Capítulo 18 - Cai o Pano

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 — Abre a porra dessa porta, Rebeca! — gritava a policial, tentando histericamente forçar a maçaneta trancada.

Ain... O que foi? Eu tô com dor de cabeça... — resmungava uma voz abafada, de dentro do quarto.

— Rebeca! — bradou Letícia. — A Tangerina é o fantasma, Rebeca! Foge daí!

O quê?

Subitamente, ouviram-se os zunidos indecifráveis de Tangerina lentamente se metamorfoseando em Isobel. A jovem gritou uma última vez, antes de Julieta arrombar a porta de uma vez por todas e revelar, estática e firme, a figura de Rebeca, com os olhos imponentes e arqueados.

— Eis aqui o assassino que vocês tanto procuraram, garotas. Em carne e osso — afirmou, de forma jocosa.

— Rebeca? — Letícia mal conseguia respirar. — Não é possível! Por que você fez isso?

— Vocês sabem, ser Rebeca Cardoso Hermetti não é tão fácil quanto parece ser. Selena, e esse é o verdadeiro nome dela, me prometeu uma vida eterna de poder, e eu, é claro, não pude recusar derramar algumas gotas de sangue para que esse sonho se tornasse realidade.

— Isso não é motivo, caralho! — esbravejou Julieta, com lágrimas nos olhos. — Você sempre teve tudo o que quis!

— Errado! — redirecionou-se para Letícia. — Você, você mesma! Sabia que nós não somos tão distantes quanto você pode achar que sejamos? Na verdade, minha cara, eu sinto lhe informar que você é minha meia-irmã. Você é o amigo que minha mãe tanto disse que 'estava mais perto da nossa família do que pensávamos'.

— O quê? — Ficou chocada com a revelação.

— Bom, minha mãe disse para Cecília que tinha tido um caso com outro homem. Esse homem, por acaso, era Carlos Teixeira... E eu, infelizmente, fui fruto dessa traição.

— O meu pai... Eu não acredito que eu sou meia-irmã de uma pessoa tão desprezível como você!

— Eu também não acreditei, querida. Na verdade, eu soube disso pelo meu próprio namorado. Ele deixou escapar em alguma conversa. Foi humilhante, sabe? Descobrir que sou uma bastarda depois do meu próprio namorado. Minha mãe preferia o Thales a mim, é verdade, e por isso eu os odeio tanto e fico muito feliz agora que os dois morreram.

— Mas e a sua irmã? — perguntou Julieta. — Você amava tanto ela!

— Eu também amava o meu pai. Mas o meu pai também sabia da minha descendência... Todos sabiam, menos eu. E, desde o divórcio, aquele velho idiota nunca mais oulhou na minha cara! Ele mal pagava a pensão! Era sempre Camila, Camila, Camila! Camila ganhava o afeto, os presentes, Camila passava o dia na casa dele, e quando eu pedi a Ilha Pantheon de aniversário pra ele, adivinha pra quem ele comprou? Exatamente, pra Camila! Depois que o papai morreu, o que me deu um pouco de esperança de que tudo ia voltar ao normal, ela desenvolveu TEPT e até a minha mãe começou a me ignorar por causa dela. Eu não podia, eu simplesmente não podia deixar barato!

— Mas e os outros? Otávio, Guilherme, Cecília, até mesmo eu... Que motivos você tem pra nos matar?

— Ora, Julieta, sinto muito por você, mas sempre será necessário derramar um pouco de sangue inocente. Quanto a Otávio e Guilherme, bom, eles só eram dois tapados. Não era a primeira vez que eu tive vontade de esfaqueá-los. Mas agora, Cecília... Ah, Cecília... A única morte que fiz chorando. Vocês sabem, eu convidei Cecília para se juntar a mim. O plano original seria que nós duas matássemos todo mundo e depois eu compartilharia as recompensas com ela. Até a segunda morte, tudo correu bem. Mas, quando ela começou a chamar a minha mãe, você e a Camila pra conversar, eu já suspeitei na hora do que se tratava e decidi cortar o mal pela raiz. Infelizmente, foi necessário.

— Espera! — interveio Letícia. — Você matou eles com as suas próprias mãos? Não foi possuída nem nada?

— Ora, na verdade, eu fiz a maior parte do trabalho sujo. Selena me ajudou a distrair as vítimas, assustar e até me levou ao carro que a minha mãe comprou pra fugir, mas o resto foi feito sob minhas mãos, inclusive o furo no pneu. A única morte que eu não causei foi a de Camila. Sendo bem sincera, acho que a Selena odiava a Camila, porque ela tentou matar a pobre coitada tantas vezes...

— E você não tentou matar ela, então?

— Eu tentei uma vez, no hospital, mas não deu nada certo. De resto, a Selena fez com que todos ficassem traumatizados até o momento da morte — Gargalhou. — Às vezes ela brincava com as mentes das vítimas, inventava sonhos e mais sonhos bizarros sobre pessoas morrendo e etecetera. Foi uma boa parceira. E, agora, está na hora de finalmente libertá-la. Já decidiram qual de vocês que vai morrer?

— Você! — gritou Julieta, sacando sua arma. Contudo, antes que pudesse atirar, Rebeca foi possuída por Selena e flutuou no ar.

Rindo mais uma vez, o fantasma finalmente ecoou, no corpo pálido da garota:

For sum sáwol ærist, seofongetel sáwol adúnestígan.

Em Carne e OssoOnde histórias criam vida. Descubra agora