Capítulo 13 - Na Estrada

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 Júlia estava focada no trânsito, ouvindo a calmaria silenciosa da noite enquanto partia friamente na auto-estrada. Thales, ao seu lado, se sentia inquieto.

— Quando que a Beca vem, mesmo?

— Amanhã ela parte com a Camila.

— E onde é que a gente tá?

— Tubarão, eu acho. Acabamos de entrar em Santa Catarina.

— Ah, mas vai demorar muito, dona Júlia!

— Thales, confia em mim, é mais seguro assim. Eu estive com um pressentimento tão ruim...

— E por isso eu tenho que demorar 14 horas pra reabrir a minha cafeteria? Eu não posso perder meus clientes!

— Confia em mim. É melhor assim.

— Tudo bem, então. Tudo bem...

Subitamente, o carro engatou e morreu.

— Merda! — esbravejou a mulher, socando o volante. — Tem um carro aqui por perto?

— Pior que não. Eu jurava que tinha alguém atrás de nós... — Olhou para trás, vendo somente a vastidão indefinida das sombras. — Eu vou ver o que houve.

— Toma cuidado, Thales.

— Com o quê?

Sem nem mesmo receber uma resposta, o jovem saiu rapidamente do carro. Estava excepcionalmente cansado, e aquela havia sido a pior hora para acontecer algo do tipo.

Abriu o capô. Sua percepção era um tanto desengonçada, mas não pareceu haver nada de errado.

— Não é nada no motor — exclamou.

— Estranho... Veja os pneus.

— Certo.

— Ah, eu não devia ter comprado esse carro de última hora!

— Tá tudo bem, dona Júlia.

Calmo e tranquilo, Thales agachou-se, vendo que um dos pneus estava murcho.

Aproximou-se vagarosamente. Havia um pequeno furo, do tamanho de um dedo.

— O pneu furou — gritou o jovem.

Antes mesmo que pudesse tocar na roda, sentiu brevemente uma lâmina atravessar sua garganta. Chegou a abrir a boca, mas dela não saiu nenhum pranto, apenas sangue. Logo, caiu de cabeça no asfalto, seu corpo sendo gentilmente recepcionado pela borracha preta da roda do carro.

— Está tudo bem aí, Thales? — indagou Júlia, receosa.

Logicamente, não recebeu resposta. Nenhum ruído além do zunido irritante das cigarras. Isso, contudo, até o choque: o para-brisas do carro foi violentamente quebrado por uma tesoura, segurada pelas mãos do algoz de Thales.

Júlia gritou uma única vez antes que as pontas da lâmina se enfiassem em seu peito. Logo depois, mais uma facada. Por fim, ela se estirou imóvel no assento do veículo, o sangue escorrendo de sua boca.

Em Carne e OssoOnde histórias criam vida. Descubra agora