Capítulo 15

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Observo os olhos de Colin se fecharem provavelmente pela última vez. Seu corpo se encontra imóvel, largado pelo chão. A corrente do juramento envolveu seu pescoço e fez questão de antes de esfriar, deixar uma reluzente marca de queimadura, como se alguém de fato o estivesse enforcado até a morte. Como uma cena perfeita de assassinato.

O desespero de Grigor contagia o local, tornando-o um espaço de suspense agoniante. Ele faz o possível para encontrar o pulso de Colin, e ao desistir após uma expressão de definitiva decepção, Grigor repousa o corpo no chão, fixando sua visão na garota triste e rancorosa à sua frente.

- É melhor você sair agora - Ele ordena. Seus olhos transmitem preocupação, e talvez pena. Não sei se de Colin ou de mim.

Obedeço Grigor rapidamente. Corro pela escada sem planejar meu próximo passo e impressionada por em momento algum troupessar. Minha mente está cheia ao ponto de transbordar. Tento colocar meus pensamentos em ordem, relembrando as memórias que Colin trouxe à tona, mas todas essas revelações estão sugando minha energia.

Não consigo raciocinar corretamente quando chego na tenda, sei apenas que tenho forças somente para me deitar, e fechar os olhos tentando não repassar cada momento do interrogatorio em meus pensamentos.

Desde os 14 anos passei a acreditar que meu tio matou os meus pais. Eles me disseram isso. Meu irmão, e alguns amigos de meus pais fizeram questão de me contar o mínimo detalhe possível. E mesmo sem provas, eu acreditei. Eu, como uma indefesa e ingênua criança, acreditei.

O mais intrigante é estar ciente de que Colin não pode ter mentindo, a corrente do juramento prova que tudo foi real, pois se não fosse, ela não haveria motivos para enforcar Colin. Não tenho conhecimento suficiente sobre a magia dos magos, mas sei que a corrente falharia se Colin fosse enfeitiçado sob um suposto segredo o qual na verdade fosse mentira. Todos sabem disso.

Minhas emoções estão em uma enorme bagunça. Me pergunto se ainda tenho motivos para odiar meu tio, ele não matou meus pais, eu não precisava fugir dele.

Meus olhos enchem-se de água, cada gota da lágrima percorre meu rosto sendo abafada pela almofoda onde repouso a cabeça. Permaneço o dia assim, chorando e tentando me consolar.

Remi chega na tenda pouco antes do anoitecer, estou virada para o lado contrário a ela, pretendendo esconder meu rosto.

- O treinador perguntou por quê você não participou do treino hoje - ela diz, mas eu apenas balanço a cabeça, esperando que fosse o suficiente para Remi entender como uma breve resposta - Ele também pediu para vê-la amanhã antes do treinamento.

Aceno novamente, lutando mais uma vez contra as lágrimas e evitando dizer uma única palavra. Remi se retira da tenda, me deixando a sós comigo mesma, com meus pensamentos, com as vozes de Colin ecoando no fundo da minha alma dizendo aquela mesma frase: "Seu futuro será cheio de perdas e dores, pequena Mey."

Por fora da tenda, ouço sussurros baixos. Minhas lágrimas já secaram a algum tempo, e meus olhos não devem estar tão enchados. Então tento esquecer tudo, e voltar minha vida comum como recém-guardiã. Antes de sair da tenda, paro ao ver silhuetas familiares de costa para mim.

- Essa é mesmo a tenda dela? - questiona uma voz masculina, consigo reconhecê-la facilmente. É Dante. - Se não for, podemos invadir a privacidade de alguém.

- Valérie me disse que era essa - Agni se defende das acusações - Vamos entrar antes que ela chegue.

- Espere, Agni - Dante a para - Você sabe com quem Meire divide a tenda? Eu não quero me encontrar com...

- Remi Granson - Agni interrompe, usando um tom ameaçador e debochado - Se ela não gostar, podemos lidar com seu temperamento hostil.

- Claro - Dante zomba - Já que você tem o mesmo temperamento que ela será fácil.

- Calado. - Agni ordena virada para a tenda, e parece ver ao menos a curvatura de meu corpo, assim como eu os vejo.

Eles mantem silêncio, até que Agni decide abrir o ziper se deparando comigo.

- Ah, Meire - Os dois suspiram aliviados.

- Não se preocupem, Remi não ouviu vocês - brinco zombando de suas reações.

- Ah, eu ouvi sim - Remi surge saindo de trás da tenda. - Como vocês pretendem lidar comigo mesmo? - ela pergunta aos dois suspeitos invasores.

- Eles estavam apenas brincando, Remi. Não precisa levar a sério. - afirmo antes de Agni começar uma discussão, como ela sempre faz. - Vocês deveriam me contar por que vieram até aqui.

- Oh, claro - Dante e Agni se entreolham - Queriamos apenas ver você.

- Me ver? Vocês dois? - questiono com um meio sorriso irônico - Duvido que fosse só isso.

- Mas era só - Dante puxa Agni pelo braço a levando para longe - Estamos indo agora. Até depois, Meire.

Eu e Remi observamos eles se afastarem. Depois de momentos nos encarando com uma esperando a outra falar algo, decidimos entrar na tenda. Pego minha espada, e pretendendo relaxar, subo até as montanhas.

Observo de longe duas pessoas uma de frente para a outra conversando. Quanto mais me aproximo, mais posso reconhece-los. A primeira a qual consigo identificar é Calla, uma jovem loira e carismática, a prima de Ronan. E a sua frente vejo um rapaz músculoso de cabelo preto, Slater.

Quando passo por eles, Calla me olha sorridente e me comprimenta com um breve aceno. Já Slater, apenas me olha com uma expressão neutra. Eu pretendia ficar aqui, e treinar um pouco com minha espada, mas mudo de ideia ao vê-los, e sigo caminho até a cachoeira atrás da Câmara do Guardião.

Afundo minha katana na terra úmida, retiro minhas botas e as deixo ao lado da espada. Dobro minha calça até o joelho, sento na berada do lago e então coloco meus pés dentro da água. Espero um pouco antes de anoitecer, fico pensando em Grigor, e em como ele vai explicar para o Guardião Supremo o ocorrido. Conhecendo ele, com certeza fará o possível para eliminar meu nome da situação.

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