Capítulo 4

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Quando soube da invasão, o Guardião Supremo selecionou os melhores guardiões a fim de protegerem a ilha de qualquer intruso. Ou seja, os aprendizes estão em etapa de descanso por pelo menos as próximas duas semanas.

Não temos nenhuma tarefa específica para realizar, podemos tentar nos distrair de alguma forma, ou passar o resto do dia treinando, como auxiliaria o treinador Otis.

Sem muitas opções de me divertir, decidi passar o dia no campo, o lugar mais adequado para relaxar e sentir o doce aroma das flores deitada sobre elas. Sentia-me estar sendo observada, mas não estava com vontade alguma de sair do meu conforto.

A claridade do sol era forte o bastante para manter meus olhos fechados, quando estava prestes adormece-los, uma estatura masculina cobriu o sol com seu corpo alto e músculoso.

— Parece que encontrei o esconderijo perfeito para uma aprendiz — disse Ronan.

Suspirei sentindo uma leve irritação misturada com curiosidade.

— E parece que você encontrou uma desculpa perfeita para me vigiar. — eu ri sarcástica.

Ele se sentou ao meu lado, apoiando-se nas mãos e olhando para o horizonte.

— Achei que você poderia querer um pouco de companhia.

Dei um meio sorriso, ainda não completamente convencida. Ronan riu suavemente.

— Estamos em tempos de descanso, e até os mais fortes precisam de uma pausa, não acha?

Revirei os olhos, mas não consegui conter um pequeno sorriso. Havia algo no jeito de Ronan que me deixava intrigada. Ele se deitou ao meu lado, nossos ombros quase se tocando, e juntos olhamos para o céu.

Ficamos em silêncio por um tempo, apenas apreciando a tranquilidade do campo. Ronan, no entanto, fixou seus olhos em meu rosto por um longo tempo.

— Não me encare tanto. — Eu o repreendi.

— Por quê? — Questionou — Sua beleza não pode ser admirada?

Eu virei o rosto até ele, estavamos tão próximos um do outro, que mesmo sentindo minhas bochechas esquentarem, não consegui desviar o olhar de seu rosto pálido, seus cachos loiros, seus olhos cor de ambar, seus lábios rosados.

Eu queria parar de observá-lo, mas seus olhos estavam profundamente encarando os meus, como se estivessem hipnotizados, tão próximos que eu podia sentir a respiração dele misturando-se com a minha. O mundo parecia ter parado, e tudo o que importava era aquele instante, aquele olhar.

O silêncio entre nós se tornou palpável, carregado de uma tensão que eu não conseguia decifrar completamente. Ronan, percebendo minha hesitação, suavizou o olhar, mas não desviou os olhos dos meus.

— Ontem você estava bem determinada — ele sussurrou, quebrando totalmente o clima em seguida— Mas me pergunto se você tem algum tipo de conexão com o invasor.

Tentando recuperar a compostura, desviei o olhar, encarando no céu.

— Eu não o conheço — respondi secamente, torcendo para que ele não estendesse mais sobre o assunto.

— Mas ele te conhece.

— Mas você não tem nada haver com isso. — Disse me levantando para fugir do assunto, para fugir de Ronan.

Ele não disse mais nada, apenas me encarou enquanto pegava uma bela rosa-vermelha do chão e me afastava.

Saí do campo, sentindo o coração bater mais rápido do que o normal. A presença de Ronan sempre mexia comigo, mas essa última troca de palavras deixou-me ainda mais confusa. Será que ele sabia mais do que estava deixando transparecer?

Andei em direção à floresta próxima, buscando refúgio entre as árvores. A sombra e a brisa fresca eram um alívio após a intensidade do sol no campo.

Enquanto caminhava, os pensamentos continuavam a rodar em minha mente. Quem era aquele invasor? Por que ele parecia ter algum tipo de ligação comigo? E, mais importante, por que Ronan estava tão interessado nisso?

Sentei-me em uma pedra grande, observando o movimento suave das folhas acima. A tranquilidade da floresta começava a acalmar meus nervos quando ouvi passos leves se aproximando. Olhei ao redor, tentando identificar a fonte do som.

De repente, uma figura surgiu entre as árvores. Era Valérie, se aproximando com um sorriso sutil nos lábios.

— Estava te procurando — disse ao se encostar em uma árvore a minha frente. — Está tudo bem?

Suspirei, sentindo uma pequena onda de alívio por vê-la.

— Sim. — Eu menti. Não estava nada bem, mas além de me escutar atentamente e compartilhar alguns conselhos, ela não podia me ajudar muito. —

Ela inclinou a cabeça, os olhos castanhos observando-me com atenção.

— Todos ficaram um pouco confusos ontem. — Ela contou cruzando os braços. — Na verdade, o invasor deixou todos confusos.

Abaixei o olhar com uma expressão de concordância no rosto. Não queria falar com ninguém sobre o que aconteceu ontem, desejava apenas que todos esquecessem.

— Mas se você não quiser conversar sobre, tudo bem. — ela tentou me confortar. Agradeci mentalmente a ela por isso. — Meire — ela pronúnciou meu nome, buscando encontrar palavras para prosseguir. — Estou gostando de alguém...

Ela parou para observar minha reação. Meus olhos se arregalaram, mas um sorriso largo se ergueu.

— Quem? — perguntei animada.

— Você saberá brevemente — ela disse irônica — Tens os seus segredos e eu tenho os meus, Meire Denson.

Ela rodopiou pelo ar com dois giros e um enorme sorriso nos lábios.

— Não acredito que me deixará nesse suspense. — sussurrei forçando uma expressão chateada.

— Vou te dar três dicas — ela disse sentando-se ao meu lado na rocha  — Primeira: Você não conversa muito com ele. Segunda: Ele é um recém-guardião. Terceiro: ele é muito bonito.

Resmunguei nada satisfeita. Seria impossível descobrir, quase todos da ilha possuem estes mesmo quesitos. Valérie sorriu com minha reação e me puxou para que nos duas ficassemos de pé.

Juntas, fomos para a clareira, onde o sol ainda brilhava forte e encontramos vários aprendizes para conversar.

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