"Se não era amor, era da mesma família. Pois sobrou o que sobra dos corações abandonados. A carência. A saudade. A mágoa. Um quase desespero, uma espécie de avião em queda que a gente sabe que vai se estabilizar, só não se sabe se vai ser antes ou depois de se chocar contra o solo." Martha Medeiros
Jisung estava desde que acordou esperando por alguma mensagem de sua mãe, ou de seu pai, até que de tarde recebeu uma mensagem de sua mãe, ela o chamava para um jantar.
Um dos maiores sorrisos que Jisung já tinha dado se formou em seus lábios, receber algum carinho materno sempre enchia o coração do jovem garoto de esperança, mas afinal, de quem não enche?
Naquela tarde, Jisung se arrumou rapidamente, pegando a melhor roupa que tinha em seu guarda roupas, e não eram muitas, passou seu perfume favorito e pegou seus fones, não podia esquecer, durante toda infância, a música era um conforto para Jisung, era como seu lar, quando sua família não era (digasse de passagem que foram raros os momentos em que Jisung não teve que recorrer as músicas).
Mas talvez, pela primeira vez após seus quatro anos, sua família tivesse se importado, talvez tivessem percebido, a cada passo que dava o coração de Han se enchia de esperança, passará a vida toda se nutrindo de esperanças e de resquícios de amor, que um dia tivera recebido, ao menos um dia.
Jisung tentava não sentir inveja quando via as outras famílias, enquanto caminhava podia ver um casal e dois meninos, um que aparentava ter doze e o outro oito anos, Jisung sorriu vendo a cena das duas crianças brincando, gostaria de lembrar de algo feliz naquele momento.
Jisung vagou por toda sua memória em busca de um bom momento, um conforto, mas nada lhe apareceu, apenas um pequeno Han encolhido em meio as cobertas em uma noite chuvosa, enquanto as gotas de chuva molhavam as janelas, e as lágrimas seu rosto.
O garoto apressou seus passos, um medo começou a crescer em seu peito, quase que esmagando seus pulmões, Jisung puxou o ar e o soltou lentamente, o choro começou a querer aparecer, o mesmo choro que surgia todo ano, naquele mesmo dia, mas hoje podia ser diferente, certo?
Jisung levou a mão até a maçaneta, com um pequeno sorriso, quando abriu a porta encontrou a sala vazia, e fria, como sempre foi, o sorriso de Jisung sumiu um pouco, até que ele escutou a voz de sua mãe, voz que devia lhe ser calorosa, mas sempre lhe encheu de medo.
Seus pés o levaram até a cozinha, Jisung abriu um pequeno sorriso vendo a comida na mesa, sua família já comia, Jisung tentou não se deixar abalado por não terem o esperado, cumprimentou todos e se sentou na cadeira que restava, na ponta da mesa, Jisung levou o olhar a seu primo que o olhava confuso.
― Sua mãe te chamou? ― O garoto, que nada parecia com Han, perguntou levemente irritado.
O peito de Jisung apertou, uma dor subiu por sua garganta, e Jisung fechou os olhos fortemente para que nenhuma lágrima surgisse, era claro, suas esperanças não passaram de meras esperanças.
Era seu aniversário, e nenhum deles havia se lembrado.
Jisung controlou sua respiração e abriu os olhos lentamente, não entendia o motivo, mas sempre esperava algo vindo de sua família, mesmo após 20 anos, talvez a criança que Jisung um dia foi, ainda esperava receber algum tipo de amor.
― Ele tem que saber da notícia, diga filha ― A mãe de Jisung falou encarando a filha com um enorme sorriso e um brilho nos olhos.
O sorriso e o brilho que Jisung sempre desejou ter, sempre desejou que também fossem direcionados a si.
Mas apenas desejar não tornava nada real.
A irmã abriu um grande sorriso, ela se parecia com o mãe, já Jisung tinha puxado o avó já falecida, por parte de mãe, não havia puxado nada de sua mãe ou de seu pai, enquanto Jisung tinha as bochechas grandes como de sua avó, e traços delicados, a família era ao contrário, mas não deixavam de ser bonitos, aos olhos de Jisung.
Jisung sempre pensou que beleza fosse relativa, mesmo sua família o dizendo que ele era feio, Jisung sempre pensou que ia do olhar de cada pessoa, beleza existe em todos, e era algo superficial, um dia iria acabar, mas não era algo que devia ser tão relevante.
