Capítulo 7

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Passos lentos circulam minha tenda desde quando despertei. É noite, todos estão descansando, inclusive Valérie. Ela dorme como uma pedra e se vira para longe quando acerto meu cotovelo em seu braço.

Quem estiver do lado de fora está me assustando, no entanto, posso escolher permanecer na tenda ignorando-o, ou sair para confrontá-lo.

Não sei qual das duas alternativas é a pior. Uma parece como fracassados agiriam, a outra se torna corajosa, mas talvez perigosa. Não se sabe quem está lá fora essa hora da noite. Talvez algum animal esteja vagando pelas tendas, já ouve um acontecimento semelhante semanas atrás.

Evito pensar demais, ponho-me de pé abrindo o zíper da tenda. E por uma brecha, vejo uma sombra masculina ficar imóvel do outro lado quando ouve o som. Saiu rápido com o punhal que Ronan me devolveu nas mãos, vou até onde situa-se a sombra encontrando a pessoa a qual jamais teria imaginado.

— Grigor? — pronuncio seu nome em tom suave e relaxo a mão com o punhal ao lado do corpo.

Grigor arregala os olhos ao me ver, com essa reação, por um momento penso que não sou eu quem ele esperava encontrar. Talvez ele esteja apenas de passagem.

— Venha comigo — ele puxa meu braço conduzindo nós dois pela floresta. Solto o punhal na mata, excitando a palma quente da mão de Grigor contra meu pulso.

Atravessamos a ponte, as árvores, e talvez até o pântano, chegando em uma mansão cercada de rochas. A Câmara do Guardião. Ela é usada como o lugar de descanso e breve reuniões do Guardião Supremo. Enquanto a Câmara Rochosa é útil para planejar estratégias ou reuniões longas com guardiões importantes.

Grigor e eu paramos, ele se vira, seus olhos negros penetram os meus.

— Acabei de conversar com Ronan sobre você — ele conta. Me pergunto como me tornei alguém importante a ponto do braço direito do Guardião Supremo e o mais admirado por ele falarem sobre mim em plena noite. — ele me contou que o Guardião ainda não falou com você. Eu já expliquei os detalhes da invasão para ele. Você deve ir vê-lo.

— Tem certeza? Não quero ser exagerada. Apenas fiz o que qualquer aprendiz deveria fazer — digo ansiando pela resposta.

De todos os outros guardiões, Grigor é o mais influente, o mais próximo do Guardião Supremo. Quem pode também me tornar influente.

— Vamos falar com o Guardião Supremo — ele afirma.

Uma falta de coragem surge dentro de mim. Cerro as mãos trêmulas evitando demonstrar medo. Aqui na ilha, se você fizer algo que possa impedir um desastre, normalmente o Guardião lhe agradece pessoalmente ou lhe dará uma recompensa. Todos estão me levando a sério porque eu fui quem impediu o invasor de envenenar a água. Para eles, eu sou quem mais merece ser recompensada.

Deixo-me ser conduzida novamente por Grigor. Os guardas do portão abrem caminho quando o vêm, mas me encarando com desgosto. É incomum guardiãs aprendizes aparecerem por aqui, e quando acontece uma situação como essa, todos presumem que vim por fazer algo estúpido e não por querer algo estúpido.

Entramos onde imagino ser o salão principal, aqui encontramos o Guardião servindo-se uma taça de vinho tinto enquanto lê um livro. Ele passa a página movendo cada dedo com cautela e reparo mais duas taças vazias em frente a sua, ele as enche até a metade.

— Sentem-se — ordena.

Sempre quando vi o Guardião ele estava alterado ou furioso demais com algumas competições. Nunca o vi tão calmo. Eu e Grigor sentamos na longa poltrona à sua frente, enquanto aguardavamos o guardião começar a fala.

— Você é Meire, certo?

— Sim, Guardião — eu respondi.

— Se não fosse pela sua inteligência, metade dos guardiões estariam mortos — ele afirmou — O quê você deseja como recompensa?

Mesmo já tendo escolhido a noite toda meu desejo, repenso muito antes de conta-lo.

— Pode parecer um pouco ousado —
admito — mas gostaria de ir com os guardiões em uma missão.

— Ou você pode esperar até que se torne uma Guardiã. — ele diz, mas ao ver minha expressão, elimina sua frase abanando o vento com a palma da mão — Você tem uma missão específica que deseja ir?

— Sim — digo séria — Quero me juntar aos guardiões e ir até Fouler.

O sorriso sarcástico do Guardião me causa calafrios. Ele presume ser apenas uma brincadeira, e olha furioso para Grigor. Sabe exatamente quem me contou.

— Essa missão não é para novatos. Não é um teste — conta o Guardião.

— Se qualquer coisa acontecer comigo, se eu for aprisionada também, tudo estará perdido e não tem como voltar atrás. — digo tirando as palavras da boca do Guardião. — Eu sei quais são as consequências. Não vou estragar o plano.

— Você parece ter certeza disso — pensa o Guardião — Se você causar danos no plano, ou errar um passo sequer, direi aos guardiões, e a Grigor, para lhe abandonarem em Fouler. Você aceita minhas condições?

— Se eu for de ajuda e não estragar tudo, serei recompensada novamente quando voltar. — digo, aproveitando essa oportunidade — Dessa forma, eu aceito suas condições.

O Guardião pensa alguns segundos enquanto toma um gole do vinho.

— Eu também aceito suas condições. — Ele concorda por fim.

Não posso fazer muito por Grigor. Apenas sussurro "sinto muito" quando passo por ele, e como o brincalhão de sempre, ele apenas sorri e assente. Apenas deixa passar essa minha falta de consideração por ter revelado saber o que não deveria sobre o ocorrido em Fouler.

Espero poder recompensar Grigor mais tarde. Espero muito que essa situação não o faça deixar de confiar em mim. Nunca mais agirei dessa forma impulsiva sem antes consultá-lo. — Volto a minha tenda sem sono algum, mas me deito, fecho os olhos e o aguardo chegar.

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