo do fingimento é uma jaula, não um casulo. Nós só conseguimos mentir pra nós mesmos por um tempo. A gente fica cansado, com medo e negar isso não muda a verdade. Cedo ou tarde, a gente tem que deixar a negação de lado e encarar o mundo.
![](https://img.wattpad.com/cover/338610034-288-k595845.jpg)
VOCÊ ESTÁ LENDO
A Unexpected Life
FanficEscolhas e Consequências. Renúncia e aceitação. A nossa vida é e sempre será sobre escolhas. A todo momento estamos decidindo entre uma coisa e outra. Entre pegar ônibus ou ir de carro, entre sim e não, desistir ou tentar, vermelho ou verde, pizza o...