― Eu estou noiva! ― A irmã de Jisung falou com um enorme sorriso, sua mãe segurou em sua mão e seu pai lhe direcionou um enorme sorriso.
Jisung sorriu para a irmã, estava feliz por ela, mesmo que tivessem esquecido de seu aniversário, o noivado era algo mais importante, certo?
Bom, pelo menos era isso que Jisung dizia para si mesmo nesse exato momento, ninguém tinha culpa de ela querer revelar o noivado justo no seu aniversário, estava tudo bem, talvez algum dia, Jisung recebesse um "feliz aniversário" algum dia ele receberia.
― Fico muito feliz por você, Hari ― Jisung falou docemente, a irmã o encarou, descendo seus olhos de cima a baixo, Jisung engoliu em seco, esperando algum comentário sobre sua aparência.
― Você também devia estar se casando, com uma pessoa rica, assim como eu, talvez se não fosse gay... eu posso arrumar alguém, a irmã de meu noivo está solteira ― A irmã de Jisung falou rispidamente.
Jisung apertou as mãos sobre seu colo e levou os olhos a sua família, esperando algum tipo de reação vinda de si, então Jisung abriu um pequeno sorriso e voltou seus olhos para o prato vazio à sua frente, não havia pegado nada, até porque não tinha mais fome.
― Bom, eu tenho que ir, felicidades irmã ― Jisung falou calmamente se levantando e quase correndo para a fora da casa.
Jisung em passos apressados voltava para seu apartamento, não conseguindo conter as lágrimas, nem o ódio que começou a surgir.
E ele tinha todo o direito de estar bravo e triste.
Essas foram quase as únicas emoções que Jisung sentia durante toda sua vida, ódio e tristeza, fazem 20 anos que Jisung não sentia amor familiar, às vezes um certo conforto ao observar as paisagens da janela de seu quarto, mas nada muito além disso.
Jisung adentrou seu quarto, colocando o travesseiro no rosto e gritando, até que seus pulmões e garganta arderam e ele perdeu as forças, Jisung apenas parou e ficou ali, por um longo tempo até se levantar e ir até a varanda.
― Eu desejo que um dia, o Karma venha para todos eles ― Jisung falou entredentes, possesso de raiva, após uma estrela cadente passar, o garoto encarou o céu noturno, a lua, nuvens e estrelas.
Jisung inalou o ar frio da noite e pegou o pijama que havia deixado sobre a cama, minutos depois Jisung estava deitado, dormindo após chorar por ter tido esperanças.
⋆⁺₊⋆ ☾ ⋆⁺₊⋆ ☁︎
Na manhã seguinte Jisung acordou com três batidas em sua porta, estranhando Jisung se levantou e passou as mãos em seus cabelos para os arrumar.
Ainda sonolento, Jisung abriu a porta, encarando o homem à sua frente, ele tinha um leve sorriso nos lábios, e provavelmente era o homem mais bonito que Jisung já viu.
― Quem é você? ― O garoto bochechudo perguntou confuso, vendo o homem simplesmente adentrar sua casa.
De repente toda a tristeza que Jisung havia sentido, foi inundada por uma onda de confusão.
O'Que caralhos aquele homem estava fazendo?
Jisung viu o homem se sentar em seu sofá e levar os olhos ao pequeno apartamento.
― Eu quero que você saia do meu apartamento ― Jisung falou irritado parando em frente ao homem de cabelos avermelhados.
― Você me deseja, e agora quer que eu suma? Desculpa, mas não é assim que as coisas funcionam ― O homem falou calmamente, Jisung abriu a boca perplexo.
Só podia ser brincadeira.
― Quem caralhos é você?! ― Jisung perguntou mais irritado e quase que em um grito, estava extremamente confuso.
― Prazer, Karma ― O homem falou e Jisung revirou os olhos em descontentamento ― Mas pode me chamar de Minho, gracinha ― Minho falou com um leve sorriso, encarando o garoto irritado a sua frente.
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Karma//Minsung
Fanfiction[CONCLUÍDA] Han Jisung passou por toda sua vida sofrendo nas mãos de familiares, amigos, colegas de trabalho. E em um dia desejou fortemente, que o Karma vinhece a todos aqueles que lhe fizeram mal. Ele só não contava que o Karma em forma de gente f...