A Unexpected Life

Epílogo.

— Se você se esforçasse, poderia fingir que está se divertindo.

Por cima do copo de whiskey, que estava mexendo a uns bons minutos, Rose encarou a cara debochada do pai, Ronald estava vestido formalmente com um terno preto, e gravata cinza, elegantemente produzido por Hermione, claro. Limitou-se a encarar o líquido escuro dentro do copo, fugiria o máximo que conseguisse de ter a conversa que saberia que seu pai iniciaria.

Puxando um banco do bar, Ronald sentou ao lado da filha e observou com ela a movimentação do salão. No centro, na pista de dança, as pessoas se mexiam de um lado a outro, com os copos levantados, pareciam inertes a tudo o que ocorria fora da bolha musical. A música agitada e alta envolvia a noite de comemoração no principal salão do Ministério da Magia. A 10ª geração de Aurores treinada por Harry e Ronald estava se formando, e entre os formandos Alvo e Scorpius eram homenageados como Dupla Revelação, nada que não fosse esperado, eles haviam se esforçado muito nos treinamentos e estudos.

— Rose...

— Pai, por favor - ela suspirou cansada - Não começa, não quero ter essa conversa de novo.

Em um ato nervoso e exasperado Ronald esfregou as mãos no rosto. Encarou o rosto lívido da filha e teve a súbita vontade de obrigá-la a falar.

— Você sabe que não pode me obrigar a falar sobre isso - ela comentou como se lesse os pensamentos dele.

— Eu só não entendo - Ronald olhou com profundidade para o oceano azul que eram os olhos de Rose - Só queria que você compartilhasse comigo Rose, fala comigo.

— Não tem nada a ser dito pai - Rose acenou pro barman encher seu copo e se levantou da bancada, indo em direção a sacada do salão.

O ar gelado da noite foi como um abraço pra ela. Seu vestido rosê era demasiadamente decotado nas costas e caia em cascata numa linda saia rodada, ela estava suando com tanto pano envolvendo seu corpo.

Não precisou se virar pra saber que o pai a seguiu até ali. Fechou os olhos sentindo a brisa soprar em seu rosto, seus olhos arderam e ela sabia que as lágrimas viriam mais cedo ou mais tarde.

Aquele dia estava sendo mais desafiante do que achou que seria.

Ronald sabia que a filha estava sofrendo, e o sentimento que teve a anos atrás o envolveu com força, teve vontade de abraçá-la até todos os seus problemas se resolverem. Mas não era tão simples, ela não permitia.

— Pai - ela sussurrou com a voz embargada.

— Você ama esse garoto Rose, como pode desistir?

— Exatamente por isso pai - ela lhe encarou, sabendo que não podia continuar fugindo dos questionamentos dele.

— Desculpa filha, mas não entendo.

— Eu amo ele e estou quebrada pai, a perda do Logan me quebrou.

Ronald colocou a mão sobre o ombro da filha, lhe passando confiança para continuar.

— Eu perdi meu controle emocional, eu não sabia mais quem eu era, do que eu gostava, o que fazia a Rose ser a Rose não fazia mais sentido. Eu precisei aprender muitas coisas do zero - com lágrimas escorrendo pelo rosto ela se encostou na sacada - Eu precisei desenvolver a vontade de viver pai. Quando eu perdi ele, eu realmente queria morrer. Scorpius foi um amigo fora do comum, ele foi muito mais do que eu pedi pra ele ser. Quando eu vi a Amélia machucada daquele jeito, depois do acidente, eu quebrei pai, eu senti tudo dentro de mim morrer imaginando como ele havia ficado, e foi o Scorpius quem me abraçou e não permitiu que eu esmorecesse.

Dando um longo gole no whiskey que segurava com força, Rose virou de frente para a noite escura que envolvia ela e o pai.

— Scorpius foi a única pessoa que não me tratava como, algo de vidro prestes a quebrar, mas ao mesmo tempo ele foi gentil e cuidadoso. Cada passo que eu dava pra fora da minha prisão interior, eu encontrava aqueles olhos gentis me esperando. - ela continuou com a voz embargada - Eu ainda estou aprendendo a estar viva, ainda estou aprendendo a não definhar em cada lembrança, ainda estou aprendendo a conviver com o luto. Mesmo depois de 3 anos pai - ela completou ao ver a expressão no rosto dele - Logan foi tudo pra mim por muito tempo, foi intenso, ele me ensinou a beijar, a amar, a lidar com os problemas de convivência, de auto-estima, a fazer amor, ele foi tudo pra mim pai, quando eu perdi essa base repentinamente, eu desabei sem ver o que eu poderia quebrar a minha volta.