Te Quiero - Gadri

19

- Te achei! - a voz do mais novo atingiu seus ouvidos e o outro até poderia sorrir, mas claramente não estava no clima e não ia acontecer nada maneiro naquela manhã. Mordeu o lábio de modo nervoso e passou a mão em seu rosto, tentando ao máximo evitar contato visual com Gavi. Estava parecendo que um pedaço de caco de vidro estava machucando seu coração. - Ei, o que aconteceu? Você está bem?

- Tudo bem, eu só não dormi direito essa noite. - na real, depois de acordar na madrugada, ele não tinha pego mais no sono devido todas as circunstâncias.

- Eu te mandei um monte de mensagens... - Pablo percebeu que não estava tudo bem, mas queria entender o que tinha acontecido. Talvez, ele até poderia ajudar, da sua maneira e como sempre fazia. Tentou se aproximar do maior, mas Pedri recuou e Gavi franziu o cenho, mas respeitou o espalho alheio.

- Eu vi.

- E por quê não me respondeu? Fiquei preocu... - Gavi murmurou atento ao rosto do outro e foi bruscamente cortado, antes mesmo de terminar. Arregalou um pouco os olhos com a resposta.

- Por que eu não sou obrigado a sempre te responder, Gavi. Nem namoramos, não sei por que está me cobrando tanto. - Pedri respondeu grosso e sem via de mão dupla, fazendo o outro recuar um pouco mais, o que fez o mais velho automaticamente se sentir culpado. Além da primeira vez que eles tiveram, meses atrás, González nunca mais tinha sido grosseiro com o Pablo.

- Oh, ok... Sim, certo, você tem razão. - Gavi até tinha ficado até sem graça e sem saber o que responder. Olhou para baixo, se sentindo minúsculo e constrangido em frente ao maior. Um corte maior que esse só dá Tramontina. Não poderia evitar também de sentir um pouco de vontade de chorar. Ele odiava quem era grosso com ele, mesmo sendo nervosinho e estressado, na maioria das vezes, sempre tratava os outros bem. - Só queria saber se você está bem mesmo.

Mas aquilo realmente o tinha machucado.

- Estou. - é óbvio que ele não estava sendo grosso por querer, mas sim era um caminho mais "fácil" de fazer aquilo ou ele achava. O plano de Pedri era parecer babaca ao dobro, assim Gavi sofreria menos. Colocou as mãos no seu bolso da calça, levantando o olhar ao mais novo. Ele queria abraçar, sentir seu cheiro e beijá-lo, mas não podia  - Chamei você para conversarmos.

- Pode dizer. - Gavi encolheu os ombros, sem emoção nenhuma mais impressa em seu rosto. Ele já não sorria mais, como sempre fazia quando estava acompanhado do maior e estava se sentindo meio merda naquela situação ridícula.

- Bom, não vou enrolar. Nem precisava fazer isso, mas acho melhor pararmos de... termos isso que estamos tendo. - murmurou tudo de uma vez e Pablo levantou o olhar, encarando o mais velho e procurando algum tipo de brincadeira em seu rosto. Ao perceber que não estava com nenhuma graça, negou com a cabeça e escutou mais palavras de Pedri. - Não vamos mais ficar, nem se envolver. Na real, nunca quis realmente ficar com você.

- Pedri... o que você está dizendo? - Gavi só tinha um fio de voz. Seus olhos estavam brilhando, de lágrimas acumuladas. Mas ele estava se segurando ao máximo. - O que aconteceu? Fiz alguma coisa de errado? Me desculpa, eu só... nunca vivi isso. Estou descobrindo tudo agora, me descobrindo. Tudo com você.

- Para, para! Não fique se fazendo de coitado, por favor. Eu só não te quero mais. Pode aceitar isso? - colocou a mão na cintura, analisando o menor e se sentindo o mais trouxa possível. De estava doendo nele, sabia que também estava doendo no menor. Só pelo seu olhar.

- Não, não posso. Eu não sou um brinquedo pra você ficar me usando e depois "não me querer mais". Você é um babaca, sem noção e está me fazendo passar por isso. - estava quase gritando, mas se conteve. Mesmo que estivessem num canto escondido dentro da escola, não queria despertar interesse de ninguém. - Eu nunca esperaria nada parecido vindo de você...

