Em Carne e Osso

Capítulo 4 - Briga no Funeral

 Fechou-se o caixão. Camila enxugou as lágrimas, já exausta de tanto lamentar. O fato daquele grande objeto ter sido finalmente fechado indicava o fim daquele ciclo de tristeza infame. Era o sinal de que Otávio deveria, para sempre, sair de sua vida. Afinal, o tempo ia passar e o que quer que tivesse acontecido iria, de uma forma ou de outra, se revelar.

— Eu vou no banheiro — balbuciou Letícia.

Camila olhou para o chão e fecou os olhos, fazendo um minuto de silêncio em homenagem ao falecido. Agora já tinha se estabilizado, e esse momento ajudou-a ainda mais a seguir seu foco.

Sua respiração pesou pouco. Sua mente se limpou de quaisquer problemas. Passou. Tudo passou, num grande piscar de olhos. Estava tudo bem. E, se não estivesse, iria ficar.

— Oi, gatinha — falou Guilherme, se aproximando.

— Oi — Estava tão dispersa que nem notou o que acontecia.

— Você gostava bastante do Otávio, né? — Apoiou o braço novamente sobre seus ombros, pesando o grosso membro na nuca da jovem.

— Ei, Guilherme, respeita o falecido. E a sua namorada — interveio Cecília, que se perguntava se Julieta tinha realmente contado para Letícia sobre o que estava acontecendo.

— Sabia! — Ouviu-se um berro, ao longe. Era Letícia, com os olhos fixos de fúria, lentamente se aproximando. — Eu sabia que isso iria acontecer uma hora ou outra. Só não imaginava que ia ser aqui.

— Ô, gatinha, desculpa aí.

— Desculpa é o caralho! — Esbofeteou sua face. — Finalmente eu posso dizer, terminamos!

— Ei! — gritou um homem, ainda mais alto que todos os outros. — Que desrespeito é esse com o meu filho? Vão embora daqui, seus desgraçados!

— Mas...

— Eu disse pra vocês irem embora! Ou vocês querem que eu expulse vocês?

Letícia ficou boquiaberta. Guilherme, contudo, saiu facilmente.

— Ei, sr. Batista! — Camila interveio. — O único que desrespeitou o seu filho foi o Guilherme. A Letícia foi traída, tenta entender.

— De novo? — O homem não baixou a voz. — Se vocês não sairem daqui...

Imediatamente, Batista pegou uma espingarda, infiltrado de tanto ódio. Sua esposa tentou impedí-lo, mas as duas ameaçadas decidiram se retirar de uma vez, a fim de não causar mais problemas.

— Meu filho... — O homem logo soltou a arma, consumindo-se de lágrimas. — Meu filho morreu... E nunca mais vai voltar...