Te Quiero - Gadri

03

Duas semanas passaram desde a interação dos rapazes na biblioteca. Quer dizer, Gavi tentava puxar algum tipo de assunto com o acastanhado uma vez ou outra, mas era ignorado ou respondido com nada demais. Uma pessoa normal estaria cansada de tentar e deixaria para trás todo esse lance, mas Pablo não conseguia entender o motivo do mais velho agir daquela maneira e ser tão fechado, não só para Martín, mas para todos em sua volta.

As provas também começaram a se aproximar e os treinos não paravam. Gavi estava ficando doido. E, para completar, ainda tinha Melissa, que não deixava o mais novo em paz, em nenhum segundo. Ele estava esgotado e prestes a dar um fim naquele relacionamento que só existia na cabeça da garota. Páez soltou um ofego e apoiou as mãos em seus joelhos, respirando de maneira ofegante. Estava dando o máximo de si no treino, mas não conseguiu alcançar o seu auge, como sempre fazia.

- Gavira! - o treinador aproximou-se, apoiando a mão nos ombros do rapaz, fazendo-o levantar o olhar e para Marcus. Passou a língua entre os lábios, recuperando o ar e tirando os cabelos molhados de suor do rosto. - Você é ótimo. Aliás, o melhor daqui. Mas sua cabeça está nas nuvens, rapaz. O que está acontecendo?

- São as provas e treinos… - Gavi murmurou, quase desabafando e recebeu um sorriso reconfortante do treinador.

- Entendo, ser adolescente é difícil mesmo. Porém, enquanto estivermos em campo, precisamos de atenção total. É isso que você quer para seu futuro, não é? - recebeu um aceno suave do mais novo. - Então, preciso da sua mente cem por cento aqui. O treino acabou mais cedo para você hoje. Vá descansar e volte segunda-feira com a energia toda, combinado?

- Sim, treinador. Obrigado. - Marcus deixou um tapinha leve em seu ombro, o que o fez caminhar em direção ao vestiário. Sentou-se em um dos bancos, passando a mão no rosto e querendo não pensar em nada. Não era o fim do mundo e ele sequer se importava, mas mesmo que fosse um relacionamento bosta, era difícil a decisão de terminar.

- O astro do time está com a cabeça na lua? - Gavi levantou o olhar ao escutar uma voz pouco ouvida, mas que lhe causava bastante coisas.

- O que você está fazendo aqui?

- Não posso falar com você?

- Tentei falar com você a semana inteira e agora, num momento merda, você vem querer falar comigo? - Pablo revirou os olhos, deixando aquela inquietação para o lado e apoiando a cabeça na parede atrás de si. - Volta outra hora, Pedri.

- Não sabia que você poderia ser tão… ranzinza.

- Tem certeza que o ranzinza sou eu? Ficaria louco se conversasse com você mesmo. Isso se você respondesse… - o mais novo murmurou, continuando de olhos fechados e sentiu-o Pedri sentando ao seu lado. Tentou não respirar tão fundo e parecer idiota, mas de olhos escuros era cheiroso.

- Certo, você tem um ponto. Mas, vamos lá, você é animado às sete da manhã de uma segunda-feira. Quem é assim?

- Tenho que tomar cuidado para não ser preso por ser feliz demais. Desculpa, Pedri. - levantou as mãos em sinal de rendição e o mais velho apenas revirou os olhos, com um sorriso leve nos lábios. - Mas o que você quer falar comigo?

- Eu, hum… Preciso da sua ajuda. - González disse quase inaudível, mas Gavi escutou. Esboçou um sorriso de lado, abrindo os olhos e encarando de lado o rapaz que estava com a cabeça baixa. Parecia difícil aquilo para ele.

- Não escutei. Pode repetir?

- Eu preciso da sua ajuda. - disse da mesma forma baixa, mas dava para ouvir. Gavi estava se divertindo naquele momento.

- Eu não escut…

- Qual foi, Gavi? Você escutou sim, não se faça de bobo. - suspirou, olhando para suas mãos. - Eu fiz um teste que a escola passou para todos que foram transferidos e eu fiquei abaixo da média em três matérias. Se eu continuar com essas fotos nas provas que irão para meu registro, não vou conseguir ter uma boa chance conseguir ir para a universidade e, consequentemente, sair dessa cidade.

- Sair da cidade? O que te faz querer sair tanto daqui?

- Bom, isso já não é da sua conta.

- Grosso! - Gavi colocou a mão no peito, fazendo um sinal de drama.

- E você não sabe o quanto… - Pedri murmurou e segurou uma risada ao ver o rosto corado do mais novo. Balançou a cabeça, umedecendo os lábios. - Então, você pode me ajudar? São só três matérias e, no final, você pode pedir o que quiser.

- Vale tudo?

- Eu não vou roubar, matar, esfaquear, sequestrar e ficar nu em lugares públicos. De resto, acho que posso pensar.

- E em lugares particulares? Tipo, essa escola… - Gavi murmurou, recebendo um olhar do mais velho e caiu na gargalhada. - Estou brincando. Tudo bem, Pedri. Como sou uma boa pessoa, vou te ajudar.

- É agora que eu peço obrigado?

- Deixa para quando suas notas melhorarem e você começar a evoluir. - piscou na direção do mais velho, se levantando. - Começamos a estudar na segunda-feira, após meu treino. Pode ser na sua casa?

- Não! - respondeu afoito e Gavi fez uma careta. Pedri tentou se explicar. - Na minha casa é complicado, minha mãe fica trabalhando e não teremos silêncio.

- Tranquilo. Então, pode ser na minha. Me espera acabar na segunda-feira e vamos juntos, tá bom?

Pedri apenas assentiu e Gavi lhe deu um sorriso, tirando sua camisa de time que estava cheia de suor. González não pode se segurar e observou rapidamente o torso nu do mais novo, vendo algumas gotículas de suor descendo até sua v-line. Sua boca secou instantaneamente e seu estômago deu uma repuxada. Para o bem do mais velho, Pablo sequer percebeu. No mesmo segundo que Pedri subiu o olhar, Gavi o olhou.

- Então, é… nos vemos na segunda-feira!

- ¡Adiós! - o mais novo acenou e estava prestes a começar a tirar seu shorts. Pedri saiu o mais rápido possível dali, antes que alguma coisa acontecesse. Não entre os dois, era impossível. Mas com ele mesmo. Chegava a ser engraçado o modo em que ambos ficavam com vergonha em momentos diferentes, afinal, González estava com as bochechas vermelhas e o corpo quente. O jogo virou, não é mesmo?

Assim que o outro saiu apressado, Gavi deu um sorriso involuntário. Finalmente, o mais velho tinha vindo até si. Tudo bem que ele estava atrás de ajuda, mas isso não exclui o fato que ele poderia procurar qualquer outra pessoa. Páez entrou na ducha, parecendo que estava com febre e precisava curar o mais rápido possível. Esse era o efeito que Pedri González, mesmo sem saber ainda os motivos, causava em Gavi.

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Até a próxima 🤍