Branca de Neve e o Grimm

Julgamento

P.O.V. Liliana.

É hoje. Hoje é o dia em que serei julgada, mas meu advogado me assegurou que tudo correrá bem. Ele treinou-me sobre como depor, como responder as perguntas que o advogado de acusação poderá me fazer, instruiu-me a ficar em silêncio e deixá-lo falar e é exatamente o que vou fazer. Se a experiência me ensinou algo é que em momentos como este tudo o que preciso fazer é ficar quieta e deixar o feitiço de minha mãe fazer efeito.

O julgamento demorou pelo menos tenho a sensação de que demorou, eu vim usando as roupas que o advogado me instruiu e fiz tudo o que ele mandou como mandou. O advogado de defesa veio para cima de mim como um leão vai atrás duma gazela foi deveras assustador, mas se sobrevivi á ser sufocada com cordas de espartilho, aos animais selvagens da floresta que incluem viajantes que apesar de alegarem ser homens de honra eram patifes, ladrões que volta e meia tentavam me violar... posso sobreviver a isso.

Depois de um longo tempo, várias perguntas inconvenientes e insinuações maldosas o juiz decretou um recesso e disse que o júri iria deliberar para poder dar o veredito. Não demorou muito para sermos chamados de volta e o juiz proferiu o veredito.

-No caso O Estado Contra Hoffman, o júri decide á favor da senhorita Hoffman e a declara inocente de todas as acusações, entretanto eu a sentencio á passar seis meses no Hospital Psiquiátrico de Portland.- Disse o Magistrado batendo o martelo.

Então fui transferida para o tal Hospital Psiquiátrico, eles desmancharam meu penteado, pegaram minhas pulseiras, meus colares, cintos, brincos e até mesmo minhas roupas dizendo que as devolveriam quando meu tempo aqui se findasse. Me colocaram num uniforme laranja que consistia numa camisa, calças e pantufas. O quarto no qual me colocaram me lembrava da minha cela no Convento Santa Maria onde passei grande parte da minha infância, eles serviam refeições, quatro refeições por dia, havia a hora da recreação onde eu podia jogar cartas e xadrez com os outros internos e acabei fazendo amizade com uma outra interna. Anitta que alegava ter sido seduzida e mordida por um demônio, dizia que sua mordida lhe concedeu poderes mágicos. Além de tudo isso Anitta dizia que carregava o filho do demônio em seu ventre.

-Como pode ser? Este tal demônio está aqui agora? - Questionei.

-Não. A noite ele vem, toda noite e eu fodo ele. Sinto as suas mãos frias sob o meu corpo, me tocando, me acariciando.- Disse Anitta passando as mãos luxuriosamente pelo próprio corpo.- Ás vezes dói, mas eu gosto. Gosto quando ele me possuí.- Disse a garota de longos cabelos louros.

Devo admitir que aquelas palavras e aquele comportamento devasso me assustaram. Será possível que um demônio esteja espreitando este hospital e atacando, se aproveitando dessa inocente e quem sabe quantas outras? Pelo sim pelo não quando o senhor Burkhart veio me visitar eu contei-lhe sobre o ocorrido.

-Você sabe que ela é uma paciente psiquiátrica, certo?- Ele indagou.

-Assim como eu. E ainda assim, sou uma bruxa e o senhor é um Grimm. Dentre todos o senhor deveria ser o primeiro a crer na palavra da senhorita Anitta ou ao menos dar-lhe o benefício da dúvida. Afinal, nós dois sabemos que o mundo é um lugar muito mais complicado e misterioso do que se imagina. Eu vi as marcas  de mordida no corpo dela, algumas ainda sangravam. Posso estar errada, mas o senhor está disposto a apostar a vida de uma inocente nisso?- Questionei.

E pelo olhar no rosto dele eu vi que a resposta era não.

-Ficarei de olho, se este tal demônio der as caras por aqui tomarei providências. Pode investigar sobre a história deste lugar, se houve algum assassinato brutal, morte violenta, alguém que tirou a própria vida qualquer coisa?

-Posso.- Nick respondeu.

-Obrigado Nick.- Eu disse segurando sua mão.

Tive notícias de Anitta ouvi uma das enfermeiras dizerem que o médico a examinou e constatou que ela está mesmo grávida, portanto é melhor ficar de orelhas em pé e dormir com um olho aberto.