Capítulo 9

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Não levo muita coisa comigo para Fouler. Carrego em uma mochila apenas adagas e espadas, mas preciso deixar tudo no navio. Apenas Nimeria leva consigo adagas escondidas em sua cintura. O Guardião Supremo separou os trajes para vestirmos, pois segundo ele, só de nos ver elegantemente, os gigantes podem evitar serem agressivos. Estamos todos com trajes claros declarando paz.

Percorremos boa parte de Fouler. Atravessamos muitos lagos e árvores até uma montanha onde encontramos a cabana antes usada pelos guardiões na última vinda até aqui. Ela está intacta, como se os gigantes nunca tivessem passado por ela. O que faria sentido levando em conta o local isolado onde ela se localiza. Grigor e Winn recolhem mais armas da cabana e escondem pela roupa.
Eu continuo de mãos vazias até a noite cair.

Descemos a montanha a caminho do palácio dos gigantes, um local enorme e espaçoso. Cabe milhares de pessoas lá, mas com a altura e estatura dos gigantes, não deve caber muitos deles.

Nos escondemos em uma trilha de árvores e revisamos o plano. Nimeria explica alguns detalhes a mais e finalmente vamos adiante. Em frente ao palácio, há dois gigantes fazendo o papel de guardas. Eles se abaixam quando nos avistam para que possam nos ouvir melhor.

- Gostaríamos de ver Grenke - Grigor anuncia usando um tom alto.

Os gigantes se entreolham e abrem caminho. Antes de chegar ao palácio, atravessamos um belo jardim de flores enormes, e ao entrar, vemos o líder dos gigantes sentado em um trono feito com madeira e folhas verdes.

- Onde está nosso companheiro, Grenke? - Pergunta Nimeria.

O gigante não responde. Apenas com um gesto, ouvimos a voz de Hades no fundo de um corredor. É arrepiante o modo como ele acabou de gritar. Um grito de dor.

- Prendam-os! - Grenke rosna.

Os gigantes à volta caminham até nós, e enquanto os guardiões se colocam em posição de luta pegando suas armas, eu, como uma aprendiz desarmada, me encolho entre eles. Quase peço uma adaga para Nimeria, ela está cheia. Mas penso rápido e corro entre os pés dos gigantes despistando-os.

Um som pesado chega até meus ouvidos, e tento ignorar um gigante correndo atrás de mim. Entro em uma sala enorme, mas por puro azar, não há nada além do piso, e do teto. Vou mais para trás capaz de ver quem me seguia entrar também. Grenke vem em passos lentos até onde estou.

- Pensei que os gigantes fossem mais gentis! - grito tentando ignorar a adrenalina em meu corpo, e sem forçar um tom normal. Faço questão de cada palavra sair com meu sotaque de guerreira, aquele que tento esconder quando estou em Pralia.

- Você pensou errado. - Grenke afirma, a cada instante mais próximo de mim.

- Não, não pensei. - grito com ainda mais força - Meus pais diziam que vocês eram muito formidáveis!

Grenke para por um momento. Ele parece repassar minha frase em mente, e tenta compreendê-la.

- Quem são seus pais? - pergunta com os olhos semicerrados.

- Os únicos guerreiros que os gigantes respeitavam. - Tento recuperar meu fôlego - Akian, e Naomi!

O gigante parece estar surpreso demais, desconfiado demais.

- Eles nos abandonaram á um bom tempo.

- Não pense dessa forma - digo, erguendo minha cabeça - Se estivessem vivos, meus pais continuariam lutando ao lado dos gigantes!

Grenke recua por um momento. Ele tenta ter certeza se estou mentindo, mas de tanto correr, acabo desabando no chão com os joelhos dobrados.

Pela reação de Grenke, tenho certeza que os gigantes não sabiam o estado atual de meus pais. Após se tornar o líder dos guerreiros, meu tio fez o possível para tornar essa informação secreta.

- Você não é uma guerreira - diz Grenke pensativo - porque eu deveria acreditar que é filha deles?

- Uma pessoa má começou a liderar os guerreiros - explico - Tudo o que pude fazer foi mudar meu sonho de ser guerreira para uma guardiã.

- Como se chama? - Grenke pergunta ainda parecendo confuso.

- Meire - respondo ofegante - Meire Denson.

- Deixarei seus companheiros irem por honra a seus pais, Meire - conta o gigante.

- Mas antes, me diga, como Naomi e Akian foram mortos?

- Eles morreram em meio uma guerra - digo com a voz vacilando - Aconteceu na cidade de Rabaak. Uma luta contra os magos.

- Peço desculpas pela minha indelicadeza - Grenke diz se curvando - E sinto muito pelo falecimento de dois grandes guerreiros. Sempre serei grato a eles.

Acompanho o gigante até onde continua a briga. Os guardiões parecem bem feridos, e não falta muito para os gigantes acabarem de vez com eles.

- Já chega! - a voz de Grenke ecoa pelas enormes paredes causando o arrepio de meus ouvidos. Os gigantes param de se mover ao ouvir a voz do líder. Eles se afastam dos guardiões tão rápido quanto a luz. Me aproximo com Grenke dos guardiões, e agradeço por não estarem pertos da morte. - Já pedi desculpas por minha precipitação.

- Pediu? - murmura Grigor em tom alto - Não me lembro!

- Sim, ele pediu - confirmo, pretendendo evitar uma possível discussão.

- Tragam o guardião aprisionado! - com a ordem de Grenke, um gigante surge pelo corredor trazendo Hades. Uma corrente enorme prende as mãos do guardião, e segurando na ponta dela, está o gigante. Ele a solta com o movimento de permissão de Grenke. Hades está finalmente livre, e acredito que os ferimentos pelo corpo dele seja da luta passada, pois estão ressecados.

Os guardiões se juntam e sem direcionar nenhuma palavra a Grenke, saem. Já conseguiram seu objetivo. Viemos apenas resgatar Hades, se eles forem falar algo com o gigante, certamente seria ofensas. Então preferem sair sem ao menos encará-lo.

Agradeço Grenke em tom baixo e acompanho os guardiões. Grigor está apoiado em Winn e Hades. Nimeria consegue caminhar sozinha, mas tem a ajuda de Nasrin, a guardiã que parece meio zonza. Todos permanecem em silêncio até entrar no navio.

- O que você disse a ele? - pergunta Niméria. Consigo sentir gotas de desconfiança em sua voz.

- O necessário para acabar com a discussão - respondo rápidamente.

- Para você, o que seria o necessário? - questiona Winn.

- Grenke tinha um pouco de consideração pela minha família - conto tentando não entrar em detalhes, e mesmo sem dizer, eles devem imaginar ser sobre a suposta família que cuidou de mim desde quando nasci, minha suposta família adotiva. - apenas disse a ele quem eu era.

- E quem você é? - pergunta Grigor também estranhando a situação.

- Vocês sabem - minto, mas feliz que essa resposta tenha os calado. Feliz porque espero não precisar dar mais explicações.

Para eles, eu sou Meire Denson, uma órfã criada pela família de um falecido guardião, e espero ser sempre considerada assim.

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