Capítulo 8

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Acordo quando o sol começa a surgir, e Valérie permanece em seu sono profundo ao meu lado. Pego minha katana e subo pela montanha mais próxima, aquela bem perto do céu. Gosto de usar espadas, principalmente katanas. Praticá-las abaixo do nascer do sol é satisfatório, pois consigo recordar um pouco do meu passado, de quando vivia por diversão.

Eu e meu irmão brincávamos com espadas na claridade do dia aperfeiçoando nossos movimentos. Nessa época, meus pais examinavam cada movimento e nos ensinava alguns truques. Eles me presentearam com essa katana após eu lutar contra os dois e ganhar de forma sábia e justa. O único presente que ainda tenho recebido das mãos deles, é ela.

Aliso a lâmina da espada onde está assinado meu nome e mais uma frase escolhida pelos guerreiros que mais admiro: Meire Denson, a escolhida do aurora.

Seguro firme a espada com a mão direita na parte superior do cabo e a esquerda mais abaixo perto do pomo. Sigo em linha reta avançando dois passos de cada vez enquanto golpeio o vento.

Não paro quando estou prestes a esfaquear o tronco de uma árvore. Um, dois, três cortes retos e curvos formando traços impossíveis de decifrar. Giro para trás preparada para refazer meus passos, mas uma espada estrala contra a minha. Ronan sorri me convocando à luta.

- Não está com raiva de mim, está? - ele pergunta com seu sabre dourado em mãos.

O som da minha lâmina batendo contra a dele faz nossos ouvidos se arrepiarem. Desvio de seu ataque com dois rodopios e golpeio seu rosto.

- Isso responde sua pergunta?

Ele sorri. Aquele sorriso suave de vitória que vejo sempre em seus lábios quando ganha uma luta. Aquele sorriso que estremece seu oponente no começo e no final do combate. Aquele contagiante sorriso que também não consigo conter.

Quando está em um desses combates, nesse momento Ronan ataca seu rival com muita agressividade. Ele deveria agir dessa forma comigo também, mas ao invés disso, apenas volta para trás, se encostando na árvore e com o dedo, limpa o sangue do rosto.

- Sabe, ainda estou curioso sobre você e o invasor - ele conta.

- Apenas esqueça isso - me sento em um dos troncos caídos.

- Não consigo - afirma - Enquanto você não esquecer, eu também não esquecerei.

- Porquê? - pergunto rabiscando a terra com minha espada - Já disse que isso não tem nada haver com você.

- Mas tem com você.

Elevo meu olhar até ele.

- Analisei um pouco, e percebi que nem eu e nem os outros sabemos muito de você.

- Tenho certeza que os outros sabem mais do que você. - murmuro. Ronan tenta descobrir coisas sobre mim, mas nem ao menos deve saber o básico.

- O que eles sabem que eu não sei?

- Bom, talvez meu nome?

- Eu sei seu nome - afirma pensativo.

- Qual é?

Ele me encara indignado.

- Me... - ele para por um instante - Mey. É claro.

- Mey é apelido.

- Não importa. Vou te chamar assim de agora em diante.

- Se me chamar assim, vou desafiá-lo em uma luta de espadas - declaro com os olhos cerrados.

- Então, como devo chamá-la? - questiona.

- Tudo. Menos Mey - digo. Ouvir a pronúncia desse nome me causa calafrios. Me lembra do meu tio enquanto faço o possível para esquecê-lo. Quando alguém me chama assim, sinto tanta adrenalina subir pelo meu corpo que seria capaz de começar ali mesmo um duelo.

Observo Ronan admirar o sol enquanto pensa.

- Meire Denson está bom para você? - ele brinca - Soa bem, certo?

Reviro os olhos. Ele sabe meu nome. Claro que sabe.

- Descobriu no dia da invasão - brinco descaradamente - Típico.

- Descobri seu nome assim que você chegou na ilha. - ele declara, e eu me surpreendo. - Seu nome era bem popular á quatro anos atrás. Meire, a garota órfã-bizarra. Eles não a chamam mais assim?

- Não - digo com um sorriso forçado e triste. - Mas obrigado pela lembrança.

- Você pediu por isso - diz Ronan e tenta me confortar com com sua expressão arrependida - Todos da ilha sabem seu nome.

- Todos da ilha sabiam meu nome - corrijo ele - Você com certeza é o único que consegue lembrá-lo desde essa época.

- É possível. Minha memória é boa como o tamanho dos gigantes - brinca arrancando um sorriso de meus lábios.

- Tenho certeza disso - digo em um sussurro.

- Estou perdoado? - ele pergunta. - Por ter mentido antes, e trazido à tona más lembranças?

- Não perdoou as pessoas assim tão facilmente - brinco voltando a riscar a terra com minha katana. Ronan a suspende com sua própria espada me obrigando a ser defensoria. Levanto e volto a tentar golpeá-lo várias vezes seguidas.

Passamos o resto da manhã assim, lutando.

Após esse reconfortante momento, eu e Ronan seguimos caminhos diferentes. Ele parece ter ido até a arena, e eu fui chamada pelo Guardião Supremo até a Câmara Rochosa. Encontro Grigor e outros guardiões reunidos ao redor de uma mesa onde está um mapa aberto. Pela reação de todos, eles já devem estar cientes que me juntarei na missão.

O plano foi feito por Nimeria e Grigor. Imaginei que fossemos lutar contra os gigantes, mas o plano diz totalmente ao contrário. Devemos conversar com o líder deles e persuadilo a libertar Hades. Bem, na verdade, Nimeria, Winn e Grigor devem persuadi-lo. Eu e Nasrin fomos encarregadas de não dizer nada, e nem olhar nos olhos dos gigantes.

Claro, eles não disseram com essas palavras, mas foi dessa forma como compreendi.

- Vocês tentam convencer o líder dos gigantes - Havia dito o Guardião para Winn, Grigor e Niméria. - E vocês duas, tentem não espantar os gigantes.

Como eu deveria compreender essa fala? Posso estar ciente: eu nem deveria ser bem vinda na missão, e Nasrin? Ela nem se importou. O Guardião estava certo, ele conhece muito bem a guardiã, ela não é fã dos gigantes por causa de seu passado.
Seus pais foram mortos anos atrás por um deles, isso ainda atormenta Nasrin. E com apenas seu sotaque feroz herdado dos pais cavaleiros, ela poderia causar um grande terror pela ilha Fouler.

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