Lee Minho deixou seu cigarro queimar até o filtro sem dar uma única tragada.
Ele não queria a nicotina. Queria a fumaça acre que o lembrava de sua mãe. Se inalasse lentamente, quase, podia sentir a assombração de gasolina e fogo. Era revoltante e reconfortante ao mesmo tempo. Ele sentiu um calafrio em sua espinha. O tremor percorreu todo seu corpo até a ponta dos dedos, derrubando um pouco de cinzas. As cinzas caíram na arquibancada, no espaço entre seus sapatos e foi levada pelo vento. Ele olhou para o céu, mas as estrelas estavam ofuscadas pelo brilho das luzes do estádio.
Ele se perguntou – não pela primeira vez – se sua mãe estava o observando.
Esperava que não.
Ela o espancaria antes de voltar para o inferno, se o visse sentado deprimido como estava. Uma porta abriu-se, grunhindo atrás dele, o espantando de seus pensamentos. Minho puxou seus pertences para mais perto, ao seu lado, e olhou para trás.
Treinador Hernandez fechou a porta do vestiário e sentou-se ao lado de Minho.
— Não vi seus pais no jogo - disse Hernandez.
— Eles não estão na cidade.
— Ainda ou outra vez?
Nenhum dos dois, mas Minho não diria isso.
Ele sabia que seus professores e o treinador estavam cansados de ouvir a mesma velha desculpa sempre que perguntavam sobre seus pais, mas era uma mentira tão simples que era sempre usada. Isso explicava o motivo de ninguém jamais ter visto os Lees pela cidade, e o porquê Minho tinha preferência por dormir na escola.
Não que ele não tivesse um lugar para morar. Era mais porque sua situação de vida era ilegal. Millport era uma cidadezinha moribunda, isto é, havia dezenas de casas a venda e que nunca seriam compradas. No último verão, ele havia se apropriado de uma dessas casas em um bairro calmo povoado principalmente por idosos. Seus vizinhos raramente deixavam o conforto de seus sofás e sabonetes diários, mas cada vez que entrava e saia se arriscava a ser descoberto.
Se as pessoas percebessem que ele estava ali, começariam a fazer perguntas difíceis. Geralmente era mais fácil entrar no vestiário da escola e dormir lá. O porquê de Hernandez o deixar escapar sem notificar às autoridades, Minho não sabia. E achava melhor nem perguntar.
Hernandez estendeu a mão. Minho passou-lhe o cigarro e assistiu Hernandez apagá-lo e arremessá-lo nos degraus de concreto.
O treinador virou-se para encarar Minho.
— Pensei que eles fariam uma exceção hoje à noite – disse ele.
— Ninguém sabia que seria o último jogo – replicou Minho, fitando a quadra.
A derrota de Millport esta noite os eliminou do campeonato estadual há duas partidas antes das finais.
Tão perto e tão longe.
A temporada acabou exatamente assim.
Algumas pessoas já desmontavam a quadra, tirando as paredes de acrílico e rolando o piso modular sobre o chão duro. Quando terminassem, seria novamente um campo de futebol, não sobraria nada de Exy até o outono. Minho sentia-se mal vendo aquilo acontecer, mas não conseguia desviar o olhar.
Exy era um esporte modificado: uma evolução do lacrosse, jogado em uma quadra de futebol com a violência do hóquei no gelo. Minho amava cada parte desse jogo, da velocidade até sua agressividade. Esta era a única lembrança de sua infância que jamais tivera sido capaz de esquecer.
— Eu vou avisá-los sobre o placar mais tarde – disse ele, porque Hernandez ainda estava o olhando. — Eles nem perderam muita coisa.
— Talvez, mas ainda não irá agora. – disse Hernandez. – Tem alguém aqui que veio vê-lo.
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𝐀𝐋𝐋 𝐅𝐎𝐑 𝐓𝐇𝐄 𝐆𝐀𝐌𝐄 - 𝐌𝐈𝐍𝐒𝐔𝐍𝐆
Fanfiction𝐀𝐃𝐀𝐏𝐓𝐀𝐂𝐀𝐎 𝐃𝐀 𝐎𝐁𝐑𝐀 𝐃𝐄 𝐍𝐎𝐑𝐀 𝐒𝐀𝐊𝐀𝐕𝐈𝐂 Lee Minho, um adolescente que passou a vida fugindo do pai, um lorde do crime com sangue nos olhos, e que graças a certas circunstâncias acaba recebendo a oferta de uma bolsa de estudos c...