Prólogo

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     As ruas de Atlanta estavam vazias, mas cobertas por uma fina camada de chuva provocada por uma garoa que se abateu sobre a cidade no fim da tarde

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     As ruas de Atlanta estavam vazias, mas cobertas por uma fina camada de chuva provocada por uma garoa que se abateu sobre a cidade no fim da tarde.  

                  - Já estou indo, dona Dorothy. - avisei após verificar o relógio na parede. Já tinha passado das nove. 

                  - Vai ser estranho não te ver mais aqui. - comentou ela - Eu me acostumei a vê-la todo dia. 

     Sorri enquanto tirava o avental marrom que eu usava, deixando-o em cima do balcão. 

                - Também sentirei falta da senhora, mas eu prometo vir aqui para lhe ver, e até mesmo comprar alguns livros. 

                - Será bem vinda a qualquer hora. - disse, segurando a minha mão com um carinho tocável - Até, querida.

                - Até. - devolvi, deixando um beijo no dorso de sua mão. Em seguida me afastei, mas não antes de lhe oferecer um sorriso. 

     O som do sino soou quando abri a porta de madeira, e tocou novamente quando eu a fechei.

     Acenei uma última vez para a senhora, que retribuiu através do vidro da porta. 

     Me virei para a rua, e fechei os olhos, respirando o ar noturno. Era fim de outono em Atlanta, e o frio do inverno já estava dando as caras, mas felizmente, essa noite estava agradável. 

     Tinha passado a tarde na biblioteca da cidade onde trabalhava a três meses desde que me formei. Achei que seria bom fazer algo enquanto procurava por uma vaga como professora e, para a minha felicidade, eu havia conseguido uma em uma escola não muito longe de onde moro. Começaria amanhã. 

    Comecei o caminho que fazia todos os dias até o ponto de ônibus que ficava a alguns quarteirões da loja. Alexandre não gostava nada disso, deixará claro pra mim que poderia deixar homens a postos sempre que eu necessitasse de carona, mas não era isso que eu desejava. 

    Passei a metade da adolescência sendo monitorada desde que me mudei pro moto clube que meu irmão lidera. Por mais que aprecie o zelo dele, eu necessitava de um pouco de independência, seguir o meu próprio caminho. 

    Meus dias eram calmos. Acordava cedo, logo de manhãzinha, tomava o meu café da manhã, me deleitava com algum livro. A tarde, pegava um ônibus até o centro de Atlanta; Ao meio dia, rendia a funcionária da manhã na biblioteca e passava as horas seguintes atendendo clientes e organizando as prateleiras. Gostava daquilo. Era o meu momento de paz, diferente do clube onde sempre tinha algum problema. 

    No meu trabalho eu não me preocupava em estar em perigo. Eu não era inocente quanto aos negócios do meu irmão. Por mais que o Alexandre não me dissesse diretamente, as pessoas da cidade falavam, comentavam sobre a fama dos demônios. Criminosos. Gangsters. 

    Não me incomodava. Eu sabia que aqueles homens não eram tão ruins quanto diziam. Eu os conhecia bem. 

    De repente,- em meu caminho um barulho soou. Som de passos. Estanquei no lugar, olhei em volta, a rua estava deserta. As lâmpadas dos postes eram as únicas fontes de iluminação. Os comércios estavam fechados. 

     Respirei fundo, agarrando a alça da minha bolsa. Voltei a andar, faltava apenas uma rua pra chegar ao ponto. 

     Andei por alguns minutos, o único som que ouvia era dos meus próprios pés. 

    Ventos fortes começaram a surgir, balançado as árvores. Movendo as folhas caídas no chão de lugar. 

    Era só oque me faltava, uma tempestade. Por mais que gostasse de tempos nublados, eu odiava a chuva, porque geralmente ela não vinha sozinha. 

    Assim que virei a esquina, avistei um carro preto. Meu coração golpeou. O veículo apontava os faróis para mim, em meio a escuridão, como se quisesse me ameaçar. Não era coisa da minha cabeça, não podia ser. Minhas pernas tremeram. Firmei minha mão em volta da alça da bolsa em uma tentativa de esconder o nervosismo. Segui em frente. 

