cap.11

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NARRADO  POR  SIMONE
  
Quando chegamos na delegacia, o velhote machista com hemorróida já estava lá fazendo tempestade em um copo vazio de água. Ele narrava o acontecido como se Soraya e eu fossemos monstros.
  Reconheço que não é nada certo o que fizemos, mas também não era para tanto. Nós íamos arcar com o prejuízo, porém ele já veio nos ofendendo.
Soraya ainda tentou argumentar para que o delegado nos deixasse ir embora. Ela disse de quem era filha e ofereceu uma boa quantia para que o velhote retirasse a queixa. O safado vendo que poderia ganhar bem mais com um processo na justiça, recusou a oferta.
Minha vontade era dizer poucas e boas na cara daqueles covardes , mas Soraya implorou para que eu ficasse de boca fechada.

__ As duas vão passar a noite aqui em uma de nossas luxuosas celas. __ disse o delegado debochando da nossa cara.

__ Temos o direito de fazer uma ligação cada uma. __ falou Soraya, olhando bem na cara dele.

__ Eu decido quando poderão fazer a ligação, mocinha. Agora, entrem na cela e fiquem de bico fechado. __ ele gritou.

O mesmo policial que me deu um tapa no rosto, agora estava nos levando por um corredor escuro. No corredor havia várias celas com algumas mulheres dentro , elas pareciam perigosas. Soraya estava muito assustada e começou a chorar.

__ Coloca a loirinha aqui , policial! __ falou uma mulher tatuada e cheia de cicatrizes. __ Eu vou dar um trato nela!

__ Chora na minha mão, loirinha! __ gritou outra.

__ Deixem minha mulher em paz! __ gritei perdendo a paciência. __ Ou eu vou mandar meu bando estourar os miolos de vocês!__ completei lançando meu olhar de intimidação.

Logo as gracinhas pararam e seguimos nosso caminho. Felizmente ficamos em uma cela bem afastada, que por sorte estava vazia.

__ Tem água no bebedouro e a comida será servida às 19:00. O banheiro não é dos melhores e também não tem papel higiênico. A cela só tem uma cama , então terão que dividir. __ disse o policial ao trancar a cela com nós duas dentro. __ Se precisarem de alguma coisa, é só chamar. Meu nome é Jonas , e eu estarei no final do corredor.

Não tinha papel higiênico, então nem podíamos pensar em fazer cocô, sem falar que o banheiro era imundo.
E o bebedouro? Que nojo! Não dava para sentir sede ali. E a cama? Era de cimento com um colchão fininho em cima , e não tinha cobertor. Pelo menos eu ia ficar agarradinha com Soraya.

__ O que deu em você para ficar falando que eu sou sua mulher?__ perguntou Soraya brava comigo.

__ Eu só estava tentando lhe defender, sua mal agradecida! __ rebati.

__ E ainda quer que eu agradeça? __ ela gritou na minha cara furiosa. __ Essa situação toda é culpa sua! Você provocou a briga no carro, causou a batida e correu atrás daquele velho idiota com uma vassoura!

__ A culpa não é minha! __ gritei de volta. __ A culpa é daquele caipira que quer comer você!

__ E se eu quiser que ele me coma?

__ Eu não vou deixar!

__ Eu não preciso da sua permissão, Simone. Nós não temos nada!

Como não tínhamos nada?

__ A gente se beijou , caralho! __ sacudi ela pelos ombros .

__ E você fingiu que nada aconteceu… __ e voltou a chorar.

O que ela queria que eu fizesse?

__ E o que eu deveria fazer? __ encarei-a. __ Que lhe pedisse em casamento?

𝐴𝑖𝑛𝑑𝑎 𝐸𝑠𝑡𝑜𝑢 𝑇𝑒 𝐸𝑠𝑝𝑒𝑟𝑎𝑛𝑑𝑜 Onde histórias criam vida. Descubra agora