A Nova Guardiã

Capítulo 17

Caminhei apressada a cada segundo me perguntando onde Grigor assumiria sua punição, só espero que ele ainda esteja na ilha pelo menos.

Vejo dois guardiões protegendo a Câmara e me aproximo deles.

— Gostaria de falar com o Guardião Supremo. — Anuncio um pouco ofegante.

— Nome. — exige um deles.

— Meire Denson.

Os dois se entreolha e acenam abrindo caminho.

Passo por eles e percorro o corredor até a sala de reuniões, o local onde o Guardião Supremo deve estar. Bato três vezes na porta mesmo ela já estando aberta. O Guardião, que estava atento lendo um livro, eleva o olhar, fecha o livro e retira seus óculos.

— Entre Meire — Ele pronúncia meu nome de modo afetuoso —  Gostaria de ter uma conversa com você há um bom tempo.

— Sobre o que o senhor deseja conversar, Guardião? — Pergunto ao me sentar na poltrona á sua frente.

— Sobre Grigor — Ele anuncia — Não é sobre ele que você veio falar?

— Sim, Guardião. — confirmei.

— Grigor lhe considera alguém muito importante, Meire — Ele disse — Eu soube que você foi com ele interrogar o invasor após me informar mais com os guardiões que vigiavam a prisão. Eles me contaram tudo o que viram. Mas quando fui confirmar com Grigor, ele me disse totalmente o contrário. Ele não mencionou você na história, ao invés disso, assumiu a culpa por tudo.

— Sinto muito, Guardião — Sussurro cabisbaixa.

— Você parece ser uma boa pessoa, Meire. Acho que Grigor é tão importante para você como você é para ele. Então, para livrar Grigor de uma terrível punição, me conte o que aconteceu de fato lá.

Respiro fundo tentando controlar minha respiração. O Guardião mantém uma expressão tranquila, como se compreende-se pelo o que estou passando. Não posso contar a ele sobre minha história, sobre já ter conhecido Colin ou sobre ser uma guerreira de sangue. Não posso contar nada sobre mim, nem o motivo de eu ter interrogado o invasor.

— Sinto muito, Guardião — repito — Não posso lhe contar muito...

— Eu sei muitas coisas sobre você, Denson, mas do que você imagina. — Ele diz firme — Se o intruso tiver haver com seu passado, com sua verdadeira família, você pode me contar.

Me sinto de alguma forma mal. Me pergunto se ele sabe que eu sou uma guerreira. Talvez contar pelo menos o que aconteceu possa me trazer alivio, não posso deixar Grigor ser punido. Mesmo depois de saber apenas a metade da minha verdade, ele preferiu me proteger.

— Colin... quero dizer, o intruso, parece saber coisas importantes sobre a minha família.

— Então você pediu ajuda para Grigor e assim poderia saber o que o intruso escondia. — o Guardião conclui — Você obteve respostas?

— Sim. Mas não sei se posso acreditar nele.

— Você não deveria. Se existe alguém mais confiável que possa lhe contar a verdade, o certo é procurar por essa pessoa.

— Somente uma pessoa tem as respostas que eu quero. Mas talvez não me conte a verdade. Não tenho certeza.

— Então espere, Meire. — ele me aconselha — Aguarde o tempo certo, quando for o momento, você saberá tudo o que precisa.

— Obrigada pelas palavras, Guardião. — agradeço em um  suspiro. — Mas Grigor não foi culpado pelo o que aconteceu. Eu fui. Se alguém merece ser punida sou eu e não ele.

— Não se preocupe com isso. Vá descansar e amanhã você poderá esclarecer tudo com Grigor.

— Qual será minha punição?

— Nenhuma.

— E a de Grigor?

— Meire, todos as vezes cometemos erros. Não considero o seu erro e o de Grigor algo grave. Apenas aprenda a na próxima vez, conversar comigo antes de ser impulsivos.

— Mas disseram que Grigor havia sido punido, não é verdade?

— Não. Boatos assim costumam se espalhar pela ilha. Nao acredite em todos.

— Mas o invasor não morreu? Isso é algo grave.

— Por sorte, ele não teve esse fim. — o Guardião conta com uma expressão um pouco entediada. — Agora não me faça mais perguntas, há coisas que eu não posso contar.

Suspiro aliviada sentindo a tensão de antes desaparecer. O Guardião Supremo me serve uma xícara de chá e conversamos um pouco mais. Ele demonstra ser muito compreensivo comigo, não me faz nenhuma outra pergunta sobre minha verdadeira família, nem sobre meu passado. Ele me disse que Grigor estaria colocando os pensamentos em ordem em algum lugar da ilha, e o único local que passou por minha mente foi o campo de flores.

Caminhei até lá apos me despedir do Guardiã Supremo. Foi uma subida longa e cansativa, mas me alivei ao avistar Grigor sentado no chão a frente de belas flores. Eu sentei ao seu lado.

— Me desculpa — foi tudo o que conseguir dizer. — Mais uma vez te coloquei no meio dos meus problemas.

— Você não precisa se culpar por isso.— ele afirmou, sua voz estava calma.

— Sim, eu preciso. Eu fui a causadora disso tudo. — Disse cabisbaixa.

— Quer me recompensa? Então me conte um pouco mais sobre você. Quero saber a verdadeira história de Meire Denson.

Respirei fundo, mas ja estava decidida a contar-lhe tudo.

— Eu venho de uma família de guerreiros. — Contei, sentindo-me aliviada por compartilhar isso com alguém — eu vivia entre eles até a morte de meus pais. Pessoas a qual meus pais confiavam me tirou de lá assim que souberam do ocorrido, pois suspeitavam que meu tio havia os matado, e seria ele a liderar os guerreiros desde então. Então me trouxesseram para cá.

Grigor assentiu, absorvendo e refletindo o que acabará de ouvir. Seus olhos pretos brilhantes voltaram-se até mim, transmitindo um ar de questionamento.

— Quem é seu irmão? — Ele perguntou — O intruso mencionou ele, e tenho minhas dúvidas de quem seja.

Eu respirei fundo. Nunca havia contado a ninguém sobre meu irmão, nem mesmo a Valérie. Talvez eu sentisse a obrigação de escondê-lo para protegê-lo de meu tio, mas eu devia explicações a Grigor. Não podia deixar ele com essa dúvida, não depois de todas as coisas que ele fez por mim.

— Bran — eu, pela primeira vez, pronunciei seu nome recordando-me dele como irmão. — Bran é meu irmão mais velho.

Grigor piscou diversas vezes processando. Ele tentou dizer algo, mas as palavras não sairam, então ainda com a expressão de espanto, ele abaixou o olhar, mas me encarou novamente quando escutou um choro. Minhas lágrimas caiam delicadamente pelo meu rosto, Grigor colocou suas mãos ao meu redor, me envolvendo em um abraço reconfortante.