    A cada passo o ronco do motor aumentava, se aproximando, me perseguindo. O caminhar se tornou uma corrida antes que eu me desse conta. O ar gélido da noite apenas piorava o meu estado de nervosismo. 

             - Não, não, não... - murmurei entrando em desespero. Era claro para mim que eles iriam me abordar. 

    A luz do veículo me seguindo por onde corria. Entrei na primeira rua que vi. Passaria por uma viela ali, se tivesse sorte alcançaria a estrada. Já eram dez da noite, teria um grande fluxo de veículos nas ruas. 

    Com o coração aos pulos, comecei a atravessar o beco, ignorando as paredes onde continham pichações e sacos de lixo jogados. 

    Franzi o nariz pelo cheiro ruim que exalava dali. O lugar era muito escuro, sem nenhuma iluminação. Eu só sabia por onde andava porque as luzes dos postes do final do caminho dava um leve clarão. Mas de resto era um breu imenso. 

            - Que seja coisa da minha cabeça, por favor, que seja. - sopro, sentindo o pânico me dominar. Não enxergava mais nada além das luzes da saída. 

    Senti um peso deixar meus ombros quando me aproximei do fim da viela. A luz inundando a minha visão. Um carro surgiu, devagar. Corri em sua direção mas parei antes de alcançá-lo. Meu coração ameaçou parar. Era o mesmo carro de antes. 

    Antes que eu pudesse pensar em correr, um homem saiu de dentro, seus olhos fixos em mim. Mesmo com o corpo paralisado, me forcei a sair daquele transe e comecei a dar passos para trás. Um, dois, me virei para correr. 

    Tombei com outro homem, alto, aterrorizante. Antes que pudesse reagir ele segurou o meu braço, puxando me para ele. Enrolou a minha cintura num agarre forte e tapou a minha boca. 

             - Não tenta fazer nenhuma besteira, filhote de demônio. - rugiu no meu ouvido - Preciso te entregar viva mas não vou hesitar em atirar na sua cara caso tente escapar de mim. - pressionou o cano da arma na minha cabeça, pra dar ênfase. - Entendeu? 

    Assenti rapidamente sendo arrastada para trás do veículo. Solucei ao ver o outro homem abrir a mala. 

    Ele se aproximou de mim com um sorriso maldoso. Quando voltei a mim, desviei meu olhar para a sua jaqueta. Fui tomada por calafrios. 

    Eram eles. Os mesmos homens que estavam atacando o clube do meu irmão. Que mataram o Peter e sequestraram o Alexandre. Gárgulas. 

            - Não se preocupe. Ninguém vai te machucar. - disse, entregando um pano para o parceiro - Anda logo. 

     A mão pesada foi retirada da minha boca, mas logo foi substituída pelo pano, o cheiro forte me fez lagrimejar. Tossi, mas o som saiu abafado. 

     Foi então que uma moto parou bem ao lado do carro. Um homem desceu, só vi a sua silhueta. Tudo estava girando. Forcei os meus olhos a ficarem abertos ao ser posta dentro do porta malas. O vulto se aproximou mais, e mais, até que estivesse a centímetros de mim. Ele se curvou, deixando o rosto próximo do meu, por isso notei os seus olhos. Eram verdes, mas oque mais me intrigou era oque vi neles. Parecia que tinha algo ali, uma obscuridade bizarra que me deixou em um estado de desespero aterrador. 

            - Bons sonhos. - sua voz soou grossa. 

     Tentei me mexer, quem sabe reagir mas não consegui ter qualquer ação. Minhas pálpebras pesavam. Os três me olharam e fecharam o bagageiro. Tudo ficou escuro. Decidi que não havia como lutar. 

     Me deixei ser levada pela escuridão e pelo medo. 


Inevitável (MC ABISMO Livro 4)Onde histórias criam vida. Descubra agora