Capítulo 3

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Esse lago vem das águas doce do riacho, a água que bebemos. Se Colin pulasse, envenenaria todos nós, esse é o seu plano. Ele não veio aqui planejando pegar os amuletos, talvez nem saiba onde de fato estão. Seu objetivo era nos matar através do veneno.

- Quem é seu mestre? - Ronan se aproxima ao notar também as marcas de corrente em Colin. O garoto desvia o olhar de nós para as árvores, e então me encara profundamente.

- Meire Denson é minha mestra - ele alega com um tom mais firme e áspero, sem ser interrompido pelo tremor.

Me afasto por impulso boquiaberta, sem conseguir controlar minha surpresa. Tento expantar o tremor das mãos segurando minha espada com força, o que não adianta muito enquanto encaro o olhar profundo e negro de Colin.

Colin sabe meu nome. Colin me chamou de Mey. Colin serve a meu tio, e com certeza é mais uma de suas cobaias. Ele deve estar enfeitiçado sob o poder e influência do Coronel Forks, o poder do meu tio.

Fizemos o possível para mantê-lo longe. Ele é um guerreiro, uma ameaça, um ser terrível que traiu meus pais, foi responsável pelo assassinato deles com objetivo de assumir um lugar melhor como guerreiro, e envenenou a bebida de minha mãe quando ela estava grávida de mim. Esse é o seu jogo sujo, envenenar os inimigos e tomar o lugar deles.

Eu e meu irmão cortamos qualquer contato ou relação que tinhamos com o Coronel Forks após a morte de nossos pais. Ele sabe onde estou, mas talvez não saiba sobre meu irmão. Boatos diziam que Meire se tornou guardiã e seu irmão um cavaleiro. Acredito ter sido um plano dos meus pai, eles tinham certeza cujo caminho os filhos seguiriam, o mesmo caminho deles. Mas não pôde ser assim.

- Qual seu desejo, minha mestra? - Ele abre os dentes em um enorme sorriso amarelo. Seus tenebrosos olhos de carvão agitam-se ao bater do sol, deixando ainda mais amostra a sua pele pálida.

- Ele não tem nenhum poder - começo o contornando - Está enfeitiçado e a prova de juramento. Não nos contará nada.

- Ah, eu vou contar - Colin se levanta com dificuldade, e nós erguemos as espadas prontos para atacar - contarei o que seu mestre mandou.

- Ele não é meu mestre - afirmo rangendo os dentes.

- De quem estão falando? - Agni pergunta se aproximando.

- Meire Denson é...

Levanto meu punho contra o maxilar de Colin antes dele terminar sua fala, e ao desmaiar sobre as pedras duras do chão, quase cai no lago. Por sorte, Ronan o arrasta para longe.

- Porquê fez isso? - Agni segura meu punho com força - Se ele caísse na água, nós estaríamos mortos.

- Foi impulso - puxo meu braço. Impulso.

Caminho para trás colocando-me na retaguarda novamente. Bran está ao meu lado tão imóvel quanto eu. Fitamos um o olhar do outro, ele contrai sua mandíbula e busca alguma informação através de minha expressão, mas eu mantenho o rosto neutro. Nem preocupada, nem assustada. Neutro.

Dante surge por detrás das plantas trazendo dois guardiões consigo. Colin é levado por eles, e nesse momento, sinto uma onda de inquietação penetrando pela minha alma. Mesmo com o radiante sol, estou pálida tanto quanto a neve.

Se meu tio permitiu que Colin falasse demais sobre minha vida, eu deveria mesmo estar alerta. Preciso tentar o possível para estar presente quando ele for interrogado. Pode não funcionar muito, mas talvez com meu olhar de súplica, ele não conte demais.

No cair da noite, trocamos de posto com guardiões mais velhos. Acompanho Valérie até o acampamento. Estamos em frente a nossa tenda deliciando os petiscos do qual acabaram de sair da brasa.

Um pequeno círculo se forma ao redor da fogueira distante de nós com os aprendizes e recéns-guardiões. Dante conversa com eles e todos estão concentrados. Talvez esteja contando sobre o ocorrido hoje, - "um invasor tentou envenenar a água, e eu o impedi." - É com certeza o que ele disse levando em conta a reação de Agni. Ela começa a corrigi-lo e revisa cada espaço do acampamento procurando algo. Quando vê eu e Valérie, acena nos chamando com a mão agitada.

- Vamos - Valen me puxa para ao lado de Agni e Jarlon. Eles abrem espaço suficiente a ponto de caber nós duas.

- Estávamos conversando sobre sua bravura está tarde - anuncia Dante pressionando a palavra "sua".

- Porque está sendo tão formal, Dante? - pergunto com um meio sorriso - Foi você quem fez a maior parte do trabalho.

Agni acerta meu braço com seu cotovelo, e me repreende com seu típico olhar sombrio.

- Bom - Dante para em frente a ela - Pelo menos alguém reconhece meu esforço. Eu fiz mais que aquele guardião.

Ele aponta para Bran, que está com os olhos semicerrados.

- Eu não podia fazer muito - ele se defende, com um tom áspero e sério - estava ocupado protegendo a caverna.

- Posso dizer que somente eu e Meire fizemos o mais importante - Dante interrompe Bran, faz um espaço se abrir entre eu e Agni, e se senta. - Aplausos para nós!

Os aprendizes se entreolham, mas ainda assim aplaudem. Todos conversam mais sobre o invasor e deixo a história ser contada por Dante, mesmo com Agni o interrompendo diversas vezes em busca de corrigi-lo.

Ronan fixa por um momento sua visão até mim, minha pele bronzeada, meus cabelos castanhos e o modo estranho como evito as palavras entaladas na minha garganta. Permaneço no silêncio ignorando além dele, Bran.

Os dois estão distantes tanto de mim quanto da conversa. Talvez o que aconteceu os tenha incomodado, ouvir Colin me chamar de mestra e ver-me socar a mandíbula dele foi estranho e sem motivo. Eles sabem que pretendo esconder algo. Só espero que nossa distância continue o mais longe possível.

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