Puramente tola e sortuda

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Roxanne realmente apreciava a praticidade que o feitiço de runas dera a ela. Quando criança tinha dado sinais de que teria facilidade de realizar feitiços sem varinha, mas com todos os acontecimentos e a instabilidade que a possuíra essa habilidade se tornara perigosa e a sonserina teve que limitá-la. Mas agora, com as runas, feitiços acidentais seriam evitados e ela teria o controle que tinha na infância.

Então, enquanto refazia o feitiço e removia os rastros de sua magia para que Lilian não a identificasse, as runas brilhavam intensamente em seu corpo, transparecendo levemente pelo tecido preto de suas roupas. Aquilo era ligeiramente irritante, era ridículo que tivesse passado tanto tempo perto da ruiva sem perceber aquela sensibilidade; culpava um pouco sua relação com Sirius que a distraíra, mas era extremamente incomum que houvesse duas bruxas sensoriais no mesmo ano, na mesma escola, no mesmo século.

De toda forma, estava tudo bem. Se havia uma possibilidade remota de Lilian descobrir antes, agora que Roxanne refazia o feitiço ela estava reduzida a nada. Nem mesmo se Lilian refinasse esse talento treinando com Dumbledore existiria risco.

A sonserina sentiu um repuxão no pulso, seu corpo retesou e percebeu que a aproximação era rápida. Transformou-se e saltou por trás de um braseiro. Um enorme cão negro chegou num pulo, e Roxanne em sua forma de gato se arrepiou. Como odiava cães. Mesmo sabendo ser Sirius não teve um alívio, apenas um temor diferente.

Ele assumiu sua forma humana e inclinou a cabeça na direção dela.

— Oi, Rô – Cumprimentou e a esperou se transformar, sorriu levemente. – Você não vai conseguir fugir da Lara hoje, ela foi pra Torre só para tagarelar o quanto está feliz por você ir.

Roxanne franziu o cenho e cruzou os braços, inclinando levemente a cabeça enquanto se escorava na parede.

— Ela vai estragar tudo.

— Não vai. Me impressiona até o quanto ela consegue ser sutil com segredos. Até ano passado eu não confiava nela para dizer onde escondi uma colônia de fadas mordentes. – Sirius também se encostou na parede.

— Ela não tinha com o que se preocupar, na maioria das vezes era no salão da sonserina.

Sirius riu baixinho.

— Eu perdi muito faltando a aula hoje de manhã. Agora tenho que encarar Lily como uma bruxa sensorial e nem estava lá na hora da revelação.

— Me surpreende que vocês não soubessem.

Sirius sorriu um pouquinho maroto.

— Bem, a maioria acha que é lenda, mesmo eu sabendo que não, não percebi. Ela sempre sabia quando a peça que pregávamos era nossa, mas achei que fosse uma dedução óbvia.

Roxanne suspirou, cheia daquele assunto. Ele estava enrolando.

— E então, ela deve ter repassado o recado que deixei. Não vou mudar de ideia, o que quer aqui?

Ele arqueou as sobrancelhas.

— Você deixou recado? – Ela fez careta. Sirius se aproximou e ela se manteve imóvel e cautelosa – Bem, não fiquei sabendo, mas imaginei que tivesse alguma coisa errada. Conheço Lily, é difícil ela enganar algum de nós.

— Eu disse que acabou. – Ela susteve os olhos cinzentos e escuros dele. – Black, vá embora.

Ele negou com a cabeça, tão sério quanto ela.

— Eu não devia ter saído daquele jeito...

— Isso não tem nada a ver – Roxanne cortou, e Sirius continuou:

— Esqueço como você é.

— Sim, você realmente esqueceu.

— Não estou acostumado em te ver daquele jeito mais, você mudou muito.

— Não mudei.

Ele a estudava.

— Não faz isso de novo, Rô – Ele colocou as mãos nos braços dela, que ainda estavam cruzados. Ela travou os dentes, nervosa. – Eu não tenho a capacidade de fingir que não ligo para você. Eu morreria se te deixasse só com aquele pessoal da Bellatrix...

— Meu pessoal – Ela corrigiu veemente, descruzando os braços pronta para afastá-lo. Seu coração estava disparando. – Não seja dramático, me deixar com eles é exatamente o que eu quero.

— Você quer, mas você não é um exemplo de autocuidado.

— Eu me cuido muito bem, obrigada – Saiu bruscamente de perto dele.

— Não, você cuida da Lara, do Greengrass e de mim – Ele a seguiu. - Em todos os aspectos. Você se mantém bem fisicamente, mas as situações em que se coloca eu não colocaria um inimigo – Segurou o braço dela e ela se virou.

— Você está mal acostumado. Tem uma visão muito inocente do mundo...

— Não, Rô, estou longe de ver o mundo com inocência. Sei perfeitamente bem o que tem lá fora, fui criado do mesmo jeito que você. Se você erra tem castigo, se é boa passam por cima, se for frágil te ridicularizam e quanto ao mundo, se é você e outro, é só você.

Roxanne poderia destruir aquela discussão tão facilmente quanto se destrói uma vida, mas Sirius mal havia terminado de fazer quando se aproximou, retomando:

— Não penso assim. – Falou tão baixo... ela sentiu-se hipnotizada sob aquele olhar. A mão dele em seu rosto estava quente, ou sua pele estava fria, e o ambiente parecia demasiadamente com um sonho – Se você erra depois concerta, se é boa descobre amigos, e se é frágil esses amigos ajudam. Quanto ao mundo... Nunca será só você enquanto eu estiver vivo.

O coração dela parecia desajustado em seu corpo, como se não lhe pertencesse e estivesse protestando por isso.

— Você não pode prometer isso – Ela sussurrou aflita.

— Eu prometo. – Ele respondeu, seguro. Sabia o que prometia e sabia a quem prometia, ninguém imaginava o quanto a conhecia.

E Roxanne agora estava rendida. Mesmo que soubesse que ele não a salvaria de si no fim, não resistiu ao beijo que lhe deu em seguida, nem ao outro ou ao outro, ou a todos os selinhos e às gracinhas que ele ficou fazendo com objetivo de suavizar o clima.

Era simples e puramente tola e sortuda.


Próximo capítulo tá prontoo, pensando se libero no natal

Sirius Black e Roxanne MalfoyOnde histórias criam vida. Descubra agora