Capítulo 1

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"Os amuletos são a vida,
e devemos fazer o que for preciso
para protegê-los."
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Os Guardiões de Pralia permanecem fora da ilha lutando contra criaturas perversas, ou cumprindo missões menos agressivas, para quando voltarem, receberem a medalha cristalina. Aquela disposta a habitar no interior de seu portador, lhe posicionando em um cargo superior de liderança. Anseio tanto ganhar essa medalha, a ponto de ignorar qualquer dificuldade capaz de surgir. Pois com ela, realizarei o meu sonho.

Sou uma aprendiz. Uma guardiã aprendiz.

Conservo-me dentro da ilha aperfeiçoando cada dia meu treinamento diurnal, enquanto aguardo o momento certo para agir com coragem e expor minhas habilidades ocultas.

Lutarei com punhos e espadas até passar pela etapa de aprendiz, recém-guardiã, e me tornar oficialmente uma Guardiã. Basta esperar a oportunidade perfeita e receberei tal título de honra. Sempre quando reflito sobre isso, sinto angústia por cima da empolgação. Esqueço totalmente quais eram meus verdadeiros objetivos antes de chegar na ilha.

Desejei por longo período me tornar uma guerreira, assim como eram meus pais. Lutar pelo nosso povo com honra os protegendo dos inimigos, mas não era o que meu irmão queria. Ele desejou sentir o peso de defender algo precioso ao invés de pessoas com a própria vida. Lutar por aquilo incapaz de ter.

Ele é mais velho, preciso seguir seus passos e evitar me afastar ainda mais da única pessoa a qual posso chamar de família. A qual mesmo sendo sangue do mesmo sangue, fruto do mesmo ventre, fiquei distante depois da morte de nossos pais. Passamos anos sem conversar e quando nos trombamos pela ilha, parecemos desconhecidos, sem interagir um com o outro, sem agir como irmãos. Desconhecidos.

Nossos pais odiariam o que nos tornamos.

Tenho uma boa visão dos navios próximos a costa, dos faróis piscando em alerta, dos guardiões em volta da ilha impedindo estrangeiros de passar, e daqueles belos golfinhos saltando entre as ondas

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Tenho uma boa visão dos navios próximos a costa, dos faróis piscando em alerta, dos guardiões em volta da ilha impedindo estrangeiros de passar, e daqueles belos golfinhos saltando entre as ondas.

Esse se tornou recentemente meu lugar favorito da ilha. Pode ser assustador levando em conta a distância que estou do chão, mas a enorme janela de areia é
calma, perfeita para vigiar.

Aprendizes não fazem muito em dias agitados como hoje, além de vigiar cada área atentos enquanto chegam encomendas até o Guardião Supremo. A noite é mais tranquila, devemos apenas descansar após trocar de turno com os guardiões mais velhos.

Salto pelo ar flutuando segundos antes de grudar os pés no chão. Estou neste local a quase cinco horas desde a alvorada, é o momento certo para revisar com outro aprendiz.

- Vigie perto do lago - River me passa as coordenadas do local exato e escala a janela.

Os números do código são fáceis de decifrar, devemos gravar milhares deles, mas esse é o principal. Vigiarei onde mais necessita ser cuidadosa, onde estão escondidos os amuletos do poder. Eles concedem cinco dons especiais que não devem cair em mãos erradas, e meu objetivo hoje, é protegê-los.

Atravesso a ponte do lago encontrando meus companheiros de vigia, Ronan é um deles. O guardião mais bem visto da ilha. Ele é forte e temível. Ganhou duas vezes seguidas a medalha cristalina, recebidas das próprias mãos do Guardião Supremo, mas ainda assim está no grupo de recéns-guardiões.

Me pergunto o porquê disso. Ronan pode apenas sair dessa ilha buscando uma nova jornada, ou viajar para a ilha Vicksen como guardião e treinar até se tornar ainda mais resistente. Ele tem capacidade para isso, tem influência, mas não aproveita as oportunidades.

Bran também está presente. Ele é o maior rival de Ronan, pois luta contra ele enquanto tenta ficar em primeiro lugar, o que até hoje não conseguiu. Bran tenta vencê-lo de vários modos, é cansativo, mas nada o impede de prosseguir.

Os dois estão a quase um metro de distância a frente da caverna, e pelas coordenadas, devo me direcionar entre eles. Faço minha posição de defesa pegando a espada da cintura, apoio-a na terra sem tirar as duas mãos do cabo e separo levemente os pés.

- Sejamos sinceros - Hazel continua a conversa ao endireitar os ombros em uma postura mais confortável - Ronan é melhor na luta com espadas e Bran ganha com os punhos.

- Eu diria que Ronan é melhor nos dois - provoca Dante. Sua voz vem do alto das árvores acima de um tronco.

- Eu voto em Ronan - diz Valérie acenando com simpatia ao me reconhecer.

O clima está tenso com Bran quase atolando sua espada na terra e Ronan respirando fundo nem um pouco aliviado. Ele deve achar essa votação irrelevante para ambos. Não será ela quem decidirá qual dos dois é melhor, isso depende da capacidade e força deles mesmos. Pelo seu silêncio, ele já deve ter dito essa mesma frase antes de minha chegada, o que não deve ter adiantado muito para os aprendizes.

- 3 a 0 para Ronan então - conta Agni - Meire? - ela me chama - Você não votou.

- Eu deveria? - questiono em tom suave com a sobrancelha erguida - Nem sei do que se trata.

- Ronan ou Bran - Valérie tenta esclarecer - Quem é o melhor?

Ambos os aprendizes colocam o peso da atenção sobre mim. Seria perda de tempo tentar anular meu voto, cada um deles anseia pela minha resposta, mesmo ela sendo totalmente desnecessária.

Lembro do modo espetacular como Ronan usa sua sabre de aço girando em torno dos dedos para distrair o rival, e golpeá-lo de repente.

Lembro de Bran guiando os inimigos até uma emboscada o golpeando diversas vezes. Os dois dão o melhor de si, seja com ou sem espadas. Eles não precisam competir dessa forma. Me pergunto se é de fato necessário ter um melhor entre os dois, pois sendo assim, haverá ainda mais rivalidade entre eles.

- Concordo com Hazel - respondo - os dois são ótimos de diferentes modos.

Bran bufa exclamando um xingamento, mas sinto em sua voz migalhas de conforto. Não sou próxima o bastante deles dois para assim como Dante, votar no qual considero meu amigo. Minhas interações com Ronan são quando estamos a sós na mesma área de vigia, ou em momentos onde nossos amigos se juntam para conversar. E Bran? Bem... ele é mais próximo dos recéns-guardiões.

Ouço algo mexer dentro das moitas onde não conseguimos ver perfeitamente. Fixo meu olhar no local esperando alguém surgir, talvez um guardião ou algum animal desta selva apareça.

- Tem algo dentro do lago - avisa Agni saindo de sua posição. Ela suspende a cimitarra com os punhos firmes e passos lentos.

- Vejo peixes saltitantes daqui - comenta Dante.

Novamente um som vem de trás das moitas. De lá sai três pedrinhas sendo arremessadas na água.

Bran e Ronan estão cada vez mais perto do lago deixando suas posições de guarda. Vou mais para trás em frente a caverna tentando protegê-la, mas sendo a única com essa intenção, é difícil continuar.

Todos se concentram no lago, tentam ver claramente através das flores secas flutuando pela água.

- Esperem! - ordeno - Alguém está jogando pedras!

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