Capítulo 16 - A Porta do Porão

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 — Você encontrou alguma coisa, Cami? — perguntou Rebeca, na cozinha.

— Não. Acho que não tem nada aqui, podemos parar. A Letícia já terminou de investigar o porão.

— Deve ter investigado meio metro.

— Por que você não vai lá e termina o que ela não fez? Não tem nada demais no primeiro andar, mesmo.

— Você tá louca? Quer que eu pule do telhado, também? Nem morta eu entro naquele porão!

— Oi, gente! — disse Letícia, descendo as escadas. — Tá tudo bem aí?

Assim que Letícia proferiu essa última interrogação, o ranger da porta do subsolo atraiu a atenção de todas.

— O que foi isso? — perguntou Camila, horrorizada. — Tem alguém no porão?

Antes mesmo que alguém pudesse responder, o piano no mezanino do segundo andar foi empurrado abruptamente para baixo, caindo na cabeça de Camila e esmagando todo o seu corpo, na hora.

— Camila! — berrou Rebeca, o grito mais alto que já havia exclamado em toda a sua vida. Agachou-se para tentar resgatar sua irmã, mas não conseguia levantar o piano de forma alguma. Abaixo dele, somente sangue, vísceras e ossos quebrados tinham lugar. Não havia mais Camila.

— Não... Minha irmã... — O choque foi substituído por lágrimas, vorazes e contundentes.

— Rebeca, foge!

— Todo mundo que eu amo tá morto... — Desfigurou sua face em meio ao choro compulsivo, logo atirando seu corpo em cima do piano.

— Rebeca, é sério, tem um...

Antes que pudesse completar sua frase, Rebeca foi agarrada pelo pé, arrastada até o porão.

— Ah! Socorro! Letícia!

A amiga efetivamente segurou as mãos da garota, competindo sua força com a da falecida. Enfim, Isobel finalmente soltou-a, permitindo que elas escapassem até o andar de cima e se encontrassem com Julieta.

Não vai ficar assim! — uivou, enfurecida. Hudson não havia se materializado. Por isso, era impossível vê-la.

— Você acabou com a minha vida! — pranteou Hermetti, ainda carregada de emoções pela morte da irmã. — O que você quer mais de nós? Nos deixa em paz!

Argh! — E, dessa vez, sua voz começou a ser audível por todos os lugares.

Finalmente, o silêncio. Para Rebeca, contudo, essa saída dramática não foi nada satisfatória. Era vísivel aos olhos das outras o seu luto profundo, jamais possível de se cicatrizar, eterno como o amor que teve por Camila.

— Eu não me senti assim nem quando o Thales morreu... — gaguejou, em meio aos soluços chorosos. — Eu não acredito que eu nunca mais vou ver a minha irmã!

Letícia abraçou-a, levando-a a um quarto aleatório da casa.

— Julieta! — chamou. — Eu vou cuidar da Rebeca. Cuida da casa, tá bom?

— Tá bom. Podem ir.

Em Carne e OssoOnde histórias criam vida. Descubra agora