5 de fevereiro de 1991. A Ilha Pantheon era um pequeno logradouro remoto, perto das Ilhas Faroé, no Reino Unido. Passou pelas mãos de diversas pessoas ao longo dos séculos XIX e XX, até ser finalmente vendida em 1975 para uma família rica de São Paulo. Um tanto quanto curioso.
Camila Hermetti era a principal atração da sua nova ilha particular. Acabava de desembarcar em um avião, também exclusivo, junto de todos os seus sete amigos, que a seguiram, um por um. Uma delas, sua irmã mais velha, carregava um lindo gato alaranjado em seu colo.
— Ah, que fofinha! — dizia Cecília, uma mulher magra e alta de pele fria e cabelos longamente esmaecidos. — A Tangerina é um amor, Beca!
— É, eu sei. Encontrei ela num pet shop lá em São Paulo. Não podia deixar ela sozinha lá...
— Eu já tive um gato assim — interveio um rapaz de cabelos negros e curtos.
— E eu te perguntei alguma coisa, Otávio? — insistiu retoricamente a garota que carregava Tangerina.
— Nossa, Rebeca, vai te foder! — Cruzou os braços.
— Você que vai! Camila, por que você convidou ele pra cá?
— Por que ele é o meu amigo! — gritou Camila, impondo seu pé na superfície de terra. — Qual é o seu problema, Beca? Deixa ele em paz. Não é certo tratar as pessoas assim!
Rebeca respirou fundo, antes de aumentar o passo e chegar dentro de casa mais rápido. Sua irmã ficou inconformada, mas logo voltou a caminhar normalmente.
— Eu vou ver se ela tá bem — murmurou um jovem de cabelos castanhos, portando um óculos redondo. — Já volto.
Assim que entrou dentro do local, o restante começou a olhar para os lados, tentando esquecer do clima de tensão que acabara de ser instaurado na ilhota. Uma garota, Julieta, pôde ver um objeto se mexer, perto da casa.
— Essa casa é diferente — falou Cecília, para interromper o silêncio.
— Ela era um hotel, originalmente — respondeu Camila. — Foi construído em 1890, mas teve um incêndio um ano depois. Minha mãe ajudou a reconstruir. Ela contratou uma boa empresa do Reino Unido pra conseguir recuperar o que foi perdido.
— Interessante — respondeu Julieta. — Camila, o que é aquela coisa se mexendo ali, perto da entrada?
— Ah! É a minha mãe. Tá numa cadeira de balanço.
— Ah... Desculpa!
— Que isso, tá tudo bem! Enfim, sintam-se à vontade. Podem entrar.
Ao finalmente chegarem na porta da frente, as amigas ingressaram na casa, uma por uma. Contudo, Julieta não conseguiu parar de notar que havia alguma coisa estranha no movimento contínuo que a mãe de Camila fazia na cadeira de balanço. Por isso, esperou todas as outras entrarem para se aproximar da senhora.
Era uma mulher com cerca de 50 ou 60 anos. Não havia indício de cabelo branco, sendo eles curtos e castanhos. Sua face, contudo, estava estranha: parecia que havia algo de errado.
— Dona Júlia, tá tudo bem? — perguntou Julieta.
— Mos... Dos... Re...
— O quê? — Aproximou seu ouvido da mulher.
— Vamos todos morrer...
Um calafrio imenso percorreu a espinha de Julieta, que logo se afastou sem dizer uma palavra. A certeza profunda da voz daquela senhora era, no mínimo, arrepiante.
— Julieta! Vem cá! — gritou a voz de Camila, de dentro da casa. Olhou uma vez para Júlia, antes de respirar fundo e entrar dentro do local.
— O que foi?
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Em Carne e Osso
Mystery / ThrillerCem anos após o massacre ocorrido na Ilha Pantheon, um grupo de oito amigos começa a presenciar alguns fenômenos estranhos, sendo vítimas de um serial killer impiedoso que cruza as fronteiras da realidade e causa uma dúvida muito inquietante: é uma...