Capítulo 6 - Banheira

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 Camila voltou para o hotel com o coração leve. O que lhe surpreendeu, contudo, foi ver Letícia no sofá, chorando no colo de sua irmã.

— Eu... Eu...

— Letícia? Aconteceu alguma coisa?

— Camila! — interveio Rebeca. — Agora não é a hora. Ela tá triste por causa do término.

— Ah, isso? Mas ele era um traste!

— Mas é ruim de qualquer forma, sua deselegante!

— Eu... Eu... Eu não queria ter terminado com ele no funeral...

— Não queria? — Camila estava confusa. — Então por que não terminou com ele antes?

— Camila! — esbravejou Rebeca, furiosa. — Vai embora daqui.

— Tá bom, tá bom! — Foi embora, um pouco estupefata de ter que ouvir os surtos de raiva de sua irmã.

Decidiu tomar um banho para se acalmar. Logo, já jogou suas roupas no piso frívolo do banheiro e ligou a banheira, pondo seus odorizantes e sais dentro da água enquanto o vapor confortável era exalado por suas narinas. Sem pestanejar, deitou-se no calor fúlgido do utensílio e começou a aquecer seu corpo e sua alma.

Pensava em muitas coisas, enquanto ensaboava o corpo: Paola, seus planos para os próximos anos, seu sucesso na carreira... Jamais evocava na mente coisas como Otávio, sua mãe e afins. Esses queria esquecer o mais cedo que desse.

Contudo, não foi possível. Assim que começou a lavar as pernas, ouviu o som ensurdecedor de uma batida, e logo outra, e outra, e outra.

Socorro! Socorro! — gritava uma voz abafada.

Camila imediatamente levantou-se, enxaguando o piso e sentindo seu pé entrar em contato com a frieza do pavimento.

Socorro, socorro! Socorro! — Essa voz lhe era familiar. Espera, era...

— Paola?

Quando abriu a porta, bum. Acordou.

Pôs a mão no peito, respirando várias vezes de tanto alívio. Havia sido somente um grande e lívido surto. Assim que se recompôs, terminou o banho e se vestiu propriamente. O frescor das flores era inalado graciosamente por seu corpo.

— Filha, deu tudo certo no banho? — perguntou Júia. — Você demorou tanto...

— Eu acabei dormindo e tive um sonho ruim...

— Sonho ruim? — Ficou espavorida.

— Calma, mãe, foi só um pesadelo.

— Tinha uma pessoa gritando socorro?

— Sim... — Camila rapidamente perdeu seu semblante leve.

— Ai, meu Deus. Eu tenho sonhado com isso todo dia, filha, todo dia! É sempre uma tortura. E, no dia em que aquele seu amigo morreu... — Pareceu relutante. — Nesse dia, eu sonhei que foi ele quem pediu socorro.

— Então precisamos ficar aqui em Porto Alegre! — Sua face permaneceu horrorizada. — Mais um dia ou dois, que seja. Mas eu não posso deixar que matem a Paola, meu Deus, não!

— Paola?

— Minha psicóloga. Foi com ela que eu sonhei.

— Certo. Então eu vou avisar à sua irmã que ficaremos mais um pouco, até tudo se acalmar, tudo bem?

— Sim, é melhor assim.

Sua mãe deixou-a, indo falar com a irmã. Pensando bem, era até melhor ficar um pouco mais em Porto Alegre. Todo o seu grupo de amigos se conheceu lá, e somente a sua família era de outro estado. Se lembrou de quando finalmente se formou na UFRGS e precisou voltar para seu estado natal. Tantas lágrimas foram derramadas naquele dia...

Respirou fundo. Agora estava novamente com quem mais amava e valorizava. Achou até que talvez, seria melhor ficar ali... para sempre.

Mal sabia ela que era exatamente isso o que o assassino queria.

Em Carne e OssoOnde histórias criam vida. Descubra agora