Capítulo 8 - Passeio Noturno

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 Camila comia despretensiosamente algumas panquecas americanas de café da manhã, dispersa como quem acaba de acordar e ainda não consegue voltar com prontidão ao mundo real. Sua família a acompanhava, todas desanimadas ao redor da mesa do hotel.

— Obrigada por terem me deixado dormir aqui — disse Letícia.

— Não tem de quê — respondeu Júlia, um sorriso sendo esboçado no seu rosto.

Subitamente, o telefone tocou. A hóspede logo se levantou e atendeu-o, pronta para repassá-lo a quem fosse necessário.

— Alô, quem é?

Alô. Polícia Federal.

— Polícia? Como assim?

As Cardoso imediatamente se atentaram à ligação. Polícia?

A senhorita fala da residência atual dos Cardoso Hermetti. Por acaso sua mãe ou sua irmã conhecem um tal de Guilherme Lima?

— Eu não sou da família, mas conheço ele, sim. O que ele fez dessa vez?

Ele foi assassinado essa noite.

Letícia ficou imóvel. Sua pele imediatamente empalideceu, suas mãos ficaram trêmulas e deixaram com que o telefone fixo caísse de suas mãos.

— Letícia? O que foi? — indagou Rebeca, curiosa.

— O Guilherme morreu.

Choque absoluto. Camila logo interrompeu a pausa:

— Mais uma morte... É um assassino em série... Quem vai ser o próximo a morrer? Quem vai ser o próximo a morrer? — Estava ofegante, prestes a gritar. — Quem vai ser o próximo a morrer?

E nessa última frase, berrou. E de tão alto o berro e de tão imensa a surpresa, desmaiou mais uma vez.

Acordou no sofá, novamente cercada por seus familiares.

— Ai... Eu não desmaiei de novo, né?

— Não há nada demais nisso, filha — contestou Júlia, numa voz mansa.

— Chega, chega!

Camila estava insatisfeita, precisava dar um tempo para tudo. Imediatamente se levantou, ouvindo um breve grito felino sair de seu colo.

— Camila, a Tangerina tava no seu colo! Você derrubou ela! — gritou Rebeca.

— Eu vou dar um passeio noturno. Arejar a cabeça.

Imediatamente, redirecionou-se à porta. Ao abrí-la, se deparou com Thales.

— Thales?

— A Rebeca me chamou pra gente assistir um filme...

— Ah, claro. Pode ir, eu vou passear por aí. Volto logo.

Sem pestanejar, Camila logo saiu do luxuoso hotel a passos largos. Desejara tanto viver na cidade com seus amigos, sem precisar se comunicar com eles somente por telefone ou por voos. Mas, agora, definitivamente não se sentia à vontade para continuar lá.

O céu já estava escurecendo — o que era impressionante, porque quando ela desmaiou era manhã. Enquanto o aroma reconfortante da brisa balançava seus longos cachos negros, a jovem impôs-se pelas ruas da cidade, glamurosa e confiante.

Via o pôr-do-sol, no horizonte. Era lindo. Por um instante, chegou a parar em pé para observá-lo, pondo as mãos nos bolsos e analisando cautelosamente todas as tintas utilizadas naquela pintura. E. enquanto olhava atentamente, sentiu um dedo estranhamente cutucando o seu ombro. Olhou para trás. Nada.

Em Carne e OssoOnde histórias criam vida. Descubra agora