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Seu pai havia falecido.

Era uma manhã de domingo nublada quando Pedri recebeu a notícia via telefone por sua tia. O rapaz estava prestes a tomar seu café da manhã, mas agora estava parado, sem reação, encarando um ponto aleatório fixamente em sua frente e tentando descobrir o que sentia.

Não sentia dor.

Não sentia tristeza.

Não sentia como se seu mundo fosse acabar.

Mas também não sentia felicidade, alegria ou qualquer tipo de sentimento positivo.

Só... não sentia nada.

Nunca teve uma boa relação com o González mais velho. Sempre tinha sido ele e sua mãe, até a mesma falecer. Mesmo sendo uma criança entrando na pré-adolescência, se lembra perfeitamente como se sentiu quando sua mãe morreu.

Parecia que o ar ia sair de seus pulmões e ele nunca mais ia conseguir viver. Perdeu a cor em seus dias e sua vida ficou um lixo. Tentava, todos os dias, descobrir o novo rumo que iria tomar, mas era impossível se nem mesmo dormir direito ele conseguia.

No caso de seu pai, nenhum sentimento lhe atingia tão forte. Pedri passou muitos dias de sua vida cuidando de alguém que lhe renegava, ofendia e humilhava de todos os nomes ruins possíveis, como se ele fosse um pedaço de lixo. Ele até começou a cogitar tais coisas.

E somente pirou quando o mais velho descobriu sobre seu relacionamento com Gavi. Comentários homofóbicos não faltavam e isso foi o ponto final para o mais novo parar de ir visitá-lo, passando a morar em sua casa que a cada dia ficava mais com sua cara.

Ele tinha ido embora brigado com o próprio filho.

Talvez Pedri sentisse um pouco de mágoa. Mágoa por nunca ter tido um pai presente. Um pai que lhe ensinava a jogar futebol ou como conquistar alguém. Um pai que lhe dava conselhos e lhe ensinava a ser um bom homem. Um pai com princípios para passar de geração.

Mas o que lhe deixava melhor era saber que ele não era assim, e nunca seria. Seus futuros filhos nunca saberiam o que é ser excluído e se sentir mal por ser apenas si mesmos. Pedri era melhor, como nunca sonhou que poderia ser até se redescobrir.

Se fosse seis meses atrás, antes de conhecer seu garoto Pablo, poderia jurar que esse sentimento ia ser pior. Ele literalmente iria sentir que estava sozinho no mundo. Sem sua mãe e sem seu pai. Quer dizer, ele nunca teve um pai. Mas, isso se concretizou por completo.

Mas ele tinha Gavi.

Tinha a família de Gavi, que agora também era sua família e tratavam ele com todo amor do mundo. Se reaproximou de sua tia e sua prima, sabia que elas cuidariam dele para sempre. Tinha seus amigos que, a cada dia que passava, mais fortes estavam na amizade.

Enfim, não estava só.

Alívio. Ele também sentia alívio. Alívio de não ter que pisar em pedras em questões familiar. Em ter que cuidar de alguém que nunca fez questão de si, em doar tudo que tinha e não receber nada em troca. Em, finalmente, seguir sua vida sem carregar peso em suas costas.

Seria mentira se dissesse que estava sendo fácil. Não era. Mas, tudo que aconteceu, foi plantado. Não importa quantos anos demore, o carma retorna com todo peso necessário. Apesar de tudo, só poderia desejar que seu pai, para qualquer lugar fosse, fosse em paz.

Assim como ele também ficaria.

Gavi apenas encostou sua cabeça no ombro do namorado, confortando o mais velho com o seu toque, sem dizer nenhuma palavra abertamente. Apesar de perceber que ele não estava chateado ou sequer chorando, sentia que ele estava quieto. O que era normal.

O enterro tinha acontecido há algumas horas. Não foram muitas pessoas. O González mais velho não tinha ninguém que simpatizasse consigo. Quem estava presente era para dar forças e pêsames à Pedri. O moreno só conseguiu agradecer, sem sorrisos, à presença.

Tinha sido um velório simples. Foi tudo muito rápido devido às condições de seu pai e ele nem fez questão de se despedir, apenas observou a terra cobrir o caixão fechado e a lápide ser instalada. Pelo menos, ele tinha seguro-velório. Acho que ele sabia que ia morrer. Um viciado prevenido.

Pedri se aconchegou em Gavi, recebendo um carinho gostoso e acolhedor. Seu coração, naquele momento, se encheu de amor. Esse sim era um sentimento gostoso de se sentir. Pablo beijou seu ombro, entrelaçando seus dedos sutilmente e brincando com a aliança da mão do mais velho.

- Obrigado. - González murmurou, levantando um pouco do rosto e encarando o namorado.

- Pelo quê, amor?

- Por estar comigo, sempre. Eu não sabia que teria esse tipo de apoio nunca, independente da situação. - suspirou, segurando no rosto do mais novo e fazendo um carinho com seu polegar, apreciando cada detalhe de seu garoto. Ele amava todas suas expressões. - Eu sei que isso é meio clichê, mas você é tipo meu porto-seguro, sabe?

- Você é clichê, gatinho. - murmurou e soltaram uma risada. Mas eles amavam ser clichês. Gavi encostou suas testas, deixando um selinho em seus lábios.

- Quando eu... sabe... recebi a notícia, não senti nada. Eu só pensava que eu teria você, sua família, o que construímos. Que eu não estaria sozinho, como me senti quando minha mãe faleceu. Não sei direito ainda o sentimento de tudo isso, mas eu amo o fato de ter você comigo. - desabafou um pouco, afastado sua mão do rosto do menor. - Então, obrigado. Obrigado por não ter desistido de mim.

- Nem se você quisesse. Eu sou doidinho por você, faço tudo pra te ver bem e para que você se sinta seguro. - Pablo abraçou seu namorado como se fosse um neném, trazendo seu corpo para si. Ele sentia que Pedri estava sensível. - Eu te amo e vou cuidar de você, meu amor.

- Eu te amo, baixinho.

Pedri naquela noite chorou.

Não pela morte, mas sim pela vida.

Pela sua nova vida, pela vida de Gavi e pela vida que estavam construindo juntos.

Ele literalmente tinha renascido. Carregava bastante história consigo, mas não podia se sentir melhor ao ser consolado e cuidado por seu garoto. Gavi passou a noite acordado, fazendo carinho nele e dizendo palavras positivas.

Depois de muita lágrima, Pedri adormeceu agarrado em Pablo. O mais novo sorriu, um tanto quanto apaixonado e carinhoso. Ele também não estava sentindo em relação ao "sogro". Chegava até seu meio bizarro que ele chegou a conhecê-lo morto. Nunca tinha visto antes.

Mas agora ele sabia que tinha uma missão na terra e estava em seus braços, encolhido em si. Até parecia que González era menor, mesmo que naquele momento se sentisse, mas Gavi iria cuidar do seu amor, nem que fosse a última coisa à se fazer.

Na alegria e na tristeza.

Não era um casamento. Ainda não, mas um dia com certeza, afinal, a história dos dois estava apenas começando e, a cada dia que se passava, mais a relação se firmava, com muita maturidade e companheirismo.

Gavi era de Pedri.

Pedri era de Gavi.

Oii, lindos! Tudo bem?

Um capítulo meio bad (nem tanto, rs). Mas precisávamos desse desfecho, né? 🫡

Estamos na reta final! Faltam só mais dois capítulos 😢, mas prometo que serão capítulos beeeeem felizes, tá? 😉

Beijinhos 🤍

Te Quiero - GadriOnde histórias criam vida. Descubra agora