Capítulo 3 - A Principal Suspeita

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 Camila foi a primeira a abrir a porta. Mesmo estando no hotel mais seguro possível, continuava desconfiada. Olhou para os dois lados e se certificou de que não havia ninguém a mais lá dentro, antes de finalmente prosseguir.

Rebeca estava sendo abraçada por Thales. Sua face esboçava o mais puro receio. E, por fim, veio Júlia, com o rosto firme e conciso.

— Obrigado por ter coberto a minha parte pra dormir aqui no hotel com vocês hoje, dona Júlia — disse o rapaz.

— Não há de quê, Thales, você é um rapaz de ouro. Cuide bem da minha filha, por favor.

— Mas é claro.

— E a Camila, aonde ela foi? — interveio Rebeca, dispersa.

Camila se preparou no seu quarto. Era um local um pouco compacto, mas vasto o suficiente para fazer o que mais queria desde que acordou de seu desmaio: investigar.

Pôs as cartas na mesa. O policial disse que não tinha nenhum fio invisível ou coisa assim nas prateleiras, então aquela cena dos pratos provavelmente teria sido feita depois do assassinato. O tal objeto pontiagudo não foi encontrado, mas devia ser uma faca qualquer das gavetas. E os suspeitos... ah, os suspeitos.

Cecília, Julieta, Rebeca, Letícia, Thales, Guilherme e sua mãe. A não ser que houvesse mais alguém na ilha, o que era bem improvável, essas eram as únicas pessoas que poderiam ter cometido o assassinato. Começou, então, a anotar os possíveis motivos e ver o que cada um tinha feito no dia do crime.

Cecília tinha uma inimizade histórica com Otávio, por causa de algumas ações infelizes que ele fez no passado contra ela. Julieta também não gostava de Otávio, nem Rebeca, nem Letícia... Resumidamente, ninguém gostava de Otávio. Mas alguém tinha que ter um motivo a mais, não tinha?

Camila pensou e pensou, mas parecia cada vez mais sem saída. O que poderia influenciá-la, na realidade, era uma verdade obscura, que não queria aceitar: de todas as pessoas na ilha, sua mãe era quem agia de forma mais estranha.

Está certo, agora ela já havia retornado ao normal, mas ainda assim, algo pareceu estranho. Quando a família dela chegou na ilha, ela sofreu de uma náusea tremenda e, desde então, não falou mais nada com ninguém. E quando Rebeca pagou as passagens dos amigos, Júlia somente gritou um longo e choroso 'Não'. Se ela não era a assassina, pelo menos sabia de algo a mais.

Foi justamente nesse momento que seu fluxo de pensamentos foi interrompido. Júlia abriu a porta do quarto, com uma postura ereta e bem definida.

— Oi, mãe.

— Oi, Camila. Queria saber se você está bem.

— Eu tô... Mãe, me fala uma coisa...

— O que foi?

— Você sabe de algo?

Silêncio total. Os olhos da mulher se dilataram novamente, vidrados na figura curiosa e ignorante da filha. Levaram minutos de puro, intenso e intimidador contato visual até que Júlia finalmente se acalmasse, sentasse na cama e falasse, sem nem olhar para a própria filha:

— Sim, Camila. Eu sei de algumas coisas. Eu vi, ouvi e sonhei com coisas inimagináveis, que prefiro que morram comigo no meu túmulo. O que posso dizer é que não quero que você se envolva nesse caso, e saiba que eu não sou culpada de nada.

— Mas, mãe, você precisa me contar!

— Não quero contar nem para a polícia, quem dirá você.

— Por favor, mãe!

— Não! — disse firmemente. — Eu prefiro manter para mim algumas coisas, filha. Vou ver o que pode ter causado tudo isso, vou chegar à raiz do problema e aí, só aí, vou expôr. Só quero que saiba que... os seus amigos não são tão comuns quanto eles parecem ser. Especialmente um deles. Na verdade, estão mais envolvidos conosco do que você pode sequer imaginar — E saiu, sem falar uma só palavra a mais.

Em Carne e OssoOnde histórias criam vida. Descubra agora