E ali, Pedri concluiu que estava sendo a coisa mais difícil da sua vida, depois da morte de sua mãe. Ver o menino tão vulnerável na sua frente e ainda mais por ter sido ele que causou, estava o quebrando por dentro. Mas ele estava se mantendo sério, com a sua pose de quem não se importava nada. Era melhor assim. Se fosse ao contrário, ele iria desmontar e estranhar tudo, deixando as coisas piores. Gavi passou a mão no rosto, sem sequer acreditar.

- Eu realmente não entendo. Estávamos bem, até ontem, algo deve ter acontecido. Mas não vou ficar me humilhando. - passou a mão em sua nuca, meio afoito e perdido. Aquilo tinha lhe atingido de uma maneira muito forte. Ele não esperava nunca aquilo. Estava sendo uma decepção sem fim. O problema não era terminar em si terminar, tudo bem. Doeria também, mas não tanto como ele estava o tratando, de uma maneira rude.

- Eu realmente não ligo. Você não me faz tão bem assim, quero ficar em paz.

Era mentira. Ele ligava, e muito. Queria pegar o seu baixinho, agarrar seu corpo e dizer que era tudo um mal entendido, mas não era. Gavi ficou alguns segundos abrindo e fechando a boca, sem reação e saber o dizer. A decepção não tinha vindo a cavalo e sim à jato, atingindo em cheio seu estômago. Nossa, foi um sentimento horrível.

- Você disse que não ia me deixar escapar nunca mais. E olha aqui, você sendo um babaca arrogante. Suas palavras não valeram nada? - Gavi estava uma mistura de sentimentos. Poderia até mesmo dar um soco na cara bonita de Pedri, mas nem machucado, era capaz.

- Acabou, Gavi.

González queria finalizar o mais rápido todo aquele sofrimento. Eles eram jovens imaturos com muita coisa em jogo - Pedri com as ameaças e Gavi com seu medo bobo de se libertar. O menor assentiu, se calando por alguns minutos. Estava tudo muito claro para ele e aquilo tinha sido a gota d'água.

- Eu odeio ter me apaixonado por você.

O menor sussurrou com a voz embargada e abriu sua mochila, jogando uma sacolinha no mais velho. Não disse mais nada, apenas o olhou a última vez - um olhar cheio de mágoas e dor -, caminhando o mais rápido possível para longe dali. Estava sufocado, nervoso e só queria sumir da face da terra.

Pedri queria gritar. Ele também estava apaixonado - e muito - pelo menor.

González fechou os olhos, sua garganta fechando em angústia. Sentou ali mesmo no chão, sentindo suas pernas fraquejarem. Apoiou a cabeça na parede atrás, querendo que alguém aparecesse e lhe desse uns bons socos na cara. Ele sequer tinha conseguido "terminar" de uma forma decente. Machucou Gavi mais do que deveria.

Abriu os olhos, respirando fundo. Ele não era de chorar, mas estava querendo desde quando tudo isso começou acontecer. Pegou a sacolinha que foi jogada em seu peito e abriu delicadamente, assim como ela era. Tinha um papel dobrado, um chocolate e uma pequena flor vermelha.

"Não é nada demais, mas você sempre cuida de mim.

Uma vez você me disse que amava esse chocolate e gostava de vermelho.

Então, mesmo sem saber o que está acontecendo, senti que deveria trazer esse presentinho para você.

Espero ter acertado!

- Gavi."

É, Pedri tinha perdido tudo. Tudo que construiu com o mais novo nesses meses tinha sido extremamente intenso. Gavi e ele tinha toda tabela periódica quando estavam juntos, não somente a química. E, além de tudo, ele sabia que aquilo não era mais um romance de colégio. Tinha que dar valor certo, cultivar e alimentar aquele amor que estava crescendo, dia após dia. Mas não conseguiu. O medo e a vontade de proteger ele, falaram mais alto. Não era culpa dele, de fato. Mas ele carregaria esse fardo, afinal, de qualquer forma, ele tinha machucado o menor.

Melissa tinha conseguido o que queria.

- Você foi meu maior presente, Gavi. - murmurou para si mesmo, tentando se consolar, mas não conseguiria. Nem queria imaginar como o outro estava, isso só pelo olhar de mágoa lançado quando saiu. Pedri queria se auto machucar, mas nada adiantaria. Então, só ficou ali, o dia todo, relembrando tudo que os fez chegar onde estão hoje.

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Dor e sofrimento, mores. 🥹 Pedri bem babaquinha, mas a situação toda é bem merda, né? Então, vamo xingar com carinho ❤️

Até amanhã!

Beijinhos 